Quem
não a conhece de a ver crescer nas árvores um pouco por toda a
região? Ou de a degustar nas mais variadas iguarias que a doçaria
proporciona? A alfarroba está desde há muito presente na vida dos
algarvios e é no Algarve que tão bem se dá.
A
denominação alfarroba deriva da palavra árabe 'al karrub', mas já
os egípcios a usavam na preparação das múmias. Terá sido
introduzida pelos gregos da Ásia menor no Algarve, que, com uma
percentagem de 95%, mantém a quase exclusividade da produção
nacional, colocando o País como um dos três maiores produtores
mundiais.
Uma
das grandes qualidades da alfarroba é que todas as partes podem ser
usadas, desde a vagem às suas sementes, o que aumenta o seu valor. E
em indústrias tão diversas, como alimentar (como aditivo),
farmacêutica (para dar forma a comprimidos), cosmética (para tornar
os cremes ainda mais hidratantes), têxtil ou de papel.
A
forma mais visível em que a encontramos é nas mais variadas
receitas e formas de doçaria regional. Em tartes, bolos, tortas,
biscoitos, sozinha ou acompanhada de outros produtos regionais como a
amêndoa, o figo ou o mel. E deixe de lado a preocupação da dieta,
é que a alfarroba é apelidada de 'chocolate saudável', devido ao
baixo teor de gordura que possui e por isso um excelente substituto
daquele ingrediente.
As
qualidades nutritivas da alfarroba para a saúde estão comprovadas.
A sua composição integra elementos com vantagens para o
funcionamento do sistema nervoso, do raciocínio e da atividade
mental, para o coração e para o melhor funcionamento dos
intestinos. Além destes, funciona como antioxidante, ajuda a
combater o colesterol, a controlar a glicémia e a proliferação de
células cancerígenas.
O
potencial da alfarroba é tão elevado que não nos admira que a
semente tenha sido usada, durante muito tempo, como medida para pesar
diamantes. Outra curiosidade é que agora também já pode degustar
alfarroba em cerveja, através da Cerveja Moura, criada e produzida
no Algarve.
Chamaram-lhe a 'Montanha Sagrada' , ou mais corretamente, 'Monte Saquir', topónimo de que deriva o nome Monchique, de acordo com historiadores. A serra atribui os árabes, ao ponto de aí terem construído um hisn, ou refúgio, próximo de Alferce, nome também ele de origem islâmica.
Quando os árabes chegaram a Monchique, já os romanos tinham subido as encostas da serra e descoberto as águas termais, que designaram por 'sagradas'. Não se sabe se serviu de inspiração para o nome a atribuir àquela montanha, que permite avistar além de onde os olhos podem alcançar, uma vez que atribuíram o mesmo nome a mais três serras em Espanha, em Mojacar (Granada), Montejicar (Almeria) e Montejaque (Málaga), com a qual Monchique está geminado.
Mas é certo que os árabes ficaram rendidos e aí se estabeleceram num pequeno povoado existente desde a Idade do Bronze, próximo da atual localização da cidade de Monchique. O Castelo de Alferce, do qual apenas restam alguns vestígios entre a vegetação, funcionava como um hisn ou pequeno povoado fortificado, que tinha uma importante função estratégica.
O Castelo terá sido abandonado, provavelmente, durante o século XI, mas ainda são visíveis alguns alinhamentos das três muralhas que compunham o espaço fortificado, uma cisterna, resquícios das zonas residências, através da cerâmica ali encontrada.
O próprio nome Alferce terá sido concedido na época de ocupação árabe. Uma das raízes etimológicas que lhe está associada é a palavra 'al-faris', que em significa cavaleiro, talvez uma das funções mais importantes naquela região dado estabelecimento da fortificação.
Entre a paisagem milenar das salinas de Tavira ou pelos trilhos da serra algarvia, há um mundo de riquezas para desvendar. A Tavira Walking Tours leva-o em passeios pedestres para descobrir património, tradição, natureza e... segredos.
