A primeira referência à existência da alcaria de Sanbras surge numa obra do século XIII escrita por por Ibn al-Abbar, onde surge sob a forma de Xanabûx. A povoação já existia durante a ocupação romana e continuaria durante a ocupação islâmica.


A alcaria de Sanbras integrava por essa altura os mapas da comarca regional de Santa Maria de Ossonoba, que se viria a designar Faro. Não existem dados concretos, mas terá sido uma povoação islâmica fortificada de três ou quatro hectares, que estaria relacionada com o hisn (castelo) de Burtala, referido pelo geógrafo árabe al-Idrisi (séc. XII) e atualmente identificado no Vale de Alportel.


Pelo concelho, os vestígios materiais e imateriais do período islâmico sucedem-se. Diversos materiais recolhidos em vários sítios arqueológicos, compreendidos entre os séculos X e XIII, mostram a existência de uma rede de povoamento, que se dividia em alcarias ou casas rurais, que se dedicariam sobretudo à atividade agrícola.


A pesquisa arqueológica permitiu já identificar louça de mesa, de cozinha, de armazenamento e de construção. Foram também encontrados artefactos metálicos, como amuletos com inscrições religiosas e um conjunto de moedas.


Além dos registos físicos, há também o património imaterial que permanece sob a forma de lendas das mouras encantadas ou nas toponímias de algumas povoações que remetem para a presença islâmica neste território: Fonte do Mouro, Cerro da Mesquita, Mesquita Alta ou Mesquita Baixa.


A Crónica da Conquista do Algarve, datada do século XIII, coloca a célebre batalha de Bisbarat, entre os cristãos comandados por D. Paio Peres e islâmicos, no sítio do Desbarato, nos limites do atual concelho de São Brás de Alportel com Tavira.


Quem não a conhece de a ver crescer nas árvores um pouco por toda a região? Ou de a degustar nas mais variadas iguarias que a doçaria proporciona? A alfarroba está desde há muito presente na vida dos algarvios e é no Algarve que tão bem se dá.

A denominação alfarroba deriva da palavra árabe 'al karrub', mas já os egípcios a usavam na preparação das múmias. Terá sido introduzida pelos gregos da Ásia menor no Algarve, que, com uma percentagem de 95%, mantém a quase exclusividade da produção nacional, colocando o País como um dos três maiores produtores mundiais.

Uma das grandes qualidades da alfarroba é que todas as partes podem ser usadas, desde a vagem às suas sementes, o que aumenta o seu valor. E em indústrias tão diversas, como alimentar (como aditivo), farmacêutica (para dar forma a comprimidos), cosmética (para tornar os cremes ainda mais hidratantes), têxtil ou de papel.

A forma mais visível em que a encontramos é nas mais variadas receitas e formas de doçaria regional. Em tartes, bolos, tortas, biscoitos, sozinha ou acompanhada de outros produtos regionais como a amêndoa, o figo ou o mel. E deixe de lado a preocupação da dieta, é que a alfarroba é apelidada de 'chocolate saudável', devido ao baixo teor de gordura que possui e por isso um excelente substituto daquele ingrediente.

As qualidades nutritivas da alfarroba para a saúde estão comprovadas. A sua composição integra elementos com vantagens para o funcionamento do sistema nervoso, do raciocínio e da atividade mental, para o coração e para o melhor funcionamento dos intestinos. Além destes, funciona como antioxidante, ajuda a combater o colesterol, a controlar a glicémia e a proliferação de células cancerígenas.


O potencial da alfarroba é tão elevado que não nos admira que a semente tenha sido usada, durante muito tempo, como medida para pesar diamantes. Outra curiosidade é que agora também já pode degustar alfarroba em cerveja, através da Cerveja Moura, criada e produzida no Algarve.


Chamaram-lhe a 'Montanha Sagrada' , ou mais corretamente, 'Monte Saquir', topónimo de que deriva o nome Monchique, de acordo com historiadores. A serra atribui os árabes, ao ponto de aí terem construído um hisn, ou refúgio, próximo de Alferce, nome também ele de origem islâmica.


