Há um plátano nas Caldas de Monchique que se perdeu de amores por uma ave. A frase que acaba de ler não é uma invenção nossa, mas antes uma das lendas que povoam o património histórico oral algarvio.
 
Reza a lenda que de tantos corações desenhados no velho plátano, residente nas Caldas de Monchique, que a árvore acabou ela mesma por ganhar alma e ser perder de amores por um abelharuco. Mas um dia a ave bateu as asas e abandonou o plátano, para não mais voltar.
 
Triste e desorientada com tamanha fatalidade amorosa, a árvore desfez-se em lágrimas e refugiou-se na terra. Como diz o ditado "o tempo cura tudo" e também o plátano se conformou com a perda do grande amor e recompôs-se do desgosto.
 

Mas em vez de árvore, o plátano transformou-se em fonte e, diz o povo, que as suas águas salvam agora vidas e amores desenganados.

Este não é um castelo qualquer. É um dos monumentos algarvios mais visitados e, naturalmente, um dos mais emblemáticos. O Castelo de Silves guarda as suas memórias ao lado de episódios que marcaram a história de toda a região.

O Castelo de Silves é obra da ocupação árabe, que nele transmitiu os seus melhores conhecimentos de arquitetura militar à época. Da autoria dos árabes Almorávidas no século XI, reflete o esplendor da civilização islâmica na época e a importância que a cidade obteve na altura, sendo considerada a 'capital' do Algarve. O castelo, construído em grés vermelho existente na região e taipa, tem a forma de um polígono irregular e é rodeado por uma cortina de muralhas.

A dar as boas vindas a todos os visitantes, está uma enorme porta principal, protegida por duas torres e pela casa do guarda. A sua cortina de muralhas inclui ainda outra torre e sete quadradelas. A norte, fica a 'porta da traição', que chama a atenção não só pelo nome, como também pelo facto de ser uma saída para o exterior.

O seu interior guarda vestígios islâmicos importantes. Os silos árabes, que serviam como depósitos de alimentos e com entrada por pequenas aberturas ao nível do solo, a Cisterna da Moura, com cerca de 10 metros de altura e quatro abóbodas assentes em colunas, e a Cisterna dos Cães, com 60 metros de profundidade.

A todos os visitantes, o Castelo de Silves oferece ainda um jardim e vista sobre a cidade, o vale e o Rio Arade. E não foram poucos os que em 2015 tiveram a oportunidade de usufruir destes privilégios, enquanto faziam uma viagem de 10 séculos pela história. Visitaram este monumento nacional, assim classificado desde 1910, mais de 232 mil pessoas.

A importância de Silves na região colocou-a como ponto prioritário na rota da conquista cristã. Dom Sancho I conquistou-a em 1189, mas dois anos depois, perdeu o controlo da cidade novamente para os almóadas.

Silves havia de ficar marcada e, em 1249, foi novamente conquistada e, desta vez, mantida sobre poder do Reino de Portugal. À porta do castelo, Dom Sancho I guarda atento o monumento, que atualmente constitui um pedaço importante da história algarvia.


A cada domingo de Páscoa, os homens empunham tochas artísticas gritam em uníssono "Ressuscitou como disse? Aleluia, aleluia, aleluia". São Brás de Alportel revive a cada ano a ancestral Procissão de Aleluia.
 
Os preparativos começam um ano mês antes com a recolha de flores campestres nos campos algarvios. São Brás de Alportel é enfeitada num trabalho minucioso e artístico com um tapete de flores de um quilómetro. Às janelas e varandas, os residentes colocam colchas para homenagear a passagem da procissão. À tradição religiosa, juntam-se os sabores da doçaria tradicional de São Brás de Alportel e o melhor do artesanato local.
 
A tradição da Festa das Tochas Floridas, cumprida anualmente no Dia de Páscoa, tem um caráter religioso, mas assinala ainda um dos momentos mais significativos do Algarve: a expulsão das tropas inglesas comandadas pelo duque de Essex, que saquearam a cidade de Faro em julho de 1596, pela confraria dos moços solteiros.
 