A Tavira Walking Tours disponibiliza três tipos de passeios em cenários distintos com um mínimo de seis quilómetros e um máximo de 12. Comecemos com um percurso à beira da água. As salinas milenares da Ria Formosa oferecem uma paisagem de rara beleza, onde se podem observar diversas espécies de aves em pleno contacto com a natureza.
Caminhando para norte, abre-se todo o cenário verde do campo e os trilhos que conduzem a nova surpresa. Num percurso de oito quilómetros, a Tavira Walking Tours convida-o a conhecer o barrocal algarvio, a descobrir uma corticeira ou a visitar uma cooperativa agrícola.
Ou pode optar por um passeio que o vai levar a descobrir os fantásticos pomares algarvios e a conhecer a antiga arte de um telheiro algarvio. E pelo caminho, deixe-se conquistar pela paisagem.
Os passeios ocorrem sempre de manhã de segunda e sábado e podem ser marcados através do mail geral@tavirawalkingtours.com ou pelo número 913 352 830. Na página da Tavira Walking Tours pode encontrar mais informações. Na imagem abaixo, pode consultar os percursos.
São
cristais riquíssimos aqueles que flutuam nas salinas do Parque
Natural da Ria Formosa ou na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim
e Vila Real de Santo António. É a mais fina flor que o Algarve pode
conceder e muito apreciada. Falamos da flor de sal.
É
na fina camada de espessura que cobre o sal grosso que se formam os
cristais de flor de sal, devido ao processo de evaporação em
condições climatéricas específicas. A sua recolha é um processo
manual feito diariamente pelos marnotos e, depois de recolhida, não
sofre qualquer processo de transformação.
Por
ser 100% natural, retém melhor os nutrientes, como ferro, zinco,
magnésio, iodo, flúor, sódio, cálcio, potássio e cobre. Mas a
sua produção é escassa e a época produtiva diminuta. Talvez por
isso haja quem também lhe chame 'caviar marinho'.
A
designação não vem ao acaso. A flor de sal, que começou por ser
usada em casa dos marnotos, realça o gosto natural dos alimentos,
conferindo um cheiro e um paladar mais intenso a cada produto. Mas
deve apenas ser usada um pouco antes de confeção ou depois dos
alimentos confecionados e em pequenas doses. E o facto de ser muito
apreciada entre os Chefs da cozinha gourmet contribuiu para a fama.
A
flor de sal produzida no Algarve é das mais conceituadas a nível
internacional. A associação francesa Nature e Progress atribuiu-lhe
a certificação de alta qualidade. E a sua produção em Tavira tem
a Denominação de Origem Protegida. Qualidade, excelência e
autenticidade, três adjetivos que podem designar a flor de sal
algarvia.
Para
todos os que acreditavam que Sagres era 'onde a terra acabava e o mar
começava', deve ter sido difícil acreditar na epopeia que aí
vinha: os Descobrimentos. Mas a ambição do Infante Dom Henrique, o
Navegador, foi mais forte que qualquer vacilo. Estava em marcha a era
da globalização que conduziu o mundo aos levou aos dias de hoje.
O
Algarve está intrinsecamente ligado à aventura de um povo que ousou
desafiar o mar, cruzou cinco continentes, conheceu novas culturas e
estabeleceu raízes "além da Taprobana", como escreveu
Luís Vaz de Camões em 'Os Lusíadas. A marca pioneira da região
nesta epopeia não vem ao acaso: o Algarve tinha vantagem no
posicionamento geo-estratégico e o povo algarvio do litoral tinha
uma relação, quase, umbilical com o mar. O Infante Dom Henrique
reconheceu as potencialidades e instalou na região o centro
nevrálgico dos Descobrimentos. Só após a sua morte, foram
centralizados em Lisboa.
Os
Descobrimentos portugueses marcaram o rumo da História mundial ao
mesmo tempo que fundearam um vasto e riquíssimo património em
vários pontos do Algarve. O mais reconhecível dessa época, e o
mais visitado a sul do Tejo, é a Fortaleza de Sagres, onde se pode
encontrar uma rosa-dos-ventos desenhada no chão e uma muralha
corta-ventos. A poucos quilómetros, encontra-se o Farol do Cabo de
São Vicente, construído no início do século XVI para contribuir
para a segurança dos navegadores.
