Tudo começou há dois anos com uma ideia de Paulo Sérgio, produtor de batata-doce de Aljezur, "a melhor e a única certificada do País". "O objetivo era recriar um espaço onde os visitantes da Costa Vicentina pudessem comprar batata-doce, pastéis e outros derivados", explica Paulo Sérgio ao InAlgarve. Depois da ideia, veio a forma: a batata-doce deveria ser apresentada através da "comida caseira, de antigamente".

 

Aqui o difícil vai ser olhar para a ementa do restaurante sem querer provar um pouco de tudo. Comecemos pelo início: e se for um Bacalhau à Museu com Batata-Doce? Talvez um Polvo com Molho de Tomate com Batata-Doce? A ementa continua por aí fora comprometida a deixar qualquer um com água na boca: Salada de Polvo com Batata-Doce assada ou frita ou, uma especialidade, Feijoada de Batata-Doce que é sempre servida aos fins-de-semana ou durante a semana por encomenda.

 

Um dos propósitos do Museu é contrariar a sazonalidade da batata-doce, produzida durante os meses de verão e apanhada no outono, quando há em grande abundância. Por isso, "há sempre pratos de batata-doce o ano inteiro", garante Paulo Sérgio.

 

E como uma boa refeição merece sempre uma sobremesa, há um mundo ainda maior de iguarias todas feitos com batata-doce: travesseiros, a delícia criada a partir da receita antiga do pastel, queijadinhas, torta com recheio de gila, folhados ou pudim. E uma novidade: o pastel, feito com a massa folhada do pastel de nata, mas com recheio de batata-doce.

 

Pensa que acabou? Não, ainda há os bolos secos: bolo de batata-doce e alfarroba, broinhas, bolo de batata-doce com medronho, bolo de batata-doce e pinhão, bolo de batata-doce, coco e gila. E se for pela época do Natal, ainda encontra azevias de batata-doce. Pode comer no Museu ou passar pela loja e levar para casa.

 

Na ementa do Museu, também existem pratos que não têm este tubérculo, a pensar naqueles que não gostam deste ingrediente. Recentemente, foi inaugurado o forno a lenha, onde são feitas pizzas tradicionais, num estilo de menu mais juvenil. Além do restaurante e loja, o espaço tem ainda um jardim, ideal para festas, jantares alargados ou apenas para descontrair, enquanto decide a próxima iguaria a degustar. 

 


Na loja do Museu poderá encontrar produtos típicos de outras regiões do Algarve, confecionados com figo, alfarroba ou amêndoa, entre outros, para que todos os que fazem a Rota Vicentina conheçam os sabores de toda a região.


O outono marca a época de apanhar a batata doce no Algarve. Este tubérculo é originário da América do Sul, mas encontra no Algarve condições muito favoráveis ao seu desenvolvimento. O InAlgarve foi saber porque devemos consumir batata doce e as benefícios não podiam ser mais claros.

A batata doce contém uma boa dose de vitamina A, responsável por reforçar o sistema imunológico, contribui para a saúde dos olhos, pele e sistema respiratório, e ainda é uma poderosa aliada no combate ao cancro. É também rica em vitaminas do complexo B, responsáveis por regular o bom funcionamento do sistema nervoso, do coração e do aparelho digestivo, e contém triptofano, um percursor da serotonina que ajuda a melhorar o humor. A batata doce contém ainda vitamina C, importante na ação anti-alérgica e que é um estimulante imunitário, funcionando como antioxidante.

Além destas, a batata doce contém ainda outras propriedades nutritivas como cálcio, ferro, fósforo, sódio e potássio, que contribuem para a formação de ossos e dentes e auxiliam a regeneração sanguínea e a imunidade. Apesar do nome, batata doce ajuda a combater a obesidade, uma vez que tem um índice glicémio baixo, o que torna a absorção mais lenta e proporciona um elevado grau de saciedade, sendo ainda um ingrediente recomendado no combate à diabetes. Por ter também hidratos de carbono, a batata doce é um poderoso aliado para quem pratica desporto, contribuindo para ganhar massa muscular.

A batata doce ajuda ainda a combater a arteriosclerose, a controlar a hipertensão arterial e a regular a pressão arterial. Tem um potencial anti-inflamatório, ajuda a prevenir as úlceras do estômago e colabora num sistema digestivo regular.

