É uma autêntica mina a que está debaixo da cidade de Loulé. A 230 metros de profundidade ou 30 metros abaixo do nível médio do mar, mais de 45 quilómetros de túneis escondem uma riqueza com cerca de 230 milhões de anos. O InAlgarve foi à descoberta da Mina de Sal Gema e ficou deslumbrado. É que o sal é apenas a primeira riqueza de um património inigualável em todo o País.
 
A mina, também denominada por Mina Campina de Cima e explorada pela CUF - Químicos Industriais S.A., pertencente ao Grupo Mello, existe desde 1964, mas continua a ser desconhecida de muitos. Além da sinalização existente, a face visível da estrutura são apenas duas torres, que servem de entrada e saída de pessoas e matéria prima. O resto desenrola-se completamente lá baixo, nos túneis que crescem por quatro andares debaixo da cidade.
 
O engenheiro Alexandre Andrade apresenta com o orgulho os cantos à casa. Começa por explicar que o sal extraído tem um grau de pureza de 96%, apesar da tonalidade castanha. A indústria química já foi o principal destinatário desta matéria, agora o sal segue para a alimentação animal ou para a segurança rodoviária, derretendo a neve nas estradas.
 
A enorme massa de sal formou-se há cerca de 230 milhões de anos, quando o mar ali chegava. A descida da placa terrestre da Europa em direção ao continente africano formou um sistema lagunar de água salgada, que acabou por ficar soterrado devido à ação das forças tectónicas.
 
Os túneis escavados pela ação do homem têm cerca de 4,5 metros de altura e 10 de largura. É este o maior espaço subterrâneo visitável em Portugal. Já houve vários projetos para tornar a mina um espaço de atração turística, com a criação de um museu ou de um hotel, mas acabaram por ficar na gaveta. Ainda assim, já ali foram realizadas algumas ações como exposições, projeções de cinema ou um episódio do programa da RTP 'Prós e Contras'.
 

Mas uma das maiores riquezas da mina está nos benefícios na saúde através da haloterapia, ou terapia de sal. Estudos comprovaram que respirar o ar da mina por um certo período de tempo, cerca de 4 a 6 horas diárias e durante algumas semanas, tem um enorme efeito curativo em doenças respiratórias, como a asma, e outras associadas aos ossos. A mina aceita receber ocasionalmente alguns visitantes para ali realizar tratamentos, mas não existe um programa corrente.


Quando a invasão islâmica chega a Alvor, a povoação já existia com o nome Ipses (ou Ipsa). Os romanos tinham ali criado um importante centro populacional e comercial, beneficiando da sua localização geográfica. A conquista islâmica manteve o padrão de vida da comunidade, mas fez duas alterações significativas: o nome e a construção de um sistema de defesa.


Al-Bur foi o topónimo árabe dado à povoação e do qual deriva o nome atual. Desconhece-se uma explicação concreta para a escolha da designação, mas existe a possibilidade de estar relacionada com a torre construída entre o final do emirado e o início do Califado Omíada, que entretanto governava o 'Al-Gharb', na povoação e que em árabe era designada por 'al-bury'.


Tal como a torre, o castelo (hisn) só terá sido construído pelo século IX, para garantir a segurança do povoado contra os ataques inimigos, nomeadamente vindos pelo mar. A planta quadrangular e o aparelho corrente à época, recorrendo a blocos irregulares dispostos horizontalmente, apontam para a arquitetura típica do período islâmico. Alguns troços da muralha do castelo, que rondaria os 960 metros quadrados, elevavam-se acima dos cinco metros de altura. A porta principal estava virada a Norte e a Nascente existia uma torre, que se elevava muito acima do nível do mar e que oferecia um amplo campo de visão, fundamental para a estratégia de defesa da povoação.


