Se
há algo que não pode faltar no Natal são os doces, de preferência
uma mesa bem recheada dos mais tradicionais sabores. E se o bolo-rei
não pode faltar, as mesas algarvias enchem-se de iguarias típicas
da época que evocam os melhores produtos da região.
O
figo e a amêndoa são dois dos sabores presentes na mesa de Natal,
apresentados nas mais diversas receitas. Há estrelas, queijos
de figo, lado a lado com bolos de amêndoa ou o morgado típico de
Lagos. E se a preferência for para pastéis, há de figo, amêndoa,
de gema de ovos ou de massa amêndoa e caramelo, típicos da zona de
Tavira ou de massa tenra recheados com amêndoa, batata-doce,
grão ou gila, que se podem encontrar em Olhão.
Se
já está com água na boca, então avisamos que a gula vai aumentar.
Há ainda os deliciosos bolos de mel, as fatias douradas, as
'empanadilhas' ou azevias, as filhós de canudo ou enroladas, os
brinhóis, que não dispensam o vinho do Porto, os tão típicos
e aconchegantes dons-rodrigos.
Diz-se
que "o Natal é quando um homem quiser", mas também há a
certeza que há doces que têm um sabor especial nesta quadra.
Natal
é sinónimo de gastronomia. É à roda da mesa que se vive a maior
festividade do ano. Dos livros de receitas vêm as receitas típicas
que muitos passam o ano inteiro a desejar. O Natal já não é o que
era e as tradições evoluem ao longo dos anos. Mas o InAlgarve foi
à procura dos pratos típicos que se comem à mesa dos algarvios
nesta época.
Um
dos pratos que mais chama a atenção é o litão, um pequeno tubarão
também conhecido como pata-roxa. Seco ao sol, este peixe entra na
ementa da noite de consoada da zona de Olhão por se assemelhar ao
típico tradicional, usado mais a norte do país. A tradição de
cozinhar o litão vem do tempo em que era um produto mais acessível
em comparação com o bacalhau. Atualmente, a tendência inverteu-se,
mas a tradição ficou. O litão entra também à mesa de
algumas zonas litorais de Tavira, Faro e Portimão.
Quem
conhece a tradição sabe que o litão tem que ser guisado. Depois as
receitas podem variar ao gosto de cada um. Há quem junte feijão
branco e o transforme numa variante da feijoada ou quem ao guisado
junte batatas cozidas às rodelas. A única certeza é que é o litão
a brilhar neste prato.
A
noite da consoada fica marcada pela Missa do Galo. Não se sabe se o
nome alguma coisa tem a ver com o animal que faz as delícias de
muitos numa das noites mais ansiadas do ano. O galo é escolhido
meses antes e bem criado para fazer as delícias de toda a família.
Na falta do galo, a galinha de cerejada com pão caseiro ou de
cabidela. Havia também nas zonas do barrocal quem guardasse o porco
para esta festa. No almoço de Natal, manda a tradição que se coma
a 'roupa velha', o que sobrou da festa da noite anterior.
E
doces? Esses ficam para outro artigo.
Já
lhe chamam o 'Rio do Dragão Azul' e deixou os chineses completamente
encantandos. Na realidade trata-se da Ribeira de Odeleite, em Castro
Marim, e vista de cima assume a forma de um dragão, uma figura
mitológica que significa boa sorte.
A
imagem foi captada por um passageiro que viajava de avião de
Amesterdão (Holanda) para Marraquexe (Marrocos). Ao sobrevovoar o
Algarve, ficou rendido aos contornos e à cor desta ribeira e
partilhou a fotografia aérea. O fervor foi tal que a imagem foi
partilhada dezenas de milhares de vezes nas redes sociais.
É
que para os chineses o dragão significa poder, força e boa sorte e
é uma figura que está acima dos restantes animais do horóscopo. A
importância atribuída ao dragão é tal que foi este o padrão
escolhido pelos imperadores para usarem nas suas vestes e insígnias.