Quando os árabes chegaram a Monchique, já os romanos tinham subido as encostas da serra e descoberto as águas termais, que designaram por 'sagradas'. Não se sabe se serviu de inspiração para o nome a atribuir àquela montanha, que permite avistar além de onde os olhos podem alcançar, uma vez que atribuíram o mesmo nome a mais três serras em Espanha, em Mojacar (Granada), Montejicar (Almeria) e Montejaque (Málaga), com a qual Monchique está geminado.


Mas é certo que os árabes ficaram rendidos e aí se estabeleceram num pequeno povoado existente desde a Idade do Bronze, próximo da atual localização da cidade de Monchique. O Castelo de Alferce, do qual apenas restam alguns vestígios entre a vegetação, funcionava como um hisn ou pequeno povoado fortificado, que tinha uma importante função estratégica.


O Castelo terá sido abandonado, provavelmente, durante o século XI, mas ainda são visíveis alguns alinhamentos das três muralhas que compunham o espaço fortificado, uma cisterna, resquícios das zonas residências, através da cerâmica ali encontrada.


O próprio nome Alferce terá sido concedido na época de ocupação árabe. Uma das raízes etimológicas que lhe está associada é a palavra 'al-faris', que em significa cavaleiro, talvez uma das funções mais importantes naquela região dado estabelecimento da fortificação.


Entre a paisagem milenar das salinas de Tavira ou pelos trilhos da serra algarvia, há um mundo de riquezas para desvendar. A Tavira Walking Tours leva-o em passeios pedestres para descobrir património, tradição, natureza e... segredos.

 

A Tavira Walking Tours disponibiliza três tipos de passeios em cenários distintos com um mínimo de seis quilómetros e um máximo de 12. Comecemos com um percurso à beira da água. As salinas milenares da Ria Formosa oferecem uma paisagem de rara beleza, onde se podem observar diversas espécies de aves em pleno contacto com a natureza.

 

Caminhando para norte, abre-se todo o cenário verde do campo e os trilhos que conduzem a nova surpresa. Num percurso de oito quilómetros, a Tavira Walking Tours convida-o a conhecer o barrocal algarvio, a descobrir uma corticeira ou a visitar uma cooperativa agrícola.

 

Ou pode optar por um passeio que o vai levar a descobrir os fantásticos pomares algarvios e a conhecer a antiga arte de um telheiro algarvio. E pelo caminho, deixe-se conquistar pela paisagem.

 


Os passeios ocorrem sempre de manhã de segunda e sábado e podem ser marcados através do mail geral@tavirawalkingtours.com ou pelo número 913 352 830. Na página da Tavira Walking Tours pode encontrar mais informações. Na imagem abaixo, pode consultar os percursos.


São cristais riquíssimos aqueles que flutuam nas salinas do Parque Natural da Ria Formosa ou na Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António. É a mais fina flor que o Algarve pode conceder e muito apreciada. Falamos da flor de sal.

É na fina camada de espessura que cobre o sal grosso que se formam os cristais de flor de sal, devido ao processo de evaporação em condições climatéricas específicas. A sua recolha é um processo manual feito diariamente pelos marnotos e, depois de recolhida, não sofre qualquer processo de transformação.

Por ser 100% natural, retém melhor os nutrientes, como ferro, zinco, magnésio, iodo, flúor, sódio, cálcio, potássio e cobre. Mas a sua produção é escassa e a época produtiva diminuta. Talvez por isso haja quem também lhe chame 'caviar marinho'.

A designação não vem ao acaso. A flor de sal, que começou por ser usada em casa dos marnotos, realça o gosto natural dos alimentos, conferindo um cheiro e um paladar mais intenso a cada produto. Mas deve apenas ser usada um pouco antes de confeção ou depois dos alimentos confecionados e em pequenas doses. E o facto de ser muito apreciada entre os Chefs da cozinha gourmet contribuiu para a fama.

A flor de sal produzida no Algarve é das mais conceituadas a nível internacional. A associação francesa Nature e Progress atribuiu-lhe a certificação de alta qualidade. E a sua produção em Tavira tem a Denominação de Origem Protegida. Qualidade, excelência e autenticidade, três adjetivos que podem designar a flor de sal algarvia.