Lagos,
que terá sido a terra natal de Gil Eanes, era por aquela altura o
centro nevrálgico para caravelas que ali fundearam e navegadores que
dali partiam em expedições, que permitiram descobrir as ilhas
atlânticas e cidades do norte de África. As muralhas e as arcadas
recordam a importância da localidade como entreposto de comércio e
o Forte do Pau da Bandeira é um elemento representativo das
fortificações marítimas. O título de 'capital dos Descobrimentos
portugueses' assenta-lhe tão bem, que ali foi criado o Museu de Cera
dos Descobrimentos.
Também
Tavira teve um papel de relevo nesta época. Após a conquista de
Ceuta, o Infante Dom Henrique foi armado cavaleiro nesta cidade, que
viu partir muitos soldados para as conquistas do norte de África,
sendo um porto de apoio a exércitos e armadas. Haveria também ser
um porto de exportação de produtos nacionais, como peixe salgado,
frutos secos ou vinho.
Os
Descobrimentos marcaram uma época e continuam a marcar o património
histórico-cultural do Algarve e das suas povoações, que se
materializa em monumentos, palácios, igrejas, conventos,
fortificações ou na réplica de uma nau quinhentista.
As
previsões para o fim de semana não são as mais animadoras: chuva,
vento e frio, muito frio. Tanto frio que até podem cair flocos de
neve na serra de Monchique. A situação não é inédita, mas também
não é usual. Há dez anos, alguns dos pontos mais altos do Algarve
assistiram à inusitada queda de neve, mas o grande nevão de que há
memória ocorreu a 2 de fevereiro de 1954, quando praticamente toda a
região ficou pintada de branco.
Contam
os relatos desse dia registado há mais de 60 anos, que a neve desceu
as terras altas e chegou a cidades costeiras como Lagos, Portimão,
Faro, Olhão ou Tavira. Já um dia antes, Aljezur e Odeceixe tinham
visto cair flocos brancos descendo do céu, numa imagem sem memória.
Era um espectáculo inédito aquele a que os algarvios estavam a
assistir e não eram as famosas amendoeiras em flor que cobriam a
paisagem de branco.
Nessa
primeira terça feira do mês de fevereiro, Lagos viu cair um
abundante nevão. Os mais idosos não escondiam o espanto de ver tal
fenómeno. Tal como em Portimão, onde a neve caiu durante três
horas nessa tarde e chegou atingiu uma altura entre os 20 e os 30
centímetros. As temperaturas rondaram nesse dia os 0 graus
centígrados, muito abaixo dos valores normais da região, em
qualquer altura.
A
neve, que até então só tinha conhecido o Alto da Fóia, na serra
de Monchique, estendia-se então a toda a região. Na zona de Silves,
a cidade e os campos ficaram 'pintados de branco' e em São Brás de
Alportel, nevou durante dez horas consecutivas, tendo as ruas ficado
cobertas por um manto de 30 centímetros. Também Loulé assistiu a
este espectáculo, como dão conta fotografias tiradas junto ao
Mercado e na Avenida José Costa Mealha.
Os
testemunhos sucedem-se. A neve caiu em Faro durante parte do dia e da
noite, despertando a curiosidade da população. Em Olhão nevou
abundantemente durante a tarde, tendo sido interrompidas a
eletricidade e as comunicações, como escreveu o 'Diário de
Notícias'. E na Fuseta "não há memória de espectáculo tão
deslumbrante".
A
neve chegou também a Tavira. O acontecimento mereceu nota de
primeira página do 'Diário de Notícias', dando conta que entre as
18:00 e as 23:00 daquele dia nevou abundantemente na cidade, tendo
atingido os 30 centímetros e o jornal 'Povo Algarvio' publicou
fotografias de crianças a brincar com a neve. Mas em Cachopo, zona
alta do concelho, a neve acumulou-se 60 centímetros e em Santa
Catarina também caiu com abundância, tendo os bombeiros sido
chamados a ajudar as populações. Lia-se na mesma publicação que
todas as árvores se assemelhavam a amendoeiras em flor.