Nessa época, as confrarias eram obrigadas a levar uma tocha acesa ou luminária e, mais tarde, à falta de cera, levavam paus pintados e ornamentados com flores. A Procissão de Aleluia começou a ser realizada nos primeiros anos do século XVII em São Brás de Alportel, tornando-se uma das mais importantes manifestações religiosas da região.
 

Atualmente, os homens carregam as tochas floridas e formam duas alas para formar a procissão pelas ruas de São Brás. Apenas os homens podem carregar as tochas, uma vez que as confrarias eram apenas compostas por homens.

É da cabra algarvia, uma das melhores raças de cabras autóctones, que é extraído o leite para fazer o queijo de cabra fresco e, um produtor inovador, o iogurte 100% de leite de cabra. A sua produção decorre na Queijaria do Azinhal, em Castro Marim, mas pode ser encontrado em toda a região.
 
O queijo fresco da Queijaria do Azinhal é um marco nos produtos tradicionais da região. Além do leite de cabra algarvia, este queijo leva apenas o cardo e sal produzido nas salinas de Castro Marim, sendo um produto 100% natural. Mas há também a variedade de queijo de cabra com orégãos.
 
Mas é no iogurte de leite de cabra que está um passo inovador. Este tipo de iogurte é um ótimo substituto aos iogurtes tradicionais, em particular para quem é intolerante à proteína do leite de vaca. Uma equipa de cientistas da Universidade de Granada, em Espanha, concluiu que o leite de cabra, que pode ser consumido também em iogurtes, tem benefícios para a população em geral, e em particular para quem sofra de colesterol, anemia e osteoporose.
 
A Queijaria do Azinhal foi criada pela Associação Nacional dos Criadores de Caprinos de Raça Algarvia (ANCCRAL), com o apoio do município de Castro Marim, e funciona no Espaço Multiusos, à entrada da aldeia que lhe dá o nome: Azinhal.
 
Os produtos da Queijaria do Azinhal estão à venda por todo o Algarve, em lojas gourmet, pequenos supermercados, cadeias de distribuição e em hotéis, como o Hotel Quinta do Lago ou o Hotel Ria Parc. Se pretender obter mais informações sobre estes produtos ou onde os encontrar, pode entrar em contacto com a Queijaria através do telefone 925 051 390 ou do mail anccral@gmail.com. 

No ano em que se assinalam os 50 anos da última armação de pesca de atum no arraial do Barril, em Tavira, a Lais de Guia - Associação Cultural do Património Marítimo prepara-se para desenterrar os segredos e a história de um dos locais mais emblemáticos de onde partiam as armações para a pesca desta espécie e onde ainda hoje repousa um cemitério de âncoras.
 
Para dar a conhecer este património, a Lais de Guia, criada para desenvolver um trabalho de salvaguarda e divulgação do espólio histórico, oral, social e cultural, vai realizar passeios pela antiga armação do Barril, situada na Praia que lhe deve o nome. "Começamos no tanque das lavadeiras e falamos na história da armação, o seu enquadramento histórico", começa por revelar Brígida Baptista, uma das fundadoras da associação e pós-graduada em Arqueologia Náutica e Subaquática e mestre em Arqueologia.
 
"Depois seguimos para a parte da frente das casas, que era a casa dos patrões e onde está agora o Restaurante Museu, que tem algumas peças cedidas pela comunidade", continua Brígida, adiantando que ali se pode descobrir o funcionamento de uma armação: "Vemos a maquete da armação e há uma explicação de como funcionava, como era montada, quantas âncoras, quantos metros de cabo e quantas redes levava e alguns tipos de malhagem".
 
Uma parte do arraial era composto pelas casas, conhecidas como as 'casas dos camaradas' onde habitavam as famílias dos pescadores durante as campanhas, que decorriam entre abril e setembro de cada ano. "Eram casas muito pequenas onde viviam sempre uma ou duas famílias", conta a mestre em Arqueologia.
 