As
supertições fazem parte da tradição popular da China. O ano do
dragão no zoodíaco chinês é o mais comemorado dos 12 signos, por
ser visto como um ciclo auspicioso. Daí que milhares de pessoas
tenham partilhado a imagem como desejo de boa sorte para as suas
vidas.
A
laranja, o corridinho, os percebes, o Reino do Algarve, a alfarroba,
o falar algarvio, o figo, a Ria Formosa ou o xarém, tudo isto e
muito mais cabe na identidade algarvia, uma identidade que a Região
de Turismo do Algarve acaba de resumir no livro digital '45 coisas
que caracterizam a alma algarvia'.
"O
desafio era de grande monta: condensar tudo o que nos identifica
enquanto povo e região", pode ler-se na introdução ao e-book,
que já disponível ao público. A seleção de 45 coisas que
caracterizam a alma algarvia prende-se com o mesmo número de anos
que a entidade assinalou em 2015.
E
há também os percebes, a Ponta de Sagres, a batata-doce, os
camones, o medronho, o mar e o sol, o marisco, as grutas e algares, a
cataplana, o Barrocal ou a chaminé. Tudo isto e muito mais para
descobrir numa região milenar, rica em tradições, história ou
culturas.
"Quanto
ao ficou de fora, talvez possa ser incluído por si mais tarde.
Afinal esta lista é infinita. Como a nossa alma", escreve ainda
a Região de Turismo no livro
digital
bque
já está disponível.
Que
é uma das maravilhas que o mundo nunca viu ou uma das praias que
ninguém acredita que existem, já se sabia. Mas agora a gruta de
Benagil é eleita como um dos "50 lugares mais bonitos do
mundo" segundo a revista Condé Nast Traveler.
A
gruta portuguesa é o quarto destaque da lista elaborada pela
conceituada publicação que descreve a costa sul de Portugal como um
local "repleto de praias e grutas requintadas, incluindo a
famosa gruta de Benagil".
O
local situado no concelho de Lagoa aparece ao lado de paisagens de
sonho ou das construções mais famosas do mundo. Entre os dez
primeiros estão a Cappadocia (Turquia), Salar de Unyuni (Bolívia),
Mù Cang Chai (Vietname), Sneffels (Islândia), Ilha de Palawan
(Filipinas), Veneza (Itália, Ashikaga Flower Park (Japão), Brecon
Beacons National Park (Reino Unido) e Deserto de Namib
(Namíbia).
As
fotografias da gruta de Benagil, criadas pela erosão marítima, são
das mais partilhadas pelo mundo inteiro. Para lá chegar, é preciso
ir de barco ou caiaque. Ir a nado quando o mar está calmo é
possível, mas uma hipótese arriscada.
O
'Corridinho' é a dança tradicional mais popularizada e associada
ao Algarve, mas os movimentos acelerados da música e os trajes
coloridos proporcionam muitos outros corropios ondulantes.
O InAlgarve foi
à procura desses movimentos tradicionais que se podem encontrar na
região num encontro entre a influência de outros povos e a
imaginação dos algarvios para lhes imprimir a sua alma e a sua
tradição.
Corridinho
O
Corridinho surge nos primeiros anos do século XX. Este género
musical teve origem na Europa oriental e foi trazida para o Algarve
por um espanhol Lorenzo Alvarez Garvia para cortejar a louletana
Maria da Conceição, dedicando-lhe a polca La Azucena.
A
rápida popularização do acordeão, que chegou à região nos
finais do século XIX, veio enriquecer os reportórios tradicionais
das danças de salão da época - polcas e mazurcas -, que
passam a ser interpretadas nos bailaricos do campo. É da sua
reinvenção e reinterpretação que nasce o corridinho.
Para
entrar nesta dança. os pares sempre agarrados formam uma roda, as
raparigas por dentro e os rapazes por fora. Ao girar da roda, os
pares evoluem de lado e a certa altura, quando a música repica, os
pés batem no chão com vigor, parando a roda para prosseguir logo de
seguida.