Existem mais de 400 variedades de batata doce, as mais conhecidas são a branca, a amarela, a avermelhada e a roxa. Pode ser cozida, assada ou frita, mas esta é a opção menos saudável devido às gorduras associadas, e as suas folhas também podem ser consumidas.


Pode aprender já este domingo (dia 25) mais sobre a forma de cozinhar com Pedro Botelho, que faz uma demonstração no Mercado de Querença (Loulé). No final de novembro, a batata doce é o centro das atenções no festival realizado em Aljezur, uma das regiões mais propícias ao seu desenvolvimento.

O outono marca a época em que as alfarrobeiras começam a florir. O surgimento do fruto e a sua maturação só acontece dentro de alguns meses. Enquanto o processo se desenrola, o InAlgarve foi à procura de saber as propriedades nutritivas e os benefícios de consumir este fruto típico da costa mediterrânea e que tão bem se dá no Algarve.

A alfarroba é considerada um alimento saudável e com elevadas propriedades nutritivas. O fruto contém vitamina A, que contribui para o crescimento dos ossos e dentes, melhora a vitalidade da pele e da visão, vitamina B1, com vantagens no funcionamento do sistema nervoso, do raciocínio e da atividade mental, é benéfico para os músculos e coração, e ainda vitamina B2 que ajuda a extrair energia de gorduras.

A juntar a estas, a alfarroba tem outras qualidades nutritivas. Possui cálcio, magnésio, ferro e potássio, é rica em fibras solúveis e insolúveis naturais, que melhoram o desempenho dos intestinos e impedem a incidência de diarreias e úlceras, e em açucares naturais. A alfarroba não contém estimulantes, como a cafeína, nem glúten e apresenta baixo teor de lípidos.

As propriedades nutritivas somam-se num conjunto de benefícios extraordinário para a sua saúde. A alfarroba tem um potencial antioxidante muito elevado, ajuda a combater o colesterol, devido ao teor e qualidade das fibras, melhora os níveis de insulina e ajuda a controlar a glicémia e ainda é importante no controlo da proliferação de células cancerígenas, inibindo o crescimento de tumores.

Já foi um fiel companheiro e trabalhador, esteve à beira da extinção e agora ganha novo espaço nos holofotes mundiais. A longa vida do Cão de Água do Algarve tem tido altos e baixos, mas a raça conseguiu ultrapassar os obstáculos e manter-se sempre à tona.

Desconhece-se em concreto a origem do Cão d'Água Algarvio, mas pensa-se que fosse utilizado por pescadores da bacia do Mediterrâneo e que tenha chegado ao Algarve através de viagens marítimas. No Império Romano, já era conhecido como o 'cão leão', devido ao seu pêlo.  Em Portugal, aparece pela primeira vez no registo de um monge, em 1297. Séculos mais tarde, em 1828, a sua existência ficou patente na gravura que regista a chegada de D. Miguel a Belém, Lisboa.

O escritor Raúl Brandão dedica-lhe algumas linhas na obra 'Os Pescadores', em 1932, referindo a atividade piscatória em Olhão: "Tripulavam-no vinte e cinco homens e dois cães, que ganhavam tanto como os homens. Era uma raça de bichos peludos, atentos um a cada bordo e ao lado dos pescadores. Fugia o peixe ao alar da linha, saltava o cão ao mar e ia agarrá-lo ao meio da água, trazendo-o na boca para bordo".

O Cão de Água do Algarve era uma mais valia para os pescadores, ora levando e trazendo mensagens entre barcos, ora puxando redes rasgadas do mar ou cordas que seguravam os barcos em terra. A sua importância era tal que havia a tradição de não vender esta raça, mas antes ser dada num sinal claro que o seu valor era inestimável e não tinha preço.

O cão é conhecido pela sua inteligência excecional, lealdade e amizade ao dono, coragem e determinação exemplares e pela sua personalidade singular. É um exímio nadador e muito resistente à fadiga, usa uma linguagem diferente da habitual entre os cães, e costuma aprender com grande rapidez. Mas as suas reconhecidas qualidades nem sempre foram devidamente respeitadas.