O ponto que mais curiosidade desperta a quem visita a Praia do Barril é o cemitério de âncoras, que a maioria julga pertencer a embarcações. Mas não é bem assim, como nos explica Brígida: "Não são âncoras de embarcações, são âncoras para segurar as redes. Eram colocadas no mar para fazer uma grande cortina de rede para travar os cardumes de atum". Nesta região, as armações de atum apanhavam dois tipos de atum, "o atum de direito, que ia gordo para o Mar Mediterrâneo desovar", e o "atum de revés, que vinha magro para subir para o Mar do Norte", conta Brígida, cujo passado pessoal está também ligado a esta armação.
 

O ano de 1966 marcou o fim da armação no Barril. A sobrepesca da espécie é a explicação mais usual para o fim da pesca do atum, mas Brígida Baptista considera que há outras explicações como o facto de "muitas pessoas deixarem de ir [às armações]" e "com os ciclos" da espécie, uma vez que nesse último ano de pesca, houve armações que só capturaram "dois atuns, um atum".
Foto: Paulo Viegas Photography
O património marítimo do concelho de Tavira já tem uma associação que pretende defendê-lo e valorizá-lo em diversas vertentes. A Lais de Guia - Associação Cultural do Património Marítimo foi criada para desenvolver um trabalho de salvaguarda e divulgação do espólio material, histórico, oral, social e cultural.
 
O nome da Associação não é por acaso. Lais de Guia é um nó típico, simples e de confiança, feito nas artes de pesca e marítimas e um dos primeiros a ser ensinados nestas áreas. É o ponto de partida para conservar e divulgar um património que vai muito além dos vestígios históricos, mas também está presente nos saberes das gentes.
 
Brígida Baptista, uma das fundadoras, explica que o trabalho dos membros da Lais de Guia, é "tentar olhar de outra forma, com outra perspectiva, e ver como podemos valorizar certas coisas que não vemos noutro sítio". E é um trabalho extenso e vasto dada a riqueza do património.
 
"O objetivo é a salvaguarda e valorização do património marítimo, do espólio que ainda existe, da armação do Barril, da própria Santa Luzia com as suas gentes", descreve Brígida, pós-graduada em Arqueologia Náutica e Subaquática e mestre em Arqueologia. "Temos histórias das armações de atum, do bacalhau e, no início do século XX, do polvo", continua, sublinhando que o objetivo é "pegar nestas singularidades e mostrá-las de outra forma".
 
A História motiva o trabalho da Lais de Guia. "Tavira foi um grande porto de mar, tanto na pesca da baleia, como pesca do atum, teve uma grande importância tanto na construção naval para a Coroa, como porto de importância de apoio às praças portuguesas que a Coroa tinha no norte de África", relembra Brígida. E "tudo isso fez o nosso quotidiano fluvial e marítimo estar tão presente hoje em dia e é isso que tentamos não perder", garante.
 
Também Santa Luzia é um lugar importante neste registo histórico. Existindo há vários séculos, em 1910, a aldeia de pescadores tem já "um número significativo de habitantes e uma grande importância para o município de Tavira". Da vida ligada às várias atividades pesqueiras, à armação que durante anos se constituía na Praia do Barril para a pesca do atum, ou na importância de ser o único porto nacional a dedicar-se em exclusivo à pesca do polvo, Santa Luzia tem gentes e histórias para preservar.
 
A Associação é composta por uma equipa multidisciplinar, como explica Brígida: "Temos a parte da arqueologia, a parte da fotografia, uma historiadora, pessoas de terra, uma guia-intérprete para passeios e turismo, colaboramos com pessoas ligadas à pesca, à construção naval".
 
Formada em dezembro de 2015, tem já um programa de atividades para dar a conhecer o património. "Queremos dar continuidade às rotas turísticas - a rota do polvo e a rota do atum, - queremos fazer tertúlias, que esperamos que seja mensal, com convidados e workshops".
 
As atividades estão abertas tanto à comunidade portuguesa como estrangeira. "Queremos ter atividades em que conseguimos falar em português, mas também em inglês e captar todos os públicos". Para saber mais sobre a Associação e o seu trabalho pode fazê-lo através do mail associacaolaisdeguia@gmail.com ou consultar a página no Facebook.