Os
relatos dão ainda conta da queda de neve em Armação de Pêra,
Tunes, Algoz, São Bartolomeu de Messines, Porches, Alcantarinha e
Bensafrim ou Estói.
NEVE
REGRESSOU EM 2006
A
neve regressou ao Algarve em 2006, mas muito mais tímida. O Alto da
Fóia, em Monchique, foi, como sempre o ponto previsto para a queda
de neve, mas que não chegou a ultrapassar os dois centímetros.
Apesar
de em quantidade muito mais reduzida, há registos ainda de terem
caído flocos em localidades interiores de Barranco do Velho,
Cortelha, Montes Novos, Ameixial, Malhão, Messines e São Marcos da
Serra.
Das
mãos de artesãos nasce um dos elementos mais tradicionais do
Barrocal: a empreita. Sob a forma de ceiras, açafates, cestaria,
chapéus esteiras ou malas de senhora, as folhas de palma
entrelaçadas dão forma ao tradicional artesanato algarvio.
A
arte da empreita surgiu da necessidade de transportar bens,
essencialmente alimentares, como figo, alfarroba ou amêndoa, num
tempo que em não havia a disponibilidade de outro tipo de sacos. Em
açafates, ceiras ou cestaria, a arte popular tornou-se útil, em
vassouras, tapetes, vasculhos, capachos, bases para mesa, fruteiras,
revestimentos para garrafas, e popular, fazendo parte da decoração
das habitações.
O
nome deste tipo de artesanato provém de 'empreitada', que
determinava o valor final do objeto pela quantidade e qualidade da
matéria-prima usada: a folha de palma anã, um planta típica do
Barrocal algarvio. As folhas são apanhadas verdes e deixadas a
secar, divididas pelo tamanho. É este o elemento que define que tipo
de objeto que pode ser feito. Podem ser usadas secas ou tingidas,
para dar cores e desenhos que ornamentam a empreita.
O
trabalho de entrelaçar as folhas de palma era responsabilidade das
mulheres, principalmente quando havia menos trabalho no campo. E a
arte é tão morosa e dolorosa para as mãos que é vista com
respeito.
A
empreita perdeu espaço na vida quotidiana com a chegada de objetos
que a substituíam. Mas a sua arte fina nunca deixou de encantar e
ganha agora fôlego com o projeto TASA e a empresa Companhia das
Cestas, que produz objetos personalizados e acessórios que estão a
conquistar celebridades internacionais.
Há
duas coisas que são sinónimo de Algarve. Que atraem tantos os que
cá moram, como os que visitam a região. A sua fama percorre mundo
não só no verão, mas também no inverno. É isso mesmo: são a
praia e o sol. Ou não fosse esta a região com quase 200 quilómetros
de costa e mais de 300 dias de sol por ano.
O
Algarve é a região do País com mais horas de sol em todo o ano.
Diz, quem fez as contas, que são mais de 3000 horas distribuídas
pelo fantástico verão, época alta do turismo, e pelas restantes
estações, que atraem muitos à região à procura dos raios de luz
e de temperaturas mais amenas, principalmente vindos do norte da
Europa.
E
quando esse sol que agracia algarvios e turistas, se une aos mais de
100 areais do Algarve temos a combinação perfeita. De Aljezur a
Vila Real de Santo António são cerca de 200 quilómetros de praias
tão distintas como ímpares, tão belas como deslumbrantes.
Nós
até podemos ser suspeitos, mas a verdade é que a região tem
conquistado sucessivamente o prémio de Melhor Destino de praia da
Europa. E não há ranking internacional que não se atreva a não
incluir praias algarvias entre as melhores do mundo. São os casos da
Praia da Marinha, de Salema, do Castelejo ou de Benagil, só para
falar das mais recentes premiadas.
