Quando
o século XVII decorria, estavam os Jesuítas longe de imaginar que o
Colégio de Santiago Maior, fundado pelo então Bispo do Algarve D.
Fernando Martins Mascarenhas, em Faro, haveria de ser uma sala de
espectáculos de beleza indiscutível. Assim haveria de ser, depois
de muitas voltas do destino, já no século XVI quando o espaço
abriu ao público como Teatro Lethes.
A
confiscação dos bens e a extinção da Companhia de Jesus ditaram
que o edifício do Colégio haveria de ficar fechado, corria o ano de
1759. O espaço foi ocupado pelas tropas napoleónicas comandadas
pelo general Junot e as suas instalações usadas para alojar os
soldados, numa ocupação que devassou e profanou o espaço.
Em
1843, o médico italiano Lázaro Doglioni arrematou em hasta pública
o edifício. Homem das artes, tinha o sonho de ver construído em
Faro um teatro à semelhança do São Carlos, em Lisboa. Chamou-lhe
Lethes, porque, escreveu a Revista Universal Lisbonense, "aquella
caza servirá de princípio, pela reunião das famílias, para o
esquecimento d'essas loucuras de políticas, que tanto nos tem
apoquentado".
A
antiga igreja do Colégio foi convertida então em sala de
espectáculos. No lugar do altor-mor ficava a 'Sala Verde' e o coro
foi transformado no respetivo palco. A inauguração haveria de ser
feita com pompa e circunstância, a 4 de abril de 1845, associando-se
às comemorações do aniversário da Rainha D. Maria II.
O
Teatro Lethes estava a nascer para conquistar fama, não só no
Algarve, mas por todo o País. O legado do Dr. Lázaro Doglini estava
agora nas mãos do sobrinho Justino Cúmano, também ele médico,
benemérito e protetor das artes, que não só manteve o legado do
tio, como ainda o ampliou. Ao Teatro, aumentou-lhe a capacidade de
espectadores, mandou construir uma caixa de ressonância abobodada e
duplicou os camarotes.
Era
a época do auge e o esplendor do Teatro, que tinha naquela altura
uma orquestra e uma equipa técnica. Antes da viragem do século, a
11 de setembro de 1898, o Lethes foi escolhido, por ser o mais
distinto espaço de Faro, para a primeira exibição daquilo a que
chamavam o animatógrafo, que hoje se pode traduzir para cinema.
No
início do século XX, a sala fechou para obras de restauro,
reabrindo com uma confortável plateia, quatro ordens de camarotes,
varandins de ferro forjado e tetos pintados com cenas musicais, da
autoria do pintor José Filipe Porfírio.
A
década de 20 marcaria o declínio do espaço, que encerra em 1925.
Mais de 25 anos depois, é vendido à Cruz Vermelha Portuguesa, que
ainda hoje detém o espaço. O Teatro haveria de 'regressar' a Faro e
ao público. Foi casa da escola de música da Associação do
Conservatório Regional do Algarve e espaço para os serviços
regionais do Ministério da Cultura, após o protocolo com a Direção
Regional da Cultura, que no início dos anos 90 fez algumas obras de
melhoria e beneficência do edifício.
O
Teatro manteve uma programação regular até 1998, mas a necessidade
de se proceder a uma consolidação do edifício, levou o espaço a
ser encerrado e novamente alvo de obras. O novo milénio marcaria
também a nova vida do Teatro Lethes, com a reabertura ao público.
Atualmente é gerido pela ACTA – A Companhia de Teatro do Algarve e
mantém uma programação cultural regular e diversa.