Com o surgimento da maquinaria no início do século XX que também chegou ao setor das pescas, a histórica utilidade ao Cão de Água do Algarve foi diminuindo, o que contribuiu para a redução drástica da sua população. Vasco Bensaúde, empresário açoriano, interessou-se pelo animal e durante várias décadas manteve uma criação da raça, mas a sua morte, na década de 60, quase levou este cão à extinção. Foi Conchita Citrón, uma empresária peruana ligada à tauromaquia, que ficou com os exemplares. Em 1974 havia apenas 14 cães, o que levou o Guiness a atribuir o prémio de raça mais rara do mundo ao Cão de Água do Algarve. Pode ter sido um exagero, mas contribui para o reconhecimento desta raça.

E afinal pode ter sido o seu valor monetário a livrar este cão da extinção. Conchita iniciou o negócio de venda de animais para os Estados Unidos, estabelecendo-se aí uma colónia do Cão de Água do Algarve. Outros produtores resgataram a espécie e chegou mesmo a ser constituída a Associação para a Proteção do Cão de Água Português, como é conhecido fora de Portugal.

A espécie estava a caminho da ribalta. A família Obama foi presenteado um Cão de Água do Algarve, que nomeou com o título honorário de 'primeiro-cão' dos Estados Unidos da América (EUA), após a chegada à Casa Branca. E como, 'Bo', assim se chama o animal, precisa de companhia, ganhou uma nova amiga da mesma espécie, de nome Sunny.

Atualmente, a Quinta do Marim, no Parque Natural da Ria Formosa, tem aberto um canil para manter e reproduzir o Cão de Água do Algarve.

Queijo de mel, amêndoa e gengibre, de azeitona e alho ou de doce de tomate? Sim, agora já pode provar estes e muitos outros sabores que de terça a sábado saem fresquinhos da Fábrica do Queijo, no centro de Olhão. 
 
"Sonha-se de noite para se fazer de dia". Pode ser do sonho que vem a inspiração para Ana Gancho dar novas vidas a queijos de leite de cabra. Mas é realidade os sabores que existem nesta queijaria urbana. Nos doces, a Fábrica tem queijos de doce de abóbora e amêndoa, delícia de chocolate ou a grande novidade manga, coco e nozes de macadâmia caramelizadas. Nos salgados, pode experimentar queijos com óregãos, pesto de tomate seco, pimentos confitados, frutos vermelhos e malagueta ou limão e gengibre. E só mencionamos estes para abrir o apetite!
 
A Fábrica do Queijo acaba de dar mais um passo na inovação ao criar o queijo-creme de alho e salsa para barrar. A imaginação é o limite! 
 
"Quase tudo fica bem desde que seja nas doses certas", garante Ana Gancho, que há vários anos acerta os sabores dos queijos de leite de cabra. A queijaria nasceu no meio rural e o seu sucesso trouxe-a à cidade. O carácter urbano não retirou a tradição aos queijos que continuam a ser feitos de forma artesanal. Os queijos são feitos sempre na véspera o que lhes confere uma resistência maior, mantendo as qualidades nutritivas.
 

Agora que já abrimos o apetite, é só passar pela Fábrica do Queijo e descobrir queijos de cabra surpreendentes e repletos de sabores.

Para iniciarmos este passeio, precisamos colocar primeiro o capacete. Depois, escolhemos como queremos seguir: no side ou à pendura. O Sidecar Ural vintage e cheio de glamour já aguarda para nos levar por uma experiência única. Ao comando desta aventura da Bike My Side está Delfim Martins, que trouxe o conceito para Portimão.
 
A brisa bate levemente na cara, mas faz parte da experiência. É com um olhar diferente e autêntico que vamos conhecer cada paisagem, cada lugar, cada monumento, cada história, cada segredo. A liberdade conduz-nos a memórias irrepetíveis, tão únicas como as queiramos sentir. É este o sentimento de quem já se deixou seduzir por este sidecar de ar clássico dos filmes de outros tempos.
 
Delfim Martins, conhecedor da história e tradições locais, conduz o roteiro da nossa viagem. "Os nossos capacetes têm intercomunicadores que permitem aos passageiros estarem sempre a falar em conferência", explica o nosso guia. Com os ouvidos atentos e o olhar rendido, vamos construindo este puzzle genuíno de cultura, história, natureza, gastronomia e vida nocturna. As viagens pode demorar entre duas até cinco horas, sem pressas nem hora para terminar, com pequenas pausas para guardar o melhor da região.
 