E
o que torna as praias algarvias, muitas com Bandeira Azul e Qualidade
de Ouro, ainda mais especiais são os diferentes cenários: enseadas,
falésias, grutas, rochas, amplos areais. Há as praias mais
turísticas, as mais familiares, as mais românticas, as mais
acessíveis, as mais isoladas, as mais selvagens ou naturistas. Com
águas mais quentes, mais transparentes, mais tranquilas ou agitadas
como as praias da Costa Vicentina. Há praias para todos os gostos,
sem esquecer as fluviais, e não vai daqui ninguém sem encontrar o
seu paraíso.
Faro exerceu desde sempre um atrativo sobre os povos que ocuparam a região algarvia e os Omíadas não foram exceção. Séculos após a sua presença, perduram na cidade vestígios do seu legado, em particular na arquitetura.
Saliente na paisagem urbana farense e muito apreciada é o espaço muralhado, que corresponde à atual Vila-Adentro. A muralha, que já existe desde o tempo romano, é reforçada durante a segunda metade do século IX, por ordem do governo de Yahyâ b. Bakr, que manda também colocar portas de ferro. Na altura, o mar batia junto aos muros da cidade e estava muito exposta a possíveis invasões.
Pela entrada nascente, por quem vinha de terra, a agora denominada Porta do Arco do Repouso recebia quem chegava. O Arco sofreu grandes transformações no século XVIII, mas subsistem duas torres albarrãs, mandadas erigir no século XIII e avançadas em relação à muralha, o que constituem uma inovação defensiva, ao permitir atacar o inimigo pelas costas.
Ainda assim, terá sido por esta Porta que se deu a conquista de Faro pelos Cristãos, em 1249, comandados por Dom Afonso III, que sob o arco terá descansado, contribuindo para a atual denominação.
No plano da muralha, é ainda possível ver as torres semicirculares/heptagonais e quadrangulares, que terão sido adaptadas pelos Omíadas durante os séculos IX e X, a partir dos originais construídos pelos romanos.
A Porta do Arco da Vila esconde um vestígio único em todo o Algarve. Haveria ali uma entrada com um imponente arco em ferradura, com mais de quatro metros de altura e dois de largura, e que terá sido construído no século XI, integrando uma entrada em cotovelo.
Os trabalhos arqueológicos têm revelado outros vestígios da ocupação islâmica na cidade. Na Rua do Município foi descoberto um bairro habitacional de artífices e na Horta da Misericórdia pode identificar-se uma zona residencial de maior dimensão, além de materiais cerâmicos.
O atual edifício da Sé de Faro esconde também sob si outras religiões. Sendo um templo durante a ocupação romana, foi convertida numa mesquita pelos governantes árabes. Tal como aconteceu com outros templos, foi reconvertida em igreja cristão, após a reconquista no século XIII.
Se
um algarvio lhe disser que "'Tá o mar fêto num cão", não
se assuste, quer apenas dizer que o mar está revolto. Mas se alguém
passar por si sem o cumprimentar e com cara feia, é caso para dizer
"Moss marafado, já nem dás de vaia!". São expressões do
falar algarvio, particulares da região e ainda mais específicas das
diversas zonas do Algarve.
Apesar
de algum desuso, os algarvios continuam a usar expressões e palavras
que só os locais entendem com facilidade. É quase como se fosse um
dialecto regional, em que expressões da língua nacional são
transformadas e readaptadas à realidade local. Nas zonas rurais,
devido ao prolongado isolamento a que o Algarve esteve sujeito, estes
fenómenos linguísticos têm mais nítidas diferenciações, como
nota Eduardo Brazão Gonçalves, autor do 'Dicionário de Falar
Algarvio', mas no litoral, no Sotavento, no Barlavento ou em
comunidades, há expressões e palavras que só entende quem de lá
é, sem a ajuda de tradução.
Há
expressões já muito conhecidas de todos como 'marafado', que
significa que furioso, ou 'alcagoitas', que mais não é que
amendoins, mas há outras que ainda deixam a pensar quem as ouve,
como 'xoxa de velha' ou 'charinga-te'. A primeira é uma alforreca
negra muito típica da Ria Formosa e a segunda quer dizer
'aborrecer', verbo que também é muito usado na expressão
"charinga-te c'o corno, que'é pau que nã se gasta!"