De olhar certo e porte firme, há uma cabra que se distingue. O pêlo branco com manchas de tonalidades castanhas ou pretas identificam-na: é a cabra algarvia, a melhor raça autóctone na produção de leite.
 
A origem desta cabra é tema de conversa. Como explica ao InAlgarve Ana Paula Rosa, Secretária Técnica do Livro da Raça, da Associação Nacional de Criadores de Caprinos da Raça Algarvia (ANCCRAL), há quem defenda que a espécie de cabra algarvia resultou do cruzamento entre raças espanholas e francesas. Mas pode também ter sido introduzida por pescadores, vindos de Marrocos.
 
Certo é que a cabra algarvia se adaptou perfeitamente às condições do interior serrano algarvio, onde um tem um habitat propício para a espécie, em particular em Alcoutim e Castro Marim, onde está o a maior concentração de animais. Mas há também produtores registados no Baixo Alentejo e um no Alto Alentejo, em Montargil, onde um criador seguiu a tradição de família e se dedica à produção desta espécie.
 
Aliada à produção de leite, explica Ana Paula Rosa, está outra característica que faz desta uma raça particular: em cada reprodução, o número médio de crias situa-se nos 2, acima da média de outras espécies de cabras. Em adultos, os machos pesam entre 60 a 70 kgs e as fêmeas entre 45 a 55 kgs.
 
Segundo o livro de registos, atualizado quase diariamente pela SecretáriaTécnica, há atualmente 3995 fêmeas e 161 machos, o que perfaz uma média de 30 fêmeas para cada macho.
 

A raça é usada em larga escala na produção leiteira, como é exemplo a Queijaria do Azinhal que produz queijo fresco ou iogurte de leite de cabra, mas os cabritos também são usados na gastronomia.

Se gosta do conceito de acampar, mas montar a tenda é um problema e a falta de conforto em comparação com outras estadias é terrível, então temos uma grande notícia para si! Agora pode optar pelo glamping. E no Algarve, já há alguns locais onde a 'tenda' já está montada e com várias comodidades.

 

Glamping conjuga o conforto e o glamour de uma unidade hoteleira de várias estrelas com o a experiência do contacto direito com a natureza. Isto é, as tendas são espaçosas e as camas confortáveis, mas a porta está aberta para a natureza. Esta forma de fazer férias está a atrair cada vez mais interessados. Fomos saber quais as opções que tem no Algarve.

 

1 – Casa Tuia – Carvoeiro, Lagoa

 

Está aberta há um ano e já é um sucesso. É composta por quatro tendas de madeira, chamadas Safari, de dois ou três quartos e com capacidade para quatro ou sete pessoas. Todas têm casa de banho, cozinha equipa e vista para o jardim.

 

Por aqui existem todas as comodidades que pode desejar: camas, portas e roupeiros, feitos com madeira vinda de Bali, Indonésia. Os preços rondam os 100 euros, na época alta. Mais informações na página oficial.

 

2 – Eco-Lodge Brejeira, Silves

 

Aqui as tendas dão lugar a outros tipos de alojamento, como uma antiga roullote cigana, uma carrinha de bombeiros ou uma yurt, uma tenda mongol. A cerca de 15 minutos de Silves, se também procura natureza para as férias, aqui ficará satisfeito, no meio dos montes, em ambiente selvagem.

 

A roullote cigana tem uma sala de estar, cozinha e cama de casal, a carrinha dos bombeiros tem cozinha e sala de estar que também pode ser um quarto e a tenda mogol está equipada com cama e sofá e terraço de madeira com vista para a Serra de Monchique.

 


A cumprir vários anos de vida, o Eco-Lodge Brejeita fica e São Marcos da Serra e, na época alta, os preços são de 65€. Mais informações na página oficial.


Em menos de um minuto muda de país, atravessando a fronteira natural que é um rio. Entre Sanlúcar de Guadiana, em Espanha, e Alcoutim, na margem portuguesa do Rio Guadiana isto é possível e a travessia vai estar aberta ao longo dos próximos meses para a sua terceira temporada.