A Bike My Side nasceu originalmente em Lisboa pela mão de Daniel Coelho, fruto de influências de outras paragens, para criar um conceito original de passeios. Em setembro de 2012, instalou-se em Portimão para mudar a forma de ver a cidade e a região. Delfim Martins deixou de lado a arquitectura para contar os segredos mais bem guardados em passeios personalizados que "são sempre uma animação", aprovados por quem já experimentou um passeio a bordo deste sidecar e pelo site de viagens TripAdvisor que atribuiu à Bike My Side o Certificado de Excelência em 2014 e 2015.
 
As viagens são sempre para duas pessoas, mas também é possível organizar passeios para quatro pessoas, excluindo os motoristas. A Bike My Side tem à disposição oito passeios temáticos diferentes que vão dos 80 aos 200 euros por viagem, que podem decorrer em português, inglês e francês. Pode optar por conhecer locais históricos de Portimão, Silves, Monchique e Fóia ou descobrir aqueles sítios dos postais ilustrados, em Ferragudo, Carvoeiro, Praia da Rocha ou Alvor. Os sabores também são importantes, quer seja na visita a uma adega, ao mercado ou à Mercearia do Algarve. Lagos e Sagres podem ser os destinos ideiais para os mais aventureiros ou pode não querer perder por nada aquele pôr-do-sol inesquecível antes de se infiltrar na agitada vida nocturna. O Sidecar Ural vai buscá-lo onde está e leva-o a todo o lado.
 
A história do sidecar remonta aos anos 40 do século XX, mas este que nos levou a descobrir aquele canto especial de Portimão é recente, feito quase de forma artesanal na mesma fábrica dos Montes Urais, na Rússia, onde é feito há décadas. O Sidecar é totalmente seguro e até amigo do ambiente.
 

E se quiser chegar confortavelmente em grande estilo à boleia deste Sidecar Ural à sua Festa de casamento também pode! Deixe os convidados rendidos a tanto glamour!

Nestes dias em que o sol e os dias quentes deram lugar a tempo mais frio e chuvoso, o InAlgarve foi à procura de alternativas naturais para recuperar a sensação acolhedora do calor. E nada mais apropriado do que beber infusões de diferentes plantas que crescem nos campos do Algarve e que, através das suas propriedades naturais, têm diversos benefícios para a saúde.

A nêveda é uma planta que melhora a digestão, além de ter propriedades estimulantes ideais para combater o cansaço e a depressão. É também indicada para tonificar e fortificar o organismo, estimulando as suas funções e a produção de células, que permitem uma maior recuperação dos tecidos danificados. A nêveda pode ainda ser usada como acompanhamento do gin.

O tomilho é muito recomendado para o tratamento de doenças associadas a períodos mais frios, como o resfriado, a gripe, o catarro e a pneumonia. Além destas, tem ainda propriedades curativas na asma e na bronquite. Noutros pontos do organismo, o tomilho pode ser uma boa ajuda na sensação de enfardamento, flatulência, reumatismo, inchaço, luxação e, ainda, acne.


Depressão leve, fadiga, dor de cabeça ou até enxaqueca são algumas das doenças que o alecrim ajuda a combater. Mas esta planta, que até tem direito a canção, é ainda indicada para tratar a má digestão, a gastrite, a úlcera estomacal e doenças respiratórias, como a tosse, a sinusite e a bronquite. Pode ainda ser um aliado na artrite, na artrose e no reumatismo e, para as mulheres, na tensão pré-menstrual.


A alfazema, que deixa um cheiro muito agradável no ar, tem propriedades que ajudam no tratamento da ansiedade, do cansaço ou exaustão física e em problemas de sono. É ainda indicada para a alergia a picadas de insetos, a má circulação sanguínea, a hipotensão arterial. A sua infusão pode ainda contribuir para diminuir a irritação gástrica e a colite nervosa.