Bailes
de Roda
Neste
género de dança, há inúmeras músicas que lhe dão vida como 'Tia
Anica de Loulé', a 'Amendoeira', a 'Libra' ou o 'Papelinho'.
Baile
Mandado
De
influência francesa, neste baile, quem dita o ritmo dos pares é
o mandador, ao mesmo tempo que conta ums história em rima ou uma
quadra satírica. A dança pode manter-se por tempo indeterminado,
assim tenha a resistência dos bailarinos e a inspiração de quem
manda.
Balso
Marcado ou Balso Rasteiro
O
Balso é um género de valsa amarzucada, inspirado no original
alemão. Num ritmo relativamente baixo em relação a outras danças,
os pares dançam numa roda em passos certos que se repetem ao longo
da música.
Chotiça
ou Xotiça
A
chotiça nasceu no seio da região alemã da Boémia e popularizou-se
com o aparecimento do acordeão na música. Com um ritmo binário ou
quaternário, assumiu várias expressões em diversos pontos da
Europa. No Algarve foi introduzida como dança de salão.
Seguidilhas
Estas
danças são muito típicas em Vila Real de Santo António e da zona
interior do Baixo Alentejo. De inspiração espanhola, foram
reinventadas e apresentam características únicas.
Balso
Pulado
Esta espécie
de polca continua a ser muito interpretada por alguns ranchos
folclóricos nas suas atuações.
Quando em 1542 Frei Pedro de Vila Viçosa fundou o Convento da Graça, já o edifício contava uma história que se confunde com a própria história da cidade Tavira e as diferentes religiões que nela existiram. E se a sua existência até aí não foi linear, nos séculos seguintes a estabilidade também não foi a palavra de ordem. Mas como qualquer herói de resistência, o Convento sobreviveu. Agora é uma Pousada.
Após a ordem de expulsão dos judeus no final do século XV, D. Pedro I ordena também a conversão de sinagogas em espaços cristãos. A decisão real sentenciou o esvaziamento do edifício construído dentro da antiga muralha. Foi a oportunidade para Frei Pedro de Vila Viçosa escolher este local para instalar a Ordem dos Agostinhos, face ao impedimento de levar a congregação até à praça africana de Azamor.
Diz o povo que "pau que nasce torto, tarde ou nunca se endireita" e o provérbio parece inspirado no Convento da Graça. As obras só começariam já na segunda metade do século XVI, depois de Frei Valentim da Luz, responsável pelas primeiras modificações, ter sido acusado pela Inquisição e morto num auto de fé, devido às posições consideradas protestantes.
As obras durariam cerca de um século e das alterações iniciais pouco resta à exceção do claustro, que mantém a estrutura original de conceção renascentista. Durante o século XVIII, apenas duzentos anos desde o início da construção, já o convento estava em avançado estado de degradação.
Em 1749, arranca a operação de reconstrução do Convento da Graça, sob as ordens do arquiteto algarvio Diogo Tavares e do Mestre Bento Correia, que lhe há-de dar a conceção barroca, que ainda hoje mantêm. Desta época resistenm a grandiosa fachada principal, duas torres retangulares e janelões de molduração barroca.
A vida do Convento acabou por ser curta. Em 1839, com a extinção das ordens religiosas, o edifício foi entregue ao Ministério da Guerra, que ali instalou uma unidade militar. O espaço passou a chamar-se então Quartel da Graça. Posteriormente há ainda registos de ter sido um hospital militar, uma arrecadação e até uma garagem.
Mas o Convento havia de continuar a resistir. Já no século XXI, o edifício foi convertido na sua a sua utilização atual: a Pousada do Convento da Graça, pertencente à rede das Pousadas de Portugal. E foi durante o período em que o edifício foi requalificado que foi descoberta a sua história mais antiga: o bairro Almóada.