 

Esta é a primeira descida em tirolesa transfronteiriça do mundo e mede 720 metros desde Espanha até Portugal. Em Sanlúcar, a 250 metros acima do nível do mar, está instalada a cabine de onde os interessados se podem lançar, seguros pela estrutura em slide. Em 50 segundos, a uma velocidade que pode chegar aos 70/80 kms, chega a Alcoutim e ganha uma hora, devido à diferença horária entre os dois países.

 

A ideia pertence ao inglês David Jarman, radicando em Sanlúcar, que abriu a travessia radical em novembro de 2013. Três anos depois, o sucesso garante mais uma temporada. A travessia em tirolesa vai estar aberta nos próximos meses, sempre que a meteorologia assim o permita.

 


E nem só portugueses, em particular do Algarve, ou espanhóis se aventuram a atravessar a fronteira pelo ar. Há também muitos ingleses e até russos, brasileiros, lituanos, japoneses ou norte-americanos.


O nome remete para o seu passado civilizacional, mas quem passa atualmente por Vilamoura dificilmente dará conta dos vestígios arqueológicos históricos existentes. A estância turística de luxo que ali foi construída há meio século não apagou as memórias romanas e árabes que os séculos conservaram.


Os primeiros registos de habitantes naquela região datam da Idade do Bronze, conforme são testemunho as sepulturas descobertas na Vinha do Casão. Mas haviam de ser os romanos a construir uma 'Villa', a partir do I d.C., no local que hoje se denomina por Cerro da Vila.


Desse período, foram encontrados vestígios arqueológicos do núcleo residencial junto do porto, balneários, tanques de uma fábrica de salga de peixe, as fundações de uma torre funerária e uma zona portuária.


Após a desfragmentação e consequente fim do Império Romano, os Visigodos instalaram-se na região, sendo sucedidos pelos Omíadas, que ocuparam as antigas ruínas romanas e as modernizaram à sua época. Durante a sua ocupação foi construído um conjunto de silos no interior das casas. Os vestígios encontrados permitiram perceber que durante este período, a população se repartia entre as atividades da pesca e da agricultura.


A época marcou o encontro entre a antiga 'Villa' romana e a população 'moura', o que pode ter motivado a origem do nome da povoação. Contudo no século XI, ocorreu o total abandono da localidade em virtude dos constantes ataques piratas e do assoreamento do porto.


As memórias de outros povos ficaram paradas no tempo até que foram desvendadas pelo arqueólogo algarvio José Farrajota, em 1963. A par da construção do maior complexo turístico de luxo, com dezenas de hotéis, campos de golfe, casino, discotecas, clube de ténis, clube de mergulho e uma moderna marina na antiga Quinta do Morgado de Quarteira, nasceu também o Museu Cerro da Vila, a escassos metros da Marina de Vilamoura e onde podem ser visitados todos estes vestígios. As ruínas estão classificadas como 'Imóvel de Interesse Público' desde 1977.


Quando o século XVII decorria, estavam os Jesuítas longe de imaginar que o Colégio de Santiago Maior, fundado pelo então Bispo do Algarve D. Fernando Martins Mascarenhas, em Faro, haveria de ser uma sala de espectáculos de beleza indiscutível. Assim haveria de ser, depois de muitas voltas do destino, já no século XVI quando o espaço abriu ao público como Teatro Lethes.

A confiscação dos bens e a extinção da Companhia de Jesus ditaram que o edifício do Colégio haveria de ficar fechado, corria o ano de 1759. O espaço foi ocupado pelas tropas napoleónicas comandadas pelo general Junot e as suas instalações usadas para alojar os soldados, numa ocupação que devassou e profanou o espaço.

Em 1843, o médico italiano Lázaro Doglioni arrematou em hasta pública o edifício. Homem das artes, tinha o sonho de ver construído em Faro um teatro à semelhança do São Carlos, em Lisboa. Chamou-lhe Lethes, porque, escreveu a Revista Universal Lisbonense, "aquella caza servirá de princípio, pela reunião das famílias, para o esquecimento d'essas loucuras de políticas, que tanto nos tem apoquentado".

