quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Do convento para a pousada


Quando em 1542 Frei Pedro de Vila Viçosa fundou o Convento da Graça, já o edifício contava uma história que se confunde com a própria história da cidade Tavira e as diferentes religiões que nela existiram. E se a sua existência até aí não foi linear, nos séculos seguintes a estabilidade também não foi a palavra de ordem. Mas como qualquer herói de resistência, o Convento sobreviveu. Agora é uma Pousada.


Após a ordem de expulsão dos judeus no final do século XV, D. Pedro I ordena também a conversão de sinagogas em espaços cristãos. A decisão real sentenciou o esvaziamento do edifício construído dentro da antiga muralha. Foi a oportunidade para Frei Pedro de Vila Viçosa escolher este local para instalar a Ordem dos Agostinhos, face ao impedimento de levar a congregação até à praça africana de Azamor. 

 

Diz o povo que "pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita" e o provérbio parece inspirado no Convento da Graça. As obras só começariam já na segunda metade do século XVI, depois de Frei Valentim da Luz, responsável pelas primeiras modificações, ter sido acusado pela Inquisição e morto num auto de fé, devido às posições consideradas protestantes. 

 

As obras durariam cerca de um século e das alterações iniciais pouco resta à exceção do claustro, que mantém a estrutura original de conceção renascentista. Durante o século XVIII, apenas duzentos anos desde o início da construção, já o convento estava em avançado estado de degradação.

 

Em 1749, arranca a operação de reconstrução do Convento da Graça, sob as ordens do arquiteto algarvio Diogo Tavares e do Mestre Bento Correia, que lhe há-de dar a conceção barroca, que ainda hoje mantêm. Desta época resistenm a grandiosa fachada principal, duas torres retangulares e janelões de molduração barroca.

 

A vida do Convento acabou por ser curta. Em 1839, com a extinção das ordens religiosas, o edifício foi entregue ao Ministério da Guerra, que ali instalou uma unidade militar. O espaço passou a chamar-se então Quartel da Graça. Posteriormente há ainda registos de ter sido um hospital militar, uma arrecadação e até uma garagem. 

 

Mas o Convento havia de continuar a resistir. Já no século XXI, o edifício foi convertido na sua a sua utilização atual: a Pousada do Convento da Graça, pertencente à rede das Pousadas de Portugal. E foi durante o período em que o edifício foi requalificado que foi descoberta a sua história mais antiga: o bairro Almóada.

 


Sob o lado poente da antiga cerca conventual, concentrava-se o bairro islâmico do século XIII, formado por treze casas. As edificações são um bom exemplo do urbanismo islâmico na região, onde se revelam troços de habitações e ruas, bem como o sistema de canalizações. Parte do espólio foi preservado em Museu, mas há ainda muitos vestígios que podem ser vistos no local. E não precisa de ser visitante da Pousada para aceder ao espaço.

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