O
aspeto não é o mais bonito. Há até quem tenha medo deste ser com
ar pré-histórico. E na realidade, é um réptil com ares dos primos
que existiram há milhões de anos. Mas o camaleão-comum é
inofensivo e até pode ser amistoso. Porque estamos a falar dele?
Porque as únicas populações portuguesas desta espécie moram no
Algarve.
De
Armação de Pêra a Vila Real de Santo António, o camaleão-comum
anda por lá, quer nos pinhais costeiros ou nas dunas com vegetação.
Quando o sol obriga a abrir o chapéu e convida a estender a toalha
na areia é comum ele esconder-se ou usar a sua camuflagem para
passar despercebido. Mas há sempre quem com ele se cruze.
A
primeira referência à existência do camaleão-comum data de 1766,
mas há estudos que apontam para a possibilidade de cá já viver há
centenas de anos. Um estudo da genética desta espécie indica que é
originário da região marroquina da Essaouria, um importante porto
desde o século VII A. C. Por isso, é provável que o camaleão
tenha viajado a bordo de um qualquer barco que integrava a intensa
rota comercial do Mediterrâneo, como mascote, amuleto ou controlo de
pragas.
Muito
longe de ser procurado para animal de estimação, o camaleão é um
importante aliado no controlo de insetos, muito por conta da dieta
alimentar que segue. Moscas, borboletas, gafanhotos e pequenos
invertebrados são as refeições mais requeridas pela sua língua
comprida, veloz e viscosa.
Com
o corpo achatado e cauda preênsil, o camaleão tem uns grandes olhos
que rodam 180º graus e de forma independente, podendo estar a ver
para a frente e para trás em simultâneo. Mas a caraterística mais
conhecida é a possibilidade de mudar de cor