Em muitos campos é possível encontrar funcho, que se desenvolve de forma natural. Esta planta apresenta propriedades relevantes para o sistema digestivo, no tratamento de cólicas, vómitos, problemas urinários, vermes intestinais e, ainda, diarreia. Pode ser usado para combater nódulos do fígado ou do baço e até a anorexia. A bronquite é também um inimigo do funcho, indicado ainda para as dores de olhos.



Não nasceu no Algarve, mas foi aqui que se sentiu a tranquilidade para desenvolver parte da sua obra. David Croft, britânico de naturalidade, teve casa em Tavira durante mais de 30 anos e, desde 2004, aí assentou residência com a sua esposa, até falecer em 2011. O nome pode dizer pouco, mas se falarmos da série 'Allo Allo', já temos um caminho. 

David Croft foi co-autor de uma das maiores séries de sucesso do Reino Unido e do mundo. A sua casa de Tavira foi o refúgio ideal para David e o companheiro de escrita Jeremy Lloyd darem história a pelo menos três episódios e alinhavarem muitos outros da mítica série de humor britânico que satirizou toda a II Segunda Guerra Mundial. 'Allo Allo' retratava a vida da pacata vila francesa Nouvion durante a ocupação alemã a França. A ação central rodava em torno de um café, pertencente à personagem principal René, onde se cruzavam militares alemães, resistentes franceses, aviadores ingleses fugitivos, polícias muito duvidosos ou até falsos vendedores de cebolas. 

De Tavira, David não preservou apenas a tranquilidade. Foi nesta localidade que conheceu um jardineiro, que veio a servir de inspiração para o falso polícia inglês da série. O jardineiro falava um inglês perfeito, mas o sotaque tornava a compreensão quase impossível. Tal como o polícia que falava muito bem francês, mas de uma forma tão estanha que se tornava tão caricato, quanto incompreensível, sendo uma das personagens mais divertidas de toda a série. E o que foi apenas uma inspiração, ficou para sempre celebrada no humor britânico. 

David Croft, argumentista e produtor, faleceu a 27 de setembro de 2011 no local que escolheu para viver e tanta inspiração e tranquilidade trouxe à sua vida: Tavira.

Até ao início do século XX, as mulheres algarvias cobriam-se da cabeça aos pés com um manto preto. O bioco dava a quem o usava um poder de liberdade incomparável. Por isso, foi proibido em 1892 e esteve ausente dos guarda-roupas femininos durante um século. Mas agora largou o pó e está a reinventar-se.

Pelas ruas do Algarve, era tradicional as mulheres usarem uma capa negra que, inclusivamente, lhes cobria a cara. E aí assentou o problema do bioco: dava demasiada liberdade a quem o usava. As autoridades desconfiavam que as mulheres poderiam cometer crimes, como furtos ou prostituição, a cobro deste manto, sem que a sua identidade fosse descoberta.

E a sua fama só piorava quando também se desconfiava que os homens a usavam com os mesmos fins. A má reputação acabou por ditar a sentença de morte: o uso do bioco em ruas e mercados foi oficialmente proibido pelo então Governador Civil de Faro, José Lourenço Pinto, em 1892. Na altura, na opinião pública, escritores, poetas, jornalistas trocaram argumentos favoráveis e contrários ao uso deste manto preto. Muitas vozes se elevaram em defesa do bioco, principalmente mulheres, que o consideravam um elemento de liberdade. O bioco tentou resistir e, nos primeiros anos do século XX, ainda podia ser visto em algumas ruas algarvias.

Aliado à má fama, juntou-se um sentimento de modernização do vestuário feminino a que o bioco também não conseguiu resistir. Apesar de ser tradicional do Algarve, existia também em alguns países europeus, onde acabou por cair em desuso face à nova moda que se instalava. Longe dos armários femininos, o manto preto usado pelas mulheres algarvias ficou imortalizado no Museu do Traje, em São Brás de Alportel, que guardou até aos dias de hoje um exemplar. O bioco pode ser comparado ao que nos dias de hoje conhecemos como burqa, a veste que as mulheres são obrigadas a usar em alguns regimes radicais islâmicos. Contudo, e apesar de se pensar que tem origem árabe, o manto nunca teve qualquer conotação religiosa e, ao invés de tirar, dava liberdade aos seus usuários.