Estas
e outras cerca de mil expressões fazem também parte do livro
'Heróis à Moda do Algarve', de Miguel Brito de Oliveira, que
integra a Coleção Heróis, uma recolha de expressões orais e
dizeres típicos de cada região.
Mas
não pense que basta dizer "vender aguardente" ou "tem
avonde", para já falar algarvio. É preciso também o sotaque e
a entoação, que até pode variar de zona para zona, como acentuar
palavras sem acento ou terminar com 'e'. No fundo, as expressões
algarvias são uma forma de falar "como imagem sonora, rica e
expressiva do pensar e de o sentir de uma gente", sublinha
Eduardo Brazão Gonçalves.
Já
agora, 'vender aguardente' significa que alguém está desfraldado ou
com a braguilha aberta e 'tem avonde' quer dizer 'já chega'.
As
praias algarvias conquistam quem as visita. Mas nem só as areias
caramelizadas e os longos banhos no mar apaixonam os visitantes.
Também há quem venha pelas ondas, para seguir os seus desenhos,
para as cortar, para as dominar em cima da prancha. São as ondas da
Costa Vicentina que têm fãs de todo o mundo.
De
Odeceixe ao Cabo de São Vicente, existe um spot ideal com cerca de
60 quilómetros de uma costa quase em estado selvagem. Como as ondas
indomáveis das praias escondidas em falésias, que fascinam
surfistas e bodyborders portugueses e estrangeiros.
Odeceixe,
Carreagem, Arrifana, Canal, Vale Figueiras, Carrapateira, Amado,
Cordoama, Ponta Ruiva, Beliche, Martinhal são destinos obrigatórios
para quem gosta de 'partir ondas'. Nem todas são de fácil acesso,
mas a adrenalina de as cavalgar começa com a conquista da bela
paisagem natural.
"As
ondas quebravam uma a uma / Eu estava só com a areia e a espuma / Do
mar que cantava só para mim", escrevia Sophia de Mello Breyner
Andresen no poema 'As Ondas', tão encantada com este mar, como os
surfistas e bodyborders que escolhem a Costa Vicentina para momentos
de adrenalina.
Miguel
Esteves Cardoso dedicou a sua mais recente crónica semanal no jornal
'Público' a Tavira, onde confessa, num relato escrito no plural,
"boquiabertos, encontrámos luz. Encontrámos calor. Encontrámos
céu azul". O escritor, crítico e cronista saúda no texto,
intitulado 'As Espertinhas no Ar', o estado primaveril que sente na
cidade, tanto no ar, como na gastronomia.
"Havia
muitos passarinhos", relata Miguel Esteves Cardoso, que descreve
o voo das andorinhas que, partilhando do "mesmo êxtase",
parecia que tinham "acabado de chegar ao único bocadinho de
Portugal que conseguiu ficar ao sol", numa referência aos dias
de mau tempo vividos no País.
Na
crónica, o escritor revela que as andorinhas "não se tinham
ido embora", devido ao bom tempo. "Fizeram o que nós
deveríamos ter feito", escreve Miguel Esteves Cardoso, lançando
a pergunta: "Mas cabe na cabeça de alguém ou de algum
passarinho deixar um sítio como Tavira?".
Mas
nem só de andorinhas se faz a primavera de Tavira quando o
calendário cumpre ainda a segunda semana de fevereiro. O escritor
revela que ao jantar degustou "as primeiras favas do ano,
sublimes". E a dúvida instalou-se dada a época do ano. "Sim,
em Tavira é assim", sublinha. "E éramos os únicos que
não sabiam que em Tavira é mesmo assim, avançado no tempo e de
costas para o Portugal atrasado, frio, obscuro e encharcado que é um
vergonha nacional".
Esta
não é a primeira vez que Miguel Esteves Cardoso faz referência à
cidade nas suas crónicas. Já antes tinha falado sobre as qualidades
dos gelados naturais criados pela Gelataria Delizia.