O castelo de Alvor sobreviveu à reconquista cristã, no final do século XII, e até a séculos de História, em que o povoado foi um dos mais importantes do Algarve. Contudo, o fim da sua função primordial e a pressão urbanística vieram alterar a paisagem local, com o castelo e as muralhas a serem sucessivamente destruídos ou incorporados na nova arquitetura urbana. Ainda assim, é possível encontrar partes do monumento classificado como Imóvel de Interesse Público, desde junho de 1984, e que incorpora um jardim infantil no seu interior desde o final da década de 90.


Com cerca de 200 quilómetros de costa a delimitar as fronteiras oeste e sul, era impossível ao Algarve não ter uma proximidade intrínseca com o mar. E assim é, há milhares de anos.

Os algarvios sempre olharam para o mar e procuraram ter uma relação próxima. Daí surgiu uma tradição marítima sentida até à alma. Traineiras, barcas, botes ou lanchas sempre saíram de porto seguro à conquista do mar. E os mariscadores sempre viveram ao sabor das suas marés.

Vieram daí as lendas, os mitos, as crenças, as tradições, as procissões, as festas do mar assentes em comunidades piscatórias à beira-mar plantadas, que continuam a viver um casamento feliz com as águas salgadas. Surgiram os portos de pesca e de recreio, as marinas, escolas náuticas e mercados, onde chega o melhor peixe fresco, tão importante na dieta algarvia.

As praias, as grutas e algares, as arribas fazem a simbiose perfeita entre mar e terra e são uma constante desde Aljezur, na costa oeste, até Vila Real de Santo António. A beleza perfeita não escapa aos que põe os olhos nestas paragens. Ou não fossem estes locais distinguidos como alguns dos mais belos do mundo ou até como "perfeitos".

Os algarvios vivem de olhos postos no mar. No mesmo mar eleito para a saída dos primeiros navegadores à procura de novos mundos. No mesmo mar por onde, muitos séculos antes, já tinham chegado outros povos, culturas e idiomas. E tal como antes, o mar está sempre presente na vida do Algarve, quer na faina piscatória, que ainda permanece, ou no turismo.

Sophia de Mello Breyner Andresen escreveu: "Quando eu morrer voltarei para buscar os instantes que não vivi junto do mar". Assim será também com o Algarve.



Se quer ter boa saúde e viver durante mais tempo, o segredo é beber água de Monchique. Dito assim é muito redutor e até parece um slogan, mas a verdade é que esta água tem propriedades muito benéficas para o corpo. E não somos só nos que acreditamos nisto, os romanos também já conheciam as benfeitorias no seu tempo.
Bicarbonatada, sódica, rica em flúor, a água de Monchique tem um pH de 9,4 e é por isso mais alcanina do País. O pH médio do sangue humano é de 7,37, mas com o desgaste da condição humana e o consequente envelhecimento e os fatores adversos, vai-se tornando mais ácido. Ingerir água de Monchique ajuda o organismo a manter o equilíbrio constante, contribui para recuperar a vitalidade e retarda os sinais associados ao envelhecimento.

Além destes, a água de Monchique tem outros benefícios para a saúde reconhecidos ao nível do funcionamento do aparelho urinário, da prevenção da cárie dentária e da formação e consolidação dos ossos. Tem ainda propriedades benéficas para o sistema digestivo, aumenta a proteção antioxidante, ajuda as defesas e hidrata a pele e o cabelo.

As primeiras análises feitas a esta água datam de 1789, mas já os romanos lhe conheciam as propriedades das águas de Monchique, que denominavam por "sagradas". A importância dada era tal que construíram um balneário na zona e bebiam-na como se de uma 'poção mágica' se tratasse. Porque além da ingestão, esta água é também usada nas termas, por ser benéfica para o tratamento de afeções respiratórias e músculo-esqueléticas e ainda em tratamentos de beleza.


Não é por acaso que as suas termas, de onde a água sai a 32º graus, são muito procuradas. Atualmente, boa parte da produção da água de Monchique é exportada como um produto gourmet devido às suas propriedades, principalmente para a China, Macau e Hong Kong.