Mai de cem anos depois, o bioco está a ressuscitar. A designer e empresária Lurdes Silva, através da marca 'Bioco Tradition', está a reinventar o traje tradicional algarvio, adaptando-o à moda atual. Além de ter ficado mais curto, ganhou cor e estilo e até existe em duas versões: inverno e verão. As mulheres vão poder voltar a usar o bioco, apesar de já não conceder a mesma liberdade de outros tempos.

Não se sabe se as palavras de Raúl Brandão em 'Os Pescadores', editado pela primeira vez em 1923, voltarão a ser atuais, mas ficará para sempre o encanto do bioco: "É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro, envoltas nos biocos, parecem fantasmas. Passam, olham-nos e não as vemos. Mas o lume do olhar, mais vivo no rebuço, tem outro realce… Desaparecem e deixam-nos cismáticos. (...) É uma mulher esplêndida que vai para uma aventura de amor? De quem são aqueles olhos que ferem lume?… Fitou-nos, sumiu-se, e ainda – perdida para sempre a figura – ainda o som chama por nós baixinho, muito ao longe – cloque…".

"É o melhor gelado do Algarve!". Cláudio David, o mestre gelateiro que cria e produz os gelados naturais da Delizia Gelataria, em Tavira, já ouviu vezes sem conta esta frase. E começa a acreditar que é verdade, tais são as filas que os seus gelados provocam, principalmente no verão. Modéstia à parte, Cláudio foi o primeiro gelateiro internacional a vencer o concurso Sherbeth Festival, na Sícilia, com o Creme de Figo Seco do Algarve, em 2011.

 

Cláudio não revela ao InAlgarve a receita de gelados tão apreciados, mas explica que "marcam a diferença por serem de produtos locais". E este é apenas um dos segredos: os ingredientes usados são comprados a produtores do Algarve, "numa lógica de sustentabilidade do comércio justo", mas também para privilegiar produtos locais. A proximidade permite também manter as propriedades originais dos ingredientes que fazem depois os gelados naturais. 

 

Uma das mais recentes criações é o gelado de poejo com citrinos, que Cláudio levou este ano a concurso em Palermo e a reação de especialistas e do público "foi ótima". "Este gelado tem tido êxito nas gelatarias, por ser um sabor fresco para o verão", começa por dizer Cláudio, explicando a combinação: "O poejo é um produto local e é uma maneira de o dinamizar e, tanto a laranja como o limão, são sabores mediterrâneos". 

 

Outro dos segredos é o facto dos sorvetes serem saudáveis, uma vez que têm baixos níveis de açúcares e de gordura e de serem feitos com alimentos naturais. Daí que alguns gelados só existam em algumas épocas do ano, devido à sazonalidade dos ingredientes.

 

Criatividade é algo que não falta a Cláudio, que já criou uma carta inteira de gelados de deixar água na boca: o alfarroba com laranja, o creme algarvio (com alfarroba, figo e amêndoa), o queijinho de amêndoa, o creme de figo seco, um verdadeiro best-seller desde que conquistou o prémio, o de mel, gengibre e tomilho ou a gemada de laranja, que fazem lembrar as gemadas da infância, entre muitos outros que pode provar na Delizia Gelataria.

 

E lá por o verão já ser uma recordação, os gelados sabem bem em qualquer altura do ano. Para a época mais fria, Cláudio recomenda os gelados de leite, os mais doces ou os de frutos secos, que são gelados 'mais quentes'. "Em 2014, o país que consumiu mais gelados per capita foi a Finlândia", exemplica Cláudio, para mostrar que podem ser consumidos em qualquer época do ano.

 


Para já, estes gelados ainda só estão disponíveis no Algarve, mas, com tanta procura, Cláudio está a pensar "vender o Algarve em Lisboa" para que, quem visita a região no verão, "possa manter o gosto das férias o ano inteiro".


Uma é loura, outra é preta e há ainda uma ruiva. As três são pequenas, como convém, e não escondem quem são e ao que vêm. Falamos das três variedades da Cerveja Moura, uma cerveja artesanal inovadora por ter na sua composição a alfarroba. O objetivo é simples: encantar quem a beber. O InAlgarve foi conhecer melhor esta cerveja que nasceu em Tavira e ficou encantado.
 