Para todos os que acreditavam que Sagres era 'onde a terra acabava e o mar começava', deve ter sido difícil acreditar na epopeia que aí vinha: os Descobrimentos. Mas a ambição do Infante Dom Henrique, o Navegador, foi mais forte que qualquer vacilo. Estava em marcha a era da globalização que conduziu o mundo aos levou aos dias de hoje.

O Algarve está intrinsecamente ligado à aventura de um povo que ousou desafiar o mar, cruzou cinco continentes, conheceu novas culturas e estabeleceu raízes "além da Taprobana", como escreveu Luís Vaz de Camões em 'Os Lusíadas. A marca pioneira da região nesta epopeia não vem ao acaso: o Algarve tinha vantagem no posicionamento geo-estratégico e o povo algarvio do litoral tinha uma relação, quase, umbilical com o mar. O Infante Dom Henrique reconheceu as potencialidades e instalou na região o centro nevrálgico dos Descobrimentos. Só após a sua morte, foram centralizados em Lisboa.

Os Descobrimentos portugueses marcaram o rumo da História mundial ao mesmo tempo que fundearam um vasto e riquíssimo património em vários pontos do Algarve. O mais reconhecível dessa época, e o mais visitado a sul do Tejo, é a Fortaleza de Sagres, onde se pode encontrar uma rosa-dos-ventos desenhada no chão e uma muralha corta-ventos. A poucos quilómetros, encontra-se o Farol do Cabo de São Vicente, construído no início do século XVI para contribuir para a segurança dos navegadores.

Lagos, que terá sido a terra natal de Gil Eanes, era por aquela altura o centro nevrálgico para caravelas que ali fundearam e navegadores que dali partiam em expedições, que permitiram descobrir as ilhas atlânticas e cidades do norte de África. As muralhas e as arcadas recordam a importância da localidade como entreposto de comércio e o Forte do Pau da Bandeira é um elemento representativo das fortificações marítimas. O título de 'capital dos Descobrimentos portugueses' assenta-lhe tão bem, que ali foi criado o Museu de Cera dos Descobrimentos.

Também Tavira teve um papel de relevo nesta época. Após a conquista de Ceuta, o Infante Dom Henrique foi armado cavaleiro nesta cidade, que viu partir muitos soldados para as conquistas do norte de África, sendo um porto de apoio a exércitos e armadas. Haveria também ser um porto de exportação de produtos nacionais, como peixe salgado, frutos secos ou vinho.


Os Descobrimentos marcaram uma época e continuam a marcar o património histórico-cultural do Algarve e das suas povoações, que se materializa em monumentos, palácios, igrejas, conventos, fortificações ou na réplica de uma nau quinhentista.

As previsões para o fim de semana não são as mais animadoras: chuva, vento e frio, muito frio. Tanto frio que até podem cair flocos de neve na serra de Monchique. A situação não é inédita, mas também não é usual. Há dez anos, alguns dos pontos mais altos do Algarve assistiram à inusitada queda de neve, mas o grande nevão de que há memória ocorreu a 2 de fevereiro de 1954, quando praticamente toda a região ficou pintada de branco.
 
Contam os relatos desse dia registado há mais de 60 anos, que a neve desceu as terras altas e chegou a cidades costeiras como Lagos, Portimão, Faro, Olhão ou Tavira. Já um dia antes, Aljezur e Odeceixe tinham visto cair flocos brancos descendo do céu, numa imagem sem memória. Era um espectáculo inédito aquele a que os algarvios estavam a assistir e não eram as famosas amendoeiras em flor que cobriam a paisagem de branco.
 
Nessa primeira terça feira do mês de fevereiro, Lagos viu cair um abundante nevão. Os mais idosos não escondiam o espanto de ver tal fenómeno. Tal como em Portimão, onde a neve caiu durante três horas nessa tarde e chegou atingiu uma altura entre os 20 e os 30 centímetros. As temperaturas rondaram nesse dia os 0 graus centígrados, muito abaixo dos valores normais da região, em qualquer altura.
 
A neve, que até então só tinha conhecido o Alto da Fóia, na serra de Monchique, estendia-se então a toda a região. Na zona de Silves, a cidade e os campos ficaram 'pintados de branco' e em São Brás de Alportel, nevou durante dez horas consecutivas, tendo as ruas ficado cobertas por um manto de 30 centímetros. Também Loulé assistiu a este espectáculo, como dão conta fotografias tiradas junto ao Mercado e na Avenida José Costa Mealha.
 