Quando em 1189, D. Sancho I conquistou Silves aos Mouros, intitulou-se Reino de Portugal e do Algarve. A conquista desta importante cidade da época viria a revelar-se fugaz. Entre batalhas e guerras, avanços e recuos, só em 1249 D. Afonso III haveria de anexar em definitivo o território para Portugal, com a conquista do castelo de Faro. E tal como o seu ascendente, intitulou-se Rei de Portugal e do Algarve. E assim permaneceu o País até 1910.

Para esta distinção, contribuíram também as pretensões de Afonso X de Castela, que reivindicava o Algarve para os seus domínios. A questão só ficaria definitivamente resolvida e de papel passado no Tratado de Badajoz, em 1297, quando ficaram estabelecidas as fronteiras entre Portugal e o Reino de Castela.

Na realidade, a região, que era a única a ser distinguida pela Coroa portuguesa, nunca teve quaisquer privilégios, instituições, foros ou sequer autonomia. Na prática o Reino do Algarve era apenas um título honorífico usado pelos Reis. Talvez fosse apenas uma forma de distinguir a última região a ser conquistada e que se debateu por vários séculos pela sua independência, numa menção positiva.

O nome ainda viria a sofrer uma ligeira distinção quando, em 1471, deu lugar a 'Reino dos Algarves' devido à elevação dos senhorios norte-africanos da coroa portuguesa à condição de reino. Mas nenhum dos sucessivos Reis das três dinastias que governaram o País, procederam à 'unificação' do País. O Reino de Portugal e dos Algarves manteve-se até 1910, data em que Portugal passou a ser oficialmente uma República.

E a verdade é que, apesar de já não haver qualquer referência à região no nome oficial do País, 'Reino do Algarve' é uma expressão ainda muito conhecida nos dias de hoje.


Aljezur é a segunda etapa da Rota Omíada. Povoação fundada pela Dinastia Omíada, contou apenas cerca de três séculos de ocupação, mas a sua influência iria ficar para sempre logo a prtir do nome atribuído : al-Jazira, que em árabe significa ilha.


A escolha do nome denuncia que aquando da fundação da povoação, o Cerro do Castelo estaria rodeado de água. Foi nesse local que inicialmente terá sido construída uma alcaria e onde existiria uma torre defensiva ou uma cerca.


A presença Omíada na região, compreendida entre os séculos XX e XIII, estende-se à estação arqueológica do Ribate da Arrifana, onde outrora existiu um mosteiro ou uma fortaleza que serviu de refúgio espiritual ao mestre silvense Ibn Qasi. Terá sido nesse local que o poeta escreveu grande parte da sua obra mística.


As escavações levadas a cabo na Ponta do Castelo – Carrapateira, na Igreja Nova de Aljezur ou em Alcaria revelam também um legado arqueológico. Nesta povoação da freguesia de Aljezur foram encontrados silos islâmicos, bem como fragmentos de cerâmica e telha.



Já em Barrada, além de um grande número de silos, foram descobertos vestígios da dieta alimentar, como cascas de mexilhões, amêijoas, berbigões, lapas, caramujos, percebes, búzios e caracóis, além de ossos de coelho, cabra/ ovelha e veado. A vida doméstica ficou também documentada com achados de cerâmica de peças usadas na cozinha, como cântaros, vasilhas, caçoilas ou taças, de acordo com a Associação de Defesa do Património Histórico e Arqueológico de Aljezur.


Diz o ditado que "o que é doce nunca amargou". E assim será até ao final deste texto. A alma algarvia é adocicada por doces finos, morgados, dom-rodrigos, bolos de amêndoa, figo, alfarroba, de chila, ovos-moles, fios de ovos, tortas e por aí fora.

A alfarroba, a amêndoa o figo e a chila estão tão presentes na doçaria típica do Algarve que é impossível pensá-la sem eles. E assumem várias formas, feitios, combinações, sabores, sem que nenhum se incomode com a presença de outro. E quem os prova, leva sempre um pouco do sabor algarvio na boca.