Sob o lado poente da antiga cerca conventual, concentrava-se o bairro islâmico do século XIII, formado por treze casas. As edificações são um bom exemplo do urbanismo islâmico na região, onde se revelam troços de habitações e ruas, bem como o sistema de canalizações. Parte do espólio foi preservado em Museu, mas há ainda muitos vestígios que podem ser vistos no local. E não precisa de ser visitante da Pousada para aceder ao espaço.
Nasceu em Faro um conceito inovador: uma loja que junta no mesmo espaço gastronomia tradicional com artesanato e cultura. Raquel Azevedo é a criadora da Algarve Lovers, um espaço dinâmico que abriu portas há apenas um mês.
"Fiz muita pesquisa e com este conceito não havia nada", começa por explicar Raquel Azevedo ao InAlgarve, sublinhando que "achei que Faro precisava de uma coisa destas". Por vontade da sua criadora, mais do que uma loja de produtos tradicionais, a Algarve Lovers é um espaço dinâmico.
No número 5 da Rua Rebelo da Silva, há um conjunto de produtos tradicionais algarvios que deixam qualquer um com água na boca: compotas de vários sabores, muxama, conservas, licores, flor de sal, azeite, trufas, mel ou doces de figo.
E porque a alma também precisa de cultura para se alimentar, encontra na Algarve Lovers quadros únicos da pintora Susana Velez, de Loulé, ímans criados pelo artista Sérgio Viana, ou chaminés e moinhos em miniatura.
De segunda a sábado, descubra o melhor tradição algarvia com um toque de modernidade na Algarve Lovers.
É
de laranjas e searas em miniatura que é feito o presépio
tradicional do Algarve. Muito longe dos tradicionais presépios, que
se podem encontrar um pouco por todo o mundo, esta exposição
pretende pedir ajuda ao Menino Jesus para que o ano seja de
abundância, evitando os perigos da fome.
As
raízes do presépio algarvio vêm da Idade Média, quando o Natal
passa a constar dos festejos da Igreja Católica. É por esta
altura que o nascimento de Jesus desperta curiosidade e começa a ser
explicado ao povo, fascinado pela história do menino. À falta de
figuras ou adereços, que apenas começam a aparecer em edições
exclusivas, a versão do Presépio é muito simples.
O
primeiro presépio com fruta e pequenas searas foi montado pela
primeira vez pelo Cardeal Bérulle (séc. XVI / XVII) , em França.
Para evocar a época natalícia, foi montado um pequeno altar, onde
se distribuiam de forma regular os dois géneros alimentares.
Esta
recriação foi adotada no Algarve ainda durante o séc. XVII, para
ser exposta quer nos locais religiosos, quer nas casas familiares. A
tradição à volta no Natal estabeleceu-se em rituais. A preparação
começa a 8 de dezembro, dia dedicado à Nossa Senhora da Conceição,
com sementeira de alguns cereais, como trigo, aveia, milho, cevada ou
lentinhas, que depois de germinarem vão adornar o altar.
A
feitura do presépio fica reservada para apenas nove dias antes do
Natal, quando os altares, semelhantes aos que se podem encontrar em
Igrejas, começam a ser montados. As pequenas searas, que entretanto
germinam, e a fruta são dispostos nos vários degraus do
presépio. O mais alto fica reservado para a figura do menino. O
presépio fica exposto até ao Dia de Reis - 6 de janeiro -, altura
em que as searas em miniatura são transplantadas com a esperança de
que seja um ano de grande abundância.
O
presépio tradicional algarvio foi adotado noutras regiões como a
Madeira e os Açores e chegou também ao Brasil. Contudo, foi
progressivamente substituído pela representação mais comum do
nascimento de Jesus. Ainda assim, há quem continue a manter a
tradição e conribua para que não perca esta representação
singular.
Potenciar
o que já existe na região e criar uma estratégia de comunicação
são dois vetores que a Associação do Comércio e Serviços da
Região do Algarve (ACRAL) está a desenvolver no âmbito do projeto
Marca 'Produto Algarve'. Em conversa com o InAlgarve,
Victor Guerreiro, presidente da Associação, explica o caminho que
terá de ser feito e sublinha: "Esta região, para além do que
se conhece, que é o turismo, tem muito mais".