A
beleza natural aliada à humanidade e à espiritualidade confere à
Ponta de Sagres um catáter místico. Há quem lhe chame por isso o
Promontório Sagrado, também pela vertente religiosa que assumiu
desde tempos remotos. Por uma ou outra razão, o extremo sudoeste da
Europa continental continua a atrair visitantes, que continuam sem
desvendar o mistério deste local.
Os
vestígios mais antigos encontrados na Ponta de Sagres datam do
período Neolítico, entre o século quarto e o terceiro a.C., com a
presença de menires e cromeleques a assinalar já a componente
espiritual da zona.
O
nome 'Sagres' deriva da presença romana na região. Também este
povo se encantou pela região, onde o pôr-do-sol dava nova vida à
agua. Da sua presença, restam ainda uma residência, termas e
tanques de salga de peixe e até um centro de cerâmica com três
fornos que seriam usados na produção de âncoras.
Já
durante o período cristão, foi construída uma ermida em honra de
São Vicente, cujo corpo ali terá dado à costa. A Igreja do Corvo,
nome dado pelo pássaro que seguia o cadáver do mártir, chamou ao
apelo de peregrinos, que ali rumaram durante séculos, mesmo quando a
Dinastia Omíada já governava a região e a ermida se passou a
denominar Kaniçat al-Ghurab, juntando cristãos e muçulmanos.
"Aqui
onde termina a terra e o mar começa" havia de marcar também o
início de uma nova era a uma escala, à época, desconhecida. Seria
no cabo do mundo, como durante séculos foi conhecido, que o Infante
Dom Henrique delineou os planos para conquistar além mar. Essa
primeira marca na globalização valeu ao Promontório o título de
Património Europeu, atribuído pela União Europeia.
A
Fortaleza de Sagres, um prolongamento humano do rochedo natural, foi
construída durante o século XV, durante os planos expansivos
portugueses. A sua importância levou o pirata Sir Francis Drake a
destruí-la durante o século XVI. Mais tarde voltou a ser
reconstruída e foi durante séculos a principal praça de guerra do
sistema marítimo geo-estratégico. Atualmente está classificada
como Monumento Nacional e é o espaço cultural mais visitado a sul
do Rio Tejo.
Indiferente
ao solo, tanto se dá no Litoral como no Barrocal, mas só existe no
Algarve. O tomilho-cabeçudo, também usado para temperos, tem uma
distribuição muito restrita no Sotavento algarvio e, por isso,
precisa ser preservado.
O
tomilho-cabeçudo, ou Thymus lotocephalus, é uma espécie que tanto
se dá em solos calcareníticos como nos solos arenosos ácidos do
Litoral, ou em pinhais abertos ou em clareiras de matos, sobre solos
calcários do barrocal algarvio.
O
inverno é o período mais difícil para o tomilho-cabeçudo, que não
reage bem às adversidades da meteorologia. Mas pelas últimas chuvas
da estação, a espécie renova folhagem, para no final da primavera
despontam as 'cabeças' que irão florir e dar a cor violeta à
planta. São essas flores, demasiado grandes para a planta, que não
ultrapassa os 20 cm de altura, que diferenciam esta espécie com o
nome 'cabeçudo'.
Além
de preencher a paisagem com uma bela cor violeta, o tomilho-cabeçudo
é também uma planta muito aromática, usada em diversos pratos
gastronómicos algarvios, principalmente na zona Barrocal. É exemplo
disso a cataplana de cavala, batata-doce e tomilho-cabeçudo ou
pratos de caça.
Por
ser uma espécie de distribuição restrita, o seu estado de
preservação é difícil, tornando-a numa das espécies mais raras
do Sotavento algarvio. Por este motivo e pela pressão urbanística
sentida principalmente na zona litoral do Algarve, o tomilho-cabeçudo
é uma espécie que tem o estatuto de conservação nacional e está
protegido pela Convenção de Berna.
Ainda
assim, têm sido esforços para proteger e desenvolver esta espécie,
nomeadamente através de viveiros controlados, que servem também as
cozinhas algarvias.