Se ficássemos só por aqui, até que a dieta não ia mal de todo. Mas ainda mal começámos o banquete. Os dom-rodrigos, à base de fios de ovos e enriquecidos com canela a amêndoa, fazem jus à fidalguia do nome e apresentam-se embrulhados em papel de prata. Os morgados não querem ficar atrás e gostam de se mostrar com um manto branco de açúcar sobre um recheio de ovos, amêndoa e chila.

Não há pastelaria que se preze que não apresente aqueles pequenos bolos muito coloridos, com formas de frutos ou animais, e com um aspeto tão delicioso quanto a sua massa de amêndoa e açúcar e recheio de ovos-moles ou fios de ovos. São os doces finos e enchem tanto o olho como o paladar.

E ainda não falámos dos queijos de figo, que se apresentam para os festejos do 1º de maio com uma boa dose de amêndoa, ou dos carriços, os suspiros com um toque algarvio de amêndoas torradas e laminadas. Há tantas combinações de sabores que ficaríamos aqui para sempre. O melhor mesmo é provar um de cada e voltar a repetir se não conseguir escolher nenhum.

O nome não foi dado ao acaso. Formosa indica exatamente o que esta Ria é. Mas também lhe poderíamos chamar 'Maravilha', ou não fosse ela uma das sete Maravilhas Naturais de Portugal.

Ao longo de 60 quilómetros da costa sul do Algarve, de Loulé a Vila Real de Santo António, a Ria Formosa faz-se de cordões arenosos, que formam as penínsulas do Ancão e de Cacela Velha, e de cinco ilhas barreiras: Barreta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas. São elas que todos os anos recebem muitos dos veraneantes que vêm ao Algarve. E até tem uma praia considerada como uma das melhores praias do mundo: a praia da Fábrica, em Cacela Velha.

Mas não se admire se no ano seguinte, a paisagem tiver mudado. É que este Parque Natural está em permanente mudança devido ao movimento dos ventos, das marés e das correntes. Só duas coisas não mudam: os extensos areais brancos e o azul do mar. E praias quase desertas ou desertas, acessíveis apenas por barco privado.

A beleza desta Ria está também nas caraterísticas e nos recursos de fauna e flora que alimenta prazerosamente. O Parque Natural é a maior zona húmida do sul do País e está classificada como de elevado valor internacional e faz, por isso, parte da Lista de Sítios da Conservação de Ramsar.

Por ela se passeiam mais de 140 espécies de peixes já identificados. E também por ali passam mais de 20 mil aves aquáticas de várias espécies, que anualmente em deslocação do Norte da Europa para o continente africano. O Camão ou a Galinha-Sultana, eleita símbolo da Ria, são duas espécies raras em Portugal, que ali podem ser vistas.

Mais conhecidos e muito apreciados, são os bivalves que se reproduzem neste ambiente único, como as ostras, a amêijoa ou a conquilha e que representam cerca de 80 por cento da exportação nacional. É ela também que banha as salinas que produzem o melhor sal do País. E pode ainda conviver tranquilamente com espécies como o camaleão-comum, que em Portugal apenas se pode encontrar no Algarve, as lontras ou os cágados.

De barco, a pé, de bicicleta, a Ria Formosa guarda maravilhas para serem descobertas em passeios que serão sempre irrepetíveis.

De ponta a ponta do Algarve há produtos de excelência, banhados de sabor e cheiro, repletos de tradição e história, muitos com assinatura de exclusividade. São todos esses produtos e os locais onde os podemos encontrar que a ACRAL - Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve divulga no guia 'Lojas Tradição'.

 

Ao longo de 101 páginas é possível conhecer os produtos que fazem desta uma região de excelência. "Da orla de areias douradas até aos picos recortadas da serra, a terra e o mar são aqui capazes de produzir produtos únicos, do peixe fresco das águas cristalinas capturado na pesca tradicional, aos produtos frutícolas e hortícolas abençoados com o dourado do Sol", pode ler-se no livro.