A antiga igreja do Colégio foi convertida então em sala de espectáculos. No lugar do altor-mor ficava a 'Sala Verde' e o coro foi transformado no respetivo palco. A inauguração haveria de ser feita com pompa e circunstância, a 4 de abril de 1845, associando-se às comemorações do aniversário da Rainha D. Maria II.

O Teatro Lethes estava a nascer para conquistar fama, não só no Algarve, mas por todo o País. O legado do Dr. Lázaro Doglini estava agora nas mãos do sobrinho Justino Cúmano, também ele médico, benemérito e protetor das artes, que não só manteve o legado do tio, como ainda o ampliou. Ao Teatro, aumentou-lhe a capacidade de espectadores, mandou construir uma caixa de ressonância abobodada e duplicou os camarotes.

Era a época do auge e o esplendor do Teatro, que tinha naquela altura uma orquestra e uma equipa técnica. Antes da viragem do século, a 11 de setembro de 1898, o Lethes foi escolhido, por ser o mais distinto espaço de Faro, para a primeira exibição daquilo a que chamavam o animatógrafo, que hoje se pode traduzir para cinema.

No início do século XX, a sala fechou para obras de restauro, reabrindo com uma confortável plateia, quatro ordens de camarotes, varandins de ferro forjado e tetos pintados com cenas musicais, da autoria do pintor José Filipe Porfírio.

A década de 20 marcaria o declínio do espaço, que encerra em 1925. Mais de 25 anos depois, é vendido à Cruz Vermelha Portuguesa, que ainda hoje detém o espaço. O Teatro haveria de 'regressar' a Faro e ao público. Foi casa da escola de música da Associação do Conservatório Regional do Algarve e espaço para os serviços regionais do Ministério da Cultura, após o protocolo com a Direção Regional da Cultura, que no início dos anos 90 fez algumas obras de melhoria e beneficência do edifício.

O Teatro manteve uma programação regular até 1998, mas a necessidade de se proceder a uma consolidação do edifício, levou o espaço a ser encerrado e novamente alvo de obras. O novo milénio marcaria também a nova vida do Teatro Lethes, com a reabertura ao público. Atualmente é gerido pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve e mantém uma programação cultural regular e diversa.


A primeira referência a Silves ocorre durante o século IX, sob o nome Xelb, para relatar a empreitada à corte do rei normando da Dinamarca, de um embaixador do estado cordovês, para assinatura do tratado de paz entre os povos, na sequência da derrota dos 'vikings'.


A importância de que já gozava por aquele mesmo século a então denominada cidade de Silb e a grande instabilidade que se vivia, levou à construção da sua muralha, uma das principais fortificações muçulmanas em Portugal e a que em melhor estado chegou à atualidade. Pelo século X escrevia Al-Razi, "Silves é a maior cidade do Algarve. Está construída junto de um rio, onde a influência das marés é notada".


Silves era o centro das atenções naquela época. A agricultura, que se desenvolvia pelos longos campos do barrocal, o comércio de quem chegava por água, a medina, sobranceira à margem direita do rio Arade, e a evolução da vida ali existente eram motivos suficientes para sustentar o seu apogeu. Não surpreende, portanto, que tenha sido apelidada de 'Bagdad do Ocidente'.


Em 1013, Silves tornou-se um reino independente do califado omíada de Córdoba e manteve a rota ascendente de influência, afirmando-se como capital económica, política e demográfica de toda a região. "A vila é bonita, nela vêm-se elegantes edifícios e existem mercados em abundância. A população fala um dialeto árabe muito puro... As pessoas rurais são muito hospitaleiras", descrevia Al-Idrisi, no século XII.


Também a cultura e o culto do intelecto eram promissores na cidade. Al-Mutamid, rei do Taifa de Sevilha, homem das artes, fez-se em Silves poeta. Enquanto governador da cidade, na companhia de Abu Bakr Ibn Ammar, partilhou no magnífico Palácio das Varandas noites de poesia, música, vinho e animação. Os dois estão entre os maiores poetas hispano-árabes da segunda metade do século XI.


