Do convento para a pousada
Quando
em 1542 Frei Pedro de Vila Viçosa fundou o Convento da Graça, já o
edifício contava uma história que se confunde com a própria
história da cidade Tavira e as diferentes religiões que nela
existiram. E se a sua existência até aí não foi linear, nos
séculos seguintes a estabilidade também não foi a palavra de
ordem. Mas como qualquer herói de resistência, o Convento
sobreviveu. Agora é uma Pousada.
Após
a ordem de expulsão dos judeus no final do século XV, D. Pedro I
ordena também a conversão de sinagogas em espaços cristãos. A
decisão real sentenciou o esvaziamento do edifício construído
dentro da antiga muralha. Foi a oportunidade para Frei Pedro de
Vila Viçosa escolher este local para instalar a Ordem dos
Agostinhos, face ao impedimento de levar a congregação até à
praça africana de Azamor.
Diz
o povo que "pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita"
e o provérbio parece inspirado no Convento da Graça. As obras
só começariam já na segunda metade do século XVI, depois de Frei
Valentim da Luz, responsável pelas primeiras modificações, ter
sido acusado pela Inquisição e morto num auto de fé, devido às
posições consideradas protestantes.
As
obras durariam cerca de um século e das alterações
iniciais pouco resta à exceção do claustro, que mantém a
estrutura original de conceção renascentista. Durante o século
XVIII, apenas duzentos anos desde o início da construção, já o
convento estava em avançado estado de degradação.
Em
1749, arranca a operação de reconstrução do Convento da
Graça, sob as ordens do arquiteto algarvio Diogo Tavares e do Mestre
Bento Correia, que lhe há-de dar a conceção barroca, que ainda
hoje mantêm. Desta época resistenm a grandiosa fachada principal,
duas torres retangulares e janelões de molduração barroca.
A
vida do Convento acabou por ser curta. Em 1839, com a extinção das
ordens religiosas, o edifício foi entregue ao Ministério da Guerra,
que ali instalou uma unidade militar. O espaço passou a chamar-se
então Quartel da Graça. Posteriormente há ainda registos de ter
sido um hospital militar, uma arrecadação e até uma garagem.
Mas
o Convento havia de continuar a resistir. Já no século XXI, o
edifício foi convertido na sua a sua utilização atual: a Pousada
do Convento da Graça, pertencente à rede das Pousadas de Portugal.
E foi durante o período em que o edifício foi requalificado que foi
descoberta a sua história mais antiga: o bairro Almóada.
Sob
o lado poente da antiga cerca conventual, concentrava-se o bairro
islâmico do século XIII, formado por treze casas. As edificações
são um bom exemplo do urbanismo islâmico na região, onde se
revelam troços de habitações e ruas, bem como o sistema de
canalizações. Parte do espólio foi preservado em Museu, mas há
ainda muitos vestígios que podem ser vistos no local. E não precisa
de ser visitante da Pousada para aceder ao espaço.
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