 


O sal, os figos, as amêndoas, a alfarroba, o mel, o medronho, o peixe, os bivalves, os doces, tudo cabe neste guia, inserido na marca 'Produto Algarve', que pretende valorizar e divulgar os produtos endógenos da região. E não podiam faltar as artes e as tradições como a olaria ou a cestaria. Tudo pode ser encontrado em lojas situadas nos 16 municípios algarvios.


É a maior coleção de jogos de tabuleiro conhecida em todo o mundo e foi descoberta em Alcoutim. A nossa viagem pela Rota Omíada começa pela vila raiana, à beira do Guadiana plantada e 'guardada' pelo Castelo Velho islâmico.


Alcoutim orgulha-se dos 39 jogos de tabuleiro, construídos em xisto e grauvaque, o maior conjunto encontrado no espaço em que a Dinastia Omíada esteve presente. As ruínas do Castelo 'Velho' escondiam um tesouro arqueológico sem par, onde se incluía o ainda hoje tão comum Jogo do Galo.


Atualmente, este passado valioso encontra-se em exposição no Museu Arqueológico da vila. O elemento que marca a importância das terras de Alcoutim para a Dinastia Omíada é o castelo, edificado entre os séculos VIII e IX, localizado no cerro de Santa Bárbara, a mais ou menos 1 quilómetro a norte de Alcoutim. Mais tarde viria a ser abandonado, fruto da instabilidade local.


Ainda assim ficou um importante núcleo arqueológico e a memória histórica. Pensa-se que o castelo seria um palácio fortificado, ocupado por um grupo familiar abastado, que controlaria o tráfego mercantil do rio Guadiana, bem como a exploração mineira e económica da região.


É também possível perceber a existência de uma mesquita Omíada, única em Portugal, construída pelo século X, bem como o mihrab – nicho que indica a orientação do sentido da oração que, para os islâmicos é a cidade santa de Meca. Escavações efetuadas desde há três décadas revelaram outros vestígios arqueológicos de monta, como pontas de lança, artefatos de cerâmica e outros relacionados com jogos, além de fragmentos de tambores.


Há quem diga que é da cortiça extraída em São Brás de Alportel que saem as melhores rolhas do mundo e nós não vamos contrariar. A verdade é que a cortiça que dos sobreirais desta região corre mundo e tem fama.

A tradição corticeira já vem de longe. Pelos sobreirais, os corticeiros aplicam há séculos que as mesmas técnicas para extrair a única matéria-prima em que Portugal lidera a nível mundial. Seja em rolhas, sapatos, malas, acessórios ou objetos do quotidiano, a cortiça algarvia é muito bem cotada.

A importância desta matéria-prima é tal que motivou a criação da Rota da Cortiça, que convida os visitantes a percorrer itinerários, descobrir histórias e técnicas de preparação em seis pontos de interesse: Património, Natureza, Vida Rural, Tradição, Inovação e Conhecimento.


A cortiça de São Brás inspira também a marca Pelcor, que exporta acessórios de cortiça para todo o mundo, dos Estados Unidos ao Japão. E outras empresas que elevam este produto natural a outro nível. Porque mais do que estar na moda, a casca do sobreiro tem qualidade e charme.

Havia uma donzela de 15 anos que, ao colocar flores num altar mandado erigir pelos pais junto a uma gruta num final de tarde, se viu atacada por um fidalgo da região. A moça resistiu aos avanços violentos e pediu ajuda à Virgem da Piedade. Dá-se o milagre: a moça é salva e o atacante morre frade num convento. Esta é apenas uma das lendas da Mãe Soberana, que há 500 anos protege a região desde o seu santuário.

Na realidade, o Santuário da Mãe Soberana, padroeira de Loulé, tem a designação oficial de Nossa Senhora da Piedade, mas poucos o conhecem assim. Todos os anos, no Domingo de Páscoa, a Virgem é levada em procissão para ser adorada durante 15 dias na cidade, culminando com uma grande festa. É assim há 500 anos.