InAlgarve
- Como é que os produtores podem integrar a Marca 'Produto Algarve'?
Victor
Guerreiro - O primeiro passo é serem associados da ACRAL e
depois terão de adquirir o selo, que passa por situações
burocráticas.
IA
- Quais são os critérios para aderir à Marca?
VG
- Pegando no exemplo da laranja: a laranja do Algarve tem
especificidades concretas, ao nível dos componentes e será a
Universidade, através dos seus laboratórios, que a irá analisar.
Depois há produtos que têm são transformados, que têm de ter uma
componente de produtos de região. Não será necessário ter 100 por
cento, mas terá de ter uma grande maioria percentagem. São
temáticas que ainda estão em estudo. As empresas também podem ter
uma candidatura a um selo, desde que ela obedeça a um conjunto de
requisitos: empregados da região, sede na região, pagar impostos na
região. No fundo o que se pretende é potenciar a região num todo e
não estar a dispersar essas situações.
Como
exemplo, nós no Algarve, falando do figo e da amêndoa, já fomos
exportadores em grande escala. Isso foi-se diluindo e hoje torna a
ser importante. As pessoas percebem isso e está-se a plantar
novamente. Se nós não tivermos algum rigor, corremos o risco de
estar a certificar a cesta que vem da China e o figo que vem da
Turquia. Pode ser um bom projeto, pode ser interessante para a
região, potenciando a economia, mas se for feito seriamente, com
cabeça, tronco e membros e se houver algum desvio, pode ser uma
situação de menos valência e é isso que não queremos. Temos de
ter cuidado a encontrar o modo certo, a forma certa, potenciar isto
sem desvios.
IA
- Há já algum tipo de iniciativa preparada?
VG
- Não vamos comunicar para já, porque iríamos criar algumas
expectativas que ainda não existem. O selo ainda não está
disponível, nós temos comunicado isto. O que existe é de facto o
projeto, que está na sequência do levantamento destas situações.
A segunda fase será de facto a forma como é que se vai atribuir o
selo e em que condições se vai atribuir a terceira fase é
potenciar a economia e começar a vender fora.
IA
– Quando está previsto o início da terceira fase?
VG
- Nós queremos ter o selo operacional no primeiro trimestre do
próximo ano. Mas a burocracia é complicada, por nossa vontade já
está feito, mas estamos a fazer os possíveis, temos uma equipa a
tratar dessas situações. Na relação que temos tido com as forças
políticas, e nem só da região, consideram um projeto interessante.
Temos a própria CCDR e o seu presidente [David Santos] muito focados
nisto. Ajudar a região com certeza, mas milagres não podem fazer.
IA
- Se estivesse numa iniciativa lá fora, que diria sobre que região
é esta, o que tem para dar ao mundo?
VG
- Esta região, para além do que se conhece, que é o turismo,
tem muito mais que isso. Para além do turismo, do sol e da praia,
temos mais estas e outras valências A comunicação não será só
ao nível dos produtos, mas será uma comunicação ao nível da
região como um todo. Aquilo que é a capacidade, a segurança, as
gentes, a gastronomia, tudo isso. Na altura iremos fazer uma parceria
com a Dieta Mediterrânea. Essas valências poderão ajudar-nos a
sair um pouco desta casca que nós temos tido, que no meu ponto de
vista bem, mas é preciso dar um passo em frente e ir à procura de
novos horizontes.
IA
- Como definiria o Algarve?
VG
- Eu não encontro nenhuma parte do mundo que tenha tantas
valências todas num conjunto. Há quem tenha melhores praias, melhor
sol, há quem tenha melhor isto ou aquilo, mas segurança,
gastronomia, gentes, sol, praia, isto tudo num conjunto não existe.
Eu penso que este canto, o país em si, mas em particular o Algarve
foi abençoado por Deus. O slogan terá que ser este: eu amo o
Algarve.