Sebastião Afonso e Ivânia Lourenço são os cervejeiros que decidiram inovar e criar uma cerveja distinta de todas as outras que havia até agora no mercado. "Cada um de nós tinha o seu trabalho, mas estávamos insastisfeitos. Começamos a ter ideias até que nos falaram que havia formações para fazer cerveja artesanal no Porto", começa por contar Ivânia. Daí seguiu-se outro curso em Barcelona, onde aprofundaram os conhecimentos que já tinham.
 
O caminho estava traçado para a criação de uma cerveja. Mas Sebastião e Ivânia queriam inovar e decidiram introduzir um ingrediente novo: a alfarroba. "Queríamos fazer uma coisa diferente com um produto algarvio, que identificasse o Algarve", explica Sebastião. E o nome 'Moura' surgiu logo a seguir no trajecto. "Soou-nos bem a história e achámos bem juntar um ingrediente local com um nome local", continua Sebastião, antes de Ivânia completar: "relacionámos com a lenda da Moura Encantada de Tavira. Juntamos, não só um produto algarvio, como também um nome que identificasse a cidade, até porque a alfarroba foi trazida pelos mouros para a região".

A pergunta impõe-se: afinal quem são estas cervejas? É Sebastião a fazer as apresentações: "a loura é uma cerveja mais regular, mais frutada, mas também diferente. A preta é mais amarga e mais encorpada. A ruiva é uma cerveja de abadia com malte de escaramelo, que fica mais ou menos no meio. É doce, encorpadíssima e com mais álcool. É uma cerveja que todos gostam, mesmo quem não está habituado a beber cerveja".
Quem já provou esta cerveja ficou de tal forma encantado, que Sebastião e Ivânia não têm mãos a medir para que haja sempre Moura pronta a beber. Por agora, a Cerveja Moura está disponível em Tavira, Cabanas de Tavira, Altura, Almancil e Portimão, mas já há pedidos para Lisboa e grande Porto. E o estrangeiro é um passo a seguir.  
 

Sebastião e Ivânia já pensam em novos produtos e preparam novidades para breve. A pensar no Natal vão ser lançadas edições limitadas com ingredientes locais, em garrafas de 75 centilitros a pensar naquelas ofertas especiais que vai ter inveja de não receber.

Quando Elisa Malheiro descobriu a loja do nr. 25 na Rua Direita de Portimão, "a ideia surgiu de repente". E como todos os amores à primeira vista, o projeto bateu forte e veio para ficar. Para tornar a ideia uma realidade, Elisa percorreu "o Algarve de lés-a-lés" à procura de produtos locais, alguns dos quais nem conhecia, como acontece ainda hoje com alguns visitantes da Mercearia do Algarve.

 

"Temos tanta coisa boa", garante Elisa, que, depois de ter tido outros trabalhos e de sempre ter gostado do setor da alimentação, decidiu mudar a sua vida profissional e apostar numa loja onde pode mostrar "os sabores cá da gente". O objetivo é dar a conhecer o que de melhor se faz no Algarve e promover a região através do palato.

 

Nesta Merceraria, cheira-se, sente-se e prova-se todo o Algarve, de uma ponta à outra. Os queijos e iorgurtes de leite de cabra do Azinhal (Castro Marim) e a muxama de Vila Real de Santo António convivem lado a lado com o pão de Rogil (Aljezur). E há também a batata doce, os figos, as nozes ou o pão caseiro com torresmos ou chouriço. De Portimão vêm as bolachas, que se entendem bem com o chocolate para barrar ou com o mel e de Castro Marim chegam a flor de sal e o sal marinho. 

 

Depois há ainda os biscoitos de azeite, que pode adquirir a peso, as conservas ou o azeite. E para beber, encontra vinhos, cervejas ou licores. Estes e muitos outros sabores do Algarve cabem todos nesta Mercearia. Uma vez por semana, Elisa distribui também cabazes de produtos frescos e biológicos, que convém encomendar previamente. 

 


Elisa garante que quem visita a sua loja "gosta dos produtos", os quais, por vezes, está também a conhecer pela primeira vez. O amor à primeira vista concretizou-se na Mercearia do Algarve, que é, desde há alguns meses, um local onde pode encontrar o que de melhor se faz em toda a região.