O esplendor e a importância de Silves colocaram-na na mira direta dos Cristãos, que pretendiam conquistar o território a sul de Portugal. E conseguem-no em 1189, sendo uma das primeiras cidades do Algarve a ser conquistada. Mas apenas dois anos depois, Silves regressa de novo à posse dos almóadas, até ser conquistada definitivamente em 1249. Em 1266, para firmar o seu poder e celebrar a vitória, D. Afonso III deu foral à cidade e ordenou a construção de uma catedral sobre a mesquita. Silves manteve a sua importância na região até ao século XVI, quando a sede do bispado foi transferido para Faro.


Do esplendor de outros séculos, fica a imagem magnífica do castelo e os vestígios arqueológicos que foi possível preservar. Há silos subterrâneos, um tanque de água dos séculos XII/XIII com 10 metros de altura e um poço com cerca de três metros de diâmetro e dezoito de profundidade.


A Rota Omíada, que une 14 localidades algarvias num percurso turístico transnacional ligadas pelo legado da dinastia árabe omíada na região, já pode ser consultada na aplicação para smartphones, lançada pela Região de Turismo do Algarve na Bolsa de Turismo de Lisboa.


Através da nova aplicação, os utilizadores podem explorar de forma fácil e intuitiva a Rota, que percorre Alcoutim, Martim Longo, Vila Real de Santo António, Cacela Velha, Tavira, Faro, Estói, São Brás de Alportel, Vilamoura, Silves, Monchique, Alvor, Aljezur e Vila do Bispo.


Além do legado árabe, os utilizadores podem também ficar a saber mais sobre a história das localidades, património histórico e cultural, locais de interesse, tradições, artes tradicionais, gastronomia e natureza.



O Algarve é a única região do País que integra a Rede Omíada, presente em seis países do Mediterrâneo, além de Portugal: Itália, Tunísia, Egipto, Jordânia, Líbano e Espanha.


De Odeceixe (Aljezur) a Vila do Bispo há uma costa de maravilhas naturais que nos surpreendem a cada passo. São 60 quilómetros de encantos e riquezas que se escondem e revelam tão naturalmente como a natureza quase imaculada que aqui existe. É a Costa Vicentina, uma das áreas naturais mais bem preservadas, que se destaca pela sua paisagem imponente.

Esta faixa costeira, de caráter forte, selvagem e rochoso, tem um ambiente marcadamente atlântico, húmido e fresco, mas nas suas zonas meridionais também se faz sentir a influência mediterrânea. Dos contrastes surgem condições ecológicas únicas para as faunas marinha e terrestre e flora. Já foram identificadas mais de centenas de espécies de plantas e de aves.

Por aqui sucedem-se as praias, ora de areais extensos, ora pequenos encaixados entre as arribas rochosas. Quem não ouviu já falar das praias de Odeceixe, Arrifana, Vale dos Homens, Carriagem, Amoreira, Monte Clérigo, Castelejo, já considerada como a praia perfeita, entre muitas outras que convidam à aventura para as descobrir. Há quem as conheça não só pelo prazer da praia, mas também das ondas, ou não tivessem as ondas da Costa Vicentina fãs que vêm de todo o mundo para as surfar.

Muitos outros conhecem a Costa Vicentina dos seus trilhos pedestres, caminhos históricos, através dos quais se descobrem variados habitats naturais e se podem observar plantas endémicas e um grande número de espécies animais, quer em terra, quer a sobrevoar o céu.

É nesta terra única que a batata-doce encontrou um habitat perfeito. A batata-doce de Aljezur tem o selo de qualidade europeu que a identifica como produto de Indicação Geográfica Protegida e benefícios para a saúde não lhe faltam. E nas rochas, em particular de Vila do Bispo, esconde-se outra maravilha que integra as 50 experiências gastronómicas obrigatórias da Europa: os percebes. São produtos da terra e do mar que já merecem direito a festivais.


Nesta costa tão particular, o património une-se à natureza para se fundirem como se uma unidade fossem. Falamos da Fortaleza de Sagres e o Farol do Cabo São Vicente, no extremo sul da Costa Vicentina, construídos sobre as arribas em plena comunhão com a natureza. E quem não rende ao pôr-do-sol avistado a partir de Sagres?