Outra lenda diz ainda os habitantes pretendiam construir uma capela junto à gruta para adorar a Virgem. Os operários que davam estrutura a essa vontade deixavam as ferramentas no local ao fim do dia, mas na manhã seguinte elas apareciam no cume do monte. O milagre era explicado com a vontade da Virgem ficar num local mais visível para ser adorada.

Lendas à parte, sabe-se que a Ermida da Nossa Senhora da Piedade foi erigida em 1553 pela extinta Ordem Militar de Santiago, e é um dos mais importantes santuários da marianos de Portugal e é reconhecida como a maior manifestação religiosa a sul de Fátima.

No final da festa, o andor com a Virgem é carregado ao ombro por oito homens até ao Santuário, ao som de música acelerada. Noutros tempos, pensava que os homens tinham capacidades sobre-humanas para subirem o cerro com tamanho peso. Agora já não é assim, mas continua a ser um esforço muito considerável.

Vamos recuar mais ou menos mil anos para nos situarmos mais ou menos entre os anos 713 a 1031. Foi durante este período que a Dinastia Omíada governou quase toda a Península Ibérica a partir de Córdoba. A importância do legado desta família de califas está agora em destaque na Rota Omíada, uma rede em que se incluem sete países e que tem o Algarve como união região portuguesa representante.


A Rota dos Omíadas do Algarve faz parte da rede internacional 'Umayyad' e estende-se a Espanha, Itália, Tunísia, Egipto, Líbano e Jordânia. O objetivo é criar uma grande itinerário turístico-cultural, dando a conhecer o património material e imaterial destas regiões.


O legado islâmico no Algarve, que teve início com a conquista da diocese visigótica Ossónoba (atual Faro) no ano de 713, começa logo no próprio nome da região que advém do árabe Al-Gharb. E ao longo de 14 localidades é possível encontrar vestígios sobre essa presença, que marcou um dos períodos mais áureos da região e influenciou para sempre as gentes, as tradições e a cultura locais.


O InAlgarve vai percorrer a Rota por terras algarvias. De Alcoutim a Vila do Bispo, passando por Tavira, Faro, Silves entre outros locais, há história, vestígios, tradições, testemunhos, lendas ou gastronomia para descobrir numa rota de turismo alternativo.


A Rota Omíada, que no Algarve é dinamizada pela Região de Turismo do Algarve e pela Direção Regional de Cultura do Algarve, está a ser preparada e deve ficar em 2016 acessível ao grande público.


Vivíamos em São Brás de Alportel... e o meu pai levava-me a passear todos os dias quando chegava do trabalho. Eu era a filha mais velha de três irmãos e de mais um ainda por nascer..." Esta é apenas uma das histórias de 'Portugal Querido', um livro assinado por Mário dos Santos Lopes que relata as memórias das famílias que deixaram Portugal e se radicaram na Argentina.
 
Mário dos Santos Lopes, jornalista e professor, é ele próprio filho de portugueses que dobraram o Atlântico à procura de um novo lar. Depois do apelo lançado nas redes sociais, selecionou 254 páginas "recheadas de testemunhos de emigrantes, referências históricas da passagem portuguesa pela Argentina, homenagem a clubes a associações dedicadas à nossa cultura e ainda relatos de cantoras argentinas que se apaixonaram pelo fado".
 
Em 'Portugal Querido', há testemunhos de emigrantes portugueses de várias origens, mas sobretudo algarvios. Para a hercúlea tarefa, Mário dos Santos Lopes contou com o apoio do irmão Victor, que abriu em Córdoba a Pousada São Brás. Ao longo de cinco anos procurou histórias de portugueses e foram mais os relatos que aquelas que pode colocar no livro. Rosa Fernandes, professora de português em Villa General Belgrano, António Monteiro, o famoso pintor que nasceu em Lisboa e que vive, desde décadas, na cidade de Córdoba também lá estão.
 