A
Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve
(ACRAL) está a lançar o projeto Marca 'Produto Algarve', que
pretende acrescentar valor aos recursos endógenos.
O InAlgarve esteve
à conversa com Victor Guerreiro, presidente da Associação, que
explica como está a ser desenvolvido o projeto, que pretende criar
uma nova dinâmica na economia da região. Em discurso direto e
sem tabus, Victor Guerreiro identifica os problemas do Algarve e
aponta as soluções.
InAlgarve
- O que é a marca 'Produto Algarve'?
Victor
Guerreiro - Esta marca 'Produto Algarve' vem na sequência
daquilo que a associação entende que passa pela valorização dos
produtos da região. Nós temos excelentes produtos, mas não
conseguimos acrescentar valor a esses mesmos produtos, por exemplo,
no caso dos citrinos. Temos uma laranja, provavelmente das
melhores do mundo, há quem diga que é a melhor do mundo, mas de
qualquer forma quando ela entra em competição ou em termos de
análise com outras laranjas, é tudo laranjas. Eu não consigo
depois dizer esta laranja é do Algarve e
tem estas características. Este selo, chamado 'Produto
Algarve', terá exatamente a diferenciação do que é a
laranja do Algarve com a laranja do resto do país ou do resto do
mundo. Desse ponto de vista, faz todo o sentido, sendo uma
associação empresarial, criar dinâmica e mais valia aos produtos
da região no sentido de criar valor.
IA
- O que é preciso para os produtos terem o selo 'Produto Algarve'?
VG - O
projeto é feito três fases. Esta foi a primeira fase de
identificação e um estudo feito em termos dos produtos e da
região, com empresas, produções e produtos, com
lojas tradição onde os produtos se vendem. Depois
vai ter uma segunda fase, que é de facto as valências e as
condições para que o produto justifique ter um selo dessa natureza.
Estamos a desenvolver um projeto com a Universidade do Algarve, que
será a entidade, do nosso ponto de vista, independente, externa e
com know-now, de modo a que ela diga "da análise do
produto que fizemos, este justifica o selo, aquele não". O
selo 'Produto Algarve' não é só um selo, para os produtos será um
selo e para toda a economia. Uma empresa que tenha algum tipo de
mais valias, valências identificadas com a região pode
ter o selo. A segunda fase é esta.
A terceira
fase, chamar-se-á Algarve Exportador. Saímos de uma fase em que
fizemos um estudo. Normalmente há estudos para todos os gostos,
mas depois esses estudos não têm aplicabilidade em termos
de economia. Nós entendemos que tínhamos que passar
à fase seguinte. Depois de estar encontrada a forma de atribuir o
selo, põem-se o problema "como vamos vender os
produtos?". Nós temos na região pequenas quantidades de
produtos, temos que criar condições para que eles interajam
entre si e, quando se apresentem no mercado para vender fora, se
apresentem num conjunto e não isoladamente. O que nós entendemos é
que o Algarve Exportador terá de ter um stand com dimensão
porque vai representar uma região, cuja imagem desse stand
será a imagem turística e dentro do stand estão os
produtos da região.
O
que nós pretendemos é um pouco mais além, criando tecnologia
adequada ao sistema, no sentido de alguém que
produz dez dúzias de ovos não vai fazer nada, mas se
outro tiver, 5, 10, 20 e tal, há possibilidade e capacidade de
juntar tudo isso para acrescentar quantidade, no sentido
até de se ter possibilidade de poder exportar. No fundo, quando
vamos para uma feira internacional, o que se pretende é dizer "na
minha região Algarve, o que lá temos é isto, o produto que é
5 toneladas, uma tonelada, meia tonelada, o que for, mas é isto".