Os testemunhos sucedem-se. A neve caiu em Faro durante parte do dia e da noite, despertando a curiosidade da população. Em Olhão nevou abundantemente durante a tarde, tendo sido interrompidas a eletricidade e as comunicações, como escreveu o 'Diário de Notícias'. E na Fuseta "não há memória de espectáculo tão deslumbrante".
 
A neve chegou também a Tavira. O acontecimento mereceu nota de primeira página do 'Diário de Notícias', dando conta que entre as 18:00 e as 23:00 daquele dia nevou abundantemente na cidade, tendo atingido os 30 centímetros e o jornal 'Povo Algarvio' publicou fotografias de crianças a brincar com a neve. Mas em Cachopo, zona alta do concelho, a neve acumulou-se 60 centímetros e em Santa Catarina também caiu com abundância, tendo os bombeiros sido chamados a ajudar as populações. Lia-se na mesma publicação que todas as árvores se assemelhavam a amendoeiras em flor.
 
Os relatos dão ainda conta da queda de neve em Armação de Pêra, Tunes, Algoz, São Bartolomeu de Messines, Porches, Alcantarinha e Bensafrim ou Estói.
 
NEVE REGRESSOU EM 2006
 
A neve regressou ao Algarve em 2006, mas muito mais tímida. O Alto da Fóia, em Monchique, foi, como sempre o ponto previsto para a queda de neve, mas que não chegou a ultrapassar os dois centímetros.
 

Apesar de em quantidade muito mais reduzida, há registos ainda de terem caído flocos em localidades interiores de Barranco do Velho, Cortelha, Montes Novos, Ameixial, Malhão, Messines e São Marcos da Serra.

Das mãos de artesãos nasce um dos elementos mais tradicionais do Barrocal: a empreita. Sob a forma de ceiras, açafates, cestaria, chapéus esteiras ou malas de senhora, as folhas de palma entrelaçadas dão forma ao tradicional artesanato algarvio.

A arte da empreita surgiu da necessidade de transportar bens, essencialmente alimentares, como figo, alfarroba ou amêndoa, num tempo que em não havia a disponibilidade de outro tipo de sacos. Em açafates, ceiras ou cestaria, a arte popular tornou-se útil, em vassouras, tapetes, vasculhos, capachos, bases para mesa, fruteiras, revestimentos para garrafas, e popular, fazendo parte da decoração das habitações.

O nome deste tipo de artesanato provém de 'empreitada', que determinava o valor final do objeto pela quantidade e qualidade da matéria-prima usada: a folha de palma anã, um planta típica do Barrocal algarvio. As folhas são apanhadas verdes e deixadas a secar, divididas pelo tamanho. É este o elemento que define que tipo de objeto que pode ser feito. Podem ser usadas secas ou tingidas, para dar cores e desenhos que ornamentam a empreita.

O trabalho de entrelaçar as folhas de palma era responsabilidade das mulheres, principalmente quando havia menos trabalho no campo. E a arte é tão morosa e dolorosa para as mãos que é vista com respeito.

A empreita perdeu espaço na vida quotidiana com a chegada de objetos que a substituíam. Mas a sua arte fina nunca deixou de encantar e ganha agora fôlego com o projeto TASA e a empresa Companhia das Cestas, que produz objetos personalizados e acessórios que estão a conquistar celebridades internacionais.

Há duas coisas que são sinónimo de Algarve. Que atraem tantos os que cá moram, como os que visitam a região. A sua fama percorre mundo não só no verão, mas também no inverno. É isso mesmo: são a praia e o sol. Ou não fosse esta a região com quase 200 quilómetros de costa e mais de 300 dias de sol por ano.

O Algarve é a região do País com mais horas de sol em todo o ano. Diz, quem fez as contas, que são mais de 3000 horas distribuídas pelo fantástico verão, época alta do turismo, e pelas restantes estações, que atraem muitos à região à procura dos raios de luz e de temperaturas mais amenas, principalmente vindos do norte da Europa.

E quando esse sol que agracia algarvios e turistas, se une aos mais de 100 areais do Algarve temos a combinação perfeita. De Aljezur a Vila Real de Santo António são cerca de 200 quilómetros de praias tão distintas como ímpares, tão belas como deslumbrantes.

Nós até podemos ser suspeitos, mas a verdade é que a região tem conquistado sucessivamente o prémio de Melhor Destino de praia da Europa. E não há ranking internacional que não se atreva a não incluir praias algarvias entre as melhores do mundo. São os casos da Praia da Marinha, de Salema, do Castelejo ou de Benagil, só para falar das mais recentes premiadas.

E o que torna as praias algarvias, muitas com Bandeira Azul e Qualidade de Ouro, ainda mais especiais são os diferentes cenários: enseadas, falésias, grutas, rochas, amplos areais. Há as praias mais turísticas, as mais familiares, as mais românticas, as mais acessíveis, as mais isoladas, as mais selvagens ou naturistas. Com águas mais quentes, mais transparentes, mais tranquilas ou agitadas como as praias da Costa Vicentina. Há praias para todos os gostos, sem esquecer as fluviais, e não vai daqui ninguém sem encontrar o seu paraíso.


Faro exerceu desde sempre um atrativo sobre os povos que ocuparam a região algarvia e os Omíadas não foram exceção. Séculos após a sua presença, perduram na cidade vestígios do seu legado, em particular na arquitetura.


Saliente na paisagem urbana farense e muito apreciada é o espaço muralhado, que corresponde à atual Vila-Adentro. A muralha, que já existe desde o tempo romano, é reforçada durante a segunda metade do século IX, por ordem do governo de Yahyâ b. Bakr, que manda também colocar portas de ferro. Na altura, o mar batia junto aos muros da cidade e estava muito exposta a possíveis invasões.


Pela entrada nascente, por quem vinha de terra, a agora denominada Porta do Arco do Repouso recebia quem chegava. O Arco sofreu grandes transformações no século XVIII, mas subsistem duas torres albarrãs, mandadas erigir no século XIII e avançadas em relação à muralha, o que constituem uma inovação defensiva, ao permitir atacar o inimigo pelas costas.


Ainda assim, terá sido por esta Porta que se deu a conquista de Faro pelos Cristãos, em 1249, comandados por Dom Afonso III, que sob o arco terá descansado, contribuindo para a atual denominação.


No plano da muralha, é ainda possível ver as torres semicirculares/heptagonais e quadrangulares, que terão sido adaptadas pelos Omíadas durante os séculos IX e X, a partir dos originais construídos pelos romanos.


A Porta do Arco da Vila esconde um vestígio único em todo o Algarve. Haveria ali uma entrada com um imponente arco em ferradura, com mais de quatro metros de altura e dois de largura, e que terá sido construído no século XI, integrando uma entrada em cotovelo.


Os trabalhos arqueológicos têm revelado outros vestígios da ocupação islâmica na cidade. Na Rua do Município foi descoberto um bairro habitacional de artífices e na Horta da Misericórdia pode identificar-se uma zona residencial de maior dimensão, além de materiais cerâmicos.



O atual edifício da Sé de Faro esconde também sob si outras religiões. Sendo um templo durante a ocupação romana, foi convertida numa mesquita pelos governantes árabes. Tal como aconteceu com outros templos, foi reconvertida em igreja cristão, após a reconquista no século XIII.


Se um algarvio lhe disser que "'Tá o mar fêto num cão", não se assuste, quer apenas dizer que o mar está revolto. Mas se alguém passar por si sem o cumprimentar e com cara feia, é caso para dizer "Moss marafado, já nem dás de vaia!". São expressões do falar algarvio, particulares da região e ainda mais específicas das diversas zonas do Algarve.

Apesar de algum desuso, os algarvios continuam a usar expressões e palavras que só os locais entendem com facilidade. É quase como se fosse um dialecto regional, em que expressões da língua nacional são transformadas e readaptadas à realidade local. Nas zonas rurais, devido ao prolongado isolamento a que o Algarve esteve sujeito, estes fenómenos linguísticos têm mais nítidas diferenciações, como nota Eduardo Brazão Gonçalves, autor do 'Dicionário de Falar Algarvio', mas no litoral, no Sotavento, no Barlavento ou em comunidades, há expressões e palavras que só entende quem de lá é, sem a ajuda de tradução.

Há expressões já muito conhecidas de todos como 'marafado', que significa que furioso, ou 'alcagoitas', que mais não é que amendoins, mas há outras que ainda deixam a pensar quem as ouve, como 'xoxa de velha' ou 'charinga-te'. A primeira é uma alforreca negra muito típica da Ria Formosa e a segunda quer dizer 'aborrecer', verbo que também é muito usado na expressão "charinga-te c'o corno, que'é pau que nã se gasta!"

Estas e outras cerca de mil expressões fazem também parte do livro 'Heróis à Moda do Algarve', de Miguel Brito de Oliveira, que integra a Coleção Heróis, uma recolha de expressões orais e dizeres típicos de cada região.

Mas não pense que basta dizer "vender aguardente" ou "tem avonde", para já falar algarvio. É preciso também o sotaque e a entoação, que até pode variar de zona para zona, como acentuar palavras sem acento ou terminar com 'e'. No fundo, as expressões algarvias são uma forma de falar "como imagem sonora, rica e expressiva do pensar e de o sentir de uma gente", sublinha Eduardo Brazão Gonçalves.

Já agora, 'vender aguardente' significa que alguém está desfraldado ou com a braguilha aberta e 'tem avonde' quer dizer 'já chega'.

As praias algarvias conquistam quem as visita. Mas nem só as areias caramelizadas e os longos banhos no mar apaixonam os visitantes. Também há quem venha pelas ondas, para seguir os seus desenhos, para as cortar, para as dominar em cima da prancha. São as ondas da Costa Vicentina que têm fãs de todo o mundo.

De Odeceixe ao Cabo de São Vicente, existe um spot ideal com cerca de 60 quilómetros de uma costa quase em estado selvagem. Como as ondas indomáveis das praias escondidas em falésias, que fascinam surfistas e bodyborders portugueses e estrangeiros.

Odeceixe, Carreagem, Arrifana, Canal, Vale Figueiras, Carrapateira, Amado, Cordoama, Ponta Ruiva, Beliche, Martinhal são destinos obrigatórios para quem gosta de 'partir ondas'. Nem todas são de fácil acesso, mas a adrenalina de as cavalgar começa com a conquista da bela paisagem natural.

"As ondas quebravam uma a uma / Eu estava só com a areia e a espuma / Do mar que cantava só para mim", escrevia Sophia de Mello Breyner Andresen no poema 'As Ondas', tão encantada com este mar, como os surfistas e bodyborders que escolhem a Costa Vicentina para momentos de adrenalina.

Miguel Esteves Cardoso dedicou a sua mais recente crónica semanal no jornal 'Público' a Tavira, onde confessa, num relato escrito no plural, "boquiabertos, encontrámos luz. Encontrámos calor. Encontrámos céu azul". O escritor, crítico e cronista saúda no texto, intitulado 'As Espertinhas no Ar', o estado primaveril que sente na cidade, tanto no ar, como na gastronomia.
 
"Havia muitos passarinhos", relata Miguel Esteves Cardoso, que descreve o voo das andorinhas que, partilhando do "mesmo êxtase", parecia que tinham "acabado de chegar ao único bocadinho de Portugal que conseguiu ficar ao sol", numa referência aos dias de mau tempo vividos no País.
 
Na crónica, o escritor revela que as andorinhas "não se tinham ido embora", devido ao bom tempo. "Fizeram o que nós deveríamos ter feito", escreve Miguel Esteves Cardoso, lançando a pergunta: "Mas cabe na cabeça de alguém ou de algum passarinho deixar um sítio como Tavira?".
 
Mas nem só de andorinhas se faz a primavera de Tavira quando o calendário cumpre ainda a segunda semana de fevereiro. O escritor revela que ao jantar degustou "as primeiras favas do ano, sublimes". E a dúvida instalou-se dada a época do ano. "Sim, em Tavira é assim", sublinha. "E éramos os únicos que não sabiam que em Tavira é mesmo assim, avançado no tempo e de costas para o Portugal atrasado, frio, obscuro e encharcado que é um vergonha nacional".
 
Esta não é a primeira vez que Miguel Esteves Cardoso faz referência à cidade nas suas crónicas. Já antes tinha falado sobre as qualidades dos gelados naturais criados pela Gelataria Delizia. 

A beleza natural aliada à humanidade e à espiritualidade confere à Ponta de Sagres um catáter místico. Há quem lhe chame por isso o Promontório Sagrado, também pela vertente religiosa que assumiu desde tempos remotos. Por uma ou outra razão, o extremo sudoeste da Europa continental continua a atrair visitantes, que continuam sem desvendar o mistério deste local.

Os vestígios mais antigos encontrados na Ponta de Sagres datam do período Neolítico, entre o século quarto e o terceiro a.C., com a presença de menires e cromeleques a assinalar já a componente espiritual da zona.

O nome 'Sagres' deriva da presença romana na região. Também este povo se encantou pela região, onde o pôr-do-sol dava nova vida à agua. Da sua presença, restam ainda uma residência, termas e tanques de salga de peixe e até um centro de cerâmica com três fornos que seriam usados na produção de âncoras.

Já durante o período cristão, foi construída uma ermida em honra de São Vicente, cujo corpo ali terá dado à costa. A Igreja do Corvo, nome dado pelo pássaro que seguia o cadáver do mártir, chamou ao apelo de peregrinos, que ali rumaram durante séculos, mesmo quando a Dinastia Omíada já governava a região e a ermida se passou a denominar Kaniçat al-Ghurab, juntando cristãos e muçulmanos.

"Aqui onde termina a terra e o mar começa" havia de marcar também o início de uma nova era a uma escala, à época, desconhecida. Seria no cabo do mundo, como durante séculos foi conhecido, que o Infante Dom Henrique delineou os planos para conquistar além mar. Essa primeira marca na globalização valeu ao Promontório o título de Património Europeu, atribuído pela União Europeia.

A Fortaleza de Sagres, um prolongamento humano do rochedo natural, foi construída durante o século XV, durante os planos expansivos portugueses. A sua importância levou o pirata Sir Francis Drake a destruí-la durante o século XVI. Mais tarde voltou a ser reconstruída e foi durante séculos a principal praça de guerra do sistema marítimo geo-estratégico. Atualmente está classificada como Monumento Nacional e é o espaço cultural mais visitado a sul do Rio Tejo.

Indiferente ao solo, tanto se dá no Litoral como no Barrocal, mas só existe no Algarve. O tomilho-cabeçudo, também usado para temperos, tem uma distribuição muito restrita no Sotavento algarvio e, por isso, precisa ser preservado.
 
O tomilho-cabeçudo, ou Thymus lotocephalus, é uma espécie que tanto se dá em solos calcareníticos como nos solos arenosos ácidos do Litoral, ou em pinhais abertos ou em clareiras de matos, sobre solos calcários do barrocal algarvio.
 
O inverno é o período mais difícil para o tomilho-cabeçudo, que não reage bem às adversidades da meteorologia. Mas pelas últimas chuvas da estação, a espécie renova folhagem, para no final da primavera despontam as 'cabeças' que irão florir e dar a cor violeta à planta. São essas flores, demasiado grandes para a planta, que não ultrapassa os 20 cm de altura, que diferenciam esta espécie com o nome 'cabeçudo'.
 
Além de preencher a paisagem com uma bela cor violeta, o tomilho-cabeçudo é também uma planta muito aromática, usada em diversos pratos gastronómicos algarvios, principalmente na zona Barrocal. É exemplo disso a cataplana de cavala, batata-doce e tomilho-cabeçudo ou pratos de caça.
 
Por ser uma espécie de distribuição restrita, o seu estado de preservação é difícil, tornando-a numa das espécies mais raras do Sotavento algarvio. Por este motivo e pela pressão urbanística sentida principalmente na zona litoral do Algarve, o tomilho-cabeçudo é uma espécie que tem o estatuto de conservação nacional e está protegido pela Convenção de Berna.
 

Ainda assim, têm sido esforços para proteger e desenvolver esta espécie, nomeadamente através de viveiros controlados, que servem também as cozinhas algarvias.