E Yudith conta o relato emocionado da partida do pai, as dificuldades da mãe para criar os filhos e do novo irmão que deveria chamar-se Abel. Havia também as cartas do pai: "Numa delas, ele dizia: 'Yudith, neste momento, olhando as estrelas, vejo nelas o brilho dos teus olhos', palavras que me ficaram gravadas na memória, apesar da minha tenra idade".


São brancas com cores bordadas, redondas como o sol ou prismáticas, quadradas ou rectangulares, mais pequenas ou maiores. São as chaminés algarvias, que denunciam a região em qualquer telhado ou arquitetura.

"Quantos dias quer de chaminé?", perguntava o mestre pedreiro ao dono da casa para a qual iria construir. Era pelo tempo que era medido o preço da obra. E quanto mais elaborado fosse o seu desenho, mais dispendiosa se tornava. Eram construídas ao gosto de cada um nos mais variados modelos e por isso se tornaram também um símbolo de vaidade. E por isso não há duas chaminés iguais. São um marca distintiva que ao longo dos séculos foi pontuando a paisagem algarvia, fruto da herança árabe na região.

E mais do que a utilidade, tinham uma função ornamental. As chaminés rendilhadas provinham normalmente de espaços onde os donos recebiam as suas visitas. As outras, as do uso diário da família, não mereciam tanta atenção no detalhe. À arte do detalhe juntava-se o orgulho do dono.


A face arquitetónica do Algarve mudou ao longo dos anos, mas as chaminés mantêm-se firmes no seu trono, silenciosas a ver passar os dias. A marcar o prestígio e a vaidade de uma região que se continua a orgulhar delas.


O Rio Guadiana corre silencioso na margem algarvia. Atento, observa tudo quanto por aqui se passa. Rasga os vales e as planícies com a calma a que as terras e as gentes obrigam. De Alcoutim a Vila Real de Santo António, é ele quem guarda (ou revela) os segredos de cá e de lá.

Quando o Rio Guadiana nasceu, havia de guardar entre os seus mais de 800 quilómetros, a melhor área navegável para o Algarve. São 68 quilómetros desde a foz, em Vila Real de Santo António, até Mértola, já no Alentejo. E em cada metro há uma história para contar, que as águas tranquilas do rio não levam nem apagam.

Ainda antes de fazer fronteira entre dois países, já o Guadiana, ou 'Ana' como os romanos lhe chamavam, havia de ser um canal de excelência para o transporte de bens. A ocupação islâmica da Península Ibérica havia de lhe introduzir a prefixo 'uad', que em árabe significa rio. O nome evoluiu para Odiana em Portugal e Guadiana em castelhano, termo que acabou por vingar na segunda metade do século XVI, à conta da influência espanhola e do período governativo dos 'Filipes' em Portugal.

O Guadiana era já por essa altura o rio com a responsabilidade de guardar as margens de dois países. E nele circulava todo o tipo de mercadorias, desde malas de correio até ao minério de São Domingo.

O rio haveria ainda de unir aquilo que a Natureza separou. Nas suas águas, faziam-se negócios, muitos na calada da noite. Quando a necessidade assim obrigava e a lei não o permitia, houve muito café, açúcar, sabão, ovos, farinha, pão ou tabaco a trocar de margem. E de lá vinha roupa, sabonetes, perfumes, conhaque, miolo de amêndoa e até alfaias. Tudo transportado às costas ou em cordas que a corrente permitia. A Via Algarviana recupera estas histórias com a Rota do Contrabandista.

Mas o 'Rio Guadiana querido', como o cantavam algarvios e alentejanos, também era fonte de sustento lícito. A riqueza das suas margens permitia o cultivo de cereais, enquanto as suas águas proporcionavam a pesca de tainhas, barbos, lampreias e enguias.

Mesmo na fronteira do Algarve, o Rio Guadiana está intrinsecamente ligado à região e à alma algarvia. Tanto que até há um Museu do Rio, em Guerreiros do Rio, Alcoutim, onde se podem encontrar estas e muitas outras histórias do quarto maior rio da Península Ibérica.