Não
se pretende massificar produto, não temos quantidade para isso. O
que pretendemos é acrescentar valor, isto é, hoje, eu com
dez toneladas faturo 100 euros, e o que eu pretendo é com as mesmas
dez toneladas faturar 150. Isso é acrescentar valor. Isto tem como
consequência que, uma associação empresarial tem uma missão
fundamental, prioritária, que é criar condições para que as
empresas façam negócio, ganhem dinheiro e criem emprego. Desse
ponto de vista, entendemos que é nesta conjuntura de união
e de promover uma região, acrescentando valor ao que já
existe, e que de certa forma, penso que toda a região,
nomeadamente o turismo será um turismo diferenciador,
introduzindo outras valências. Digamos que é tentar pôr a economia
da região funcionar para um bem comum, que é um bem
de todos, um bem da região, que é de facto o emprego. Na
minha opinião, não há razão nenhuma objetiva para o Algarve ter
emprego.
IA
- O Algarve já não é só praia e sol?
VG - É
muito ainda sol e praia, infelizmente, do meu ponto de vista. O
Algarve tem de deixar de ser só sol e praia. Dir-lhe-ia que, na
minha idade, assisti ao desenvolvimento do turismo, há umas
décadas, e isso implicou a desertificação do barrocal e
da serra algarvia. Na altura não havia gente especializada no
turismo, qualquer senhora que trabalhava de enxada assumiu
um emprego num hotel, recebia um ordenado fixo ao final do
mês e outras condições. Hoje, entendo que se não fizermos o
movimento ao contrário, não temos sustentabilidade nem no turismo
nem na região. O turismo é o que é, mais hotel, menos hotel, mais
percentagem, mais dormida, menos dormida, mas andamos por aqui.
Se conseguirmos criar condições para que o Algarve venda todas as
suas mais valências, o seu sol para a captação de emprego, de
empresas. Nós temos condições para isso, estamos a duas
horas/duas horas e meia de todas as capitais europeias e
com este clima.
Hoje
no Algarve, se alguém quiser fazer algum desporto, primeiro
aluga um quarto de hotel e depois vai à procura do desporto, nós
entendemos que tem de ser ao contrário. Primeiro tenho que
oferecer um pacote das várias atividades que tenho aqui e eu porque
quero fazer a atividade num clima fantástico, com um regime de
segurança, acabo por ter que alugar a casa, comer aqui e tenho que
fazer despesa. Temos de ter alternativas diferenciadoras.
O
Promontório de Sagres tem a partir de agora a Marca de Património
Europeu, atribuída pela União Europeia. O local mítico do
Algarve foi escolhido pela sua importância história na era dos
Descobrimentos, "que marcaram a expansão, lançando a
civilização europeia no seu caminho para o projeto global, que veio
a definir o mundo moderno", escreve a instituição.
Para
a União Europeia, que atribui pela terceira vez esta distinção a
locais portugueses, o Promontório de Sagres, localizado em Vila do
Bispo, apresenta uma "paisagem rica do ponto de vista
histório e cultural", onde se podem encontrar "vestígios
arqueológicos significativas estruturas urbanas e monumentos".
A localização estratégica e a importância que teve na
história europeia também não foram esquecidos.
O
Promontório de Sagres, no sudoeste do Algarve, foi o local escolhido
pelo Infante D. Henrique, em meados do século XV, para encetar
o sonho marítimo que iria estabelecer novas fronteiras e dar a
conhecer novos mundos, colocando Portugal à cabeça dos
Descobrimentos, que viriam a marcar toda a História do mundo até
aos dias de hoje.
A
distinção a nível europeu reveste-se ainda de maior importância
por ocorrer numa altura em que a Região de Turismo do Algarve está
a promover a
candidatura à UNESCO para colocar a Fortaleza de Sagres na categoria
de 'Lugares de Primeira Globalização'. A
sustentar esta iniciativa está o património e os elementos
históricos para o mundo que este local encerra.
A
iniciativa europeia pretende dar destaque e visibilidade locais que
demonstrem a integração e a história da União. Além de Sagres,
Portugal já tinha visto ser distinguidos a Biblioteca da
Universidade de Coimbra e Carta de Lei de Abolição da Pena de Morte
em Portugal (1867), que se encontra na Torre do Tombo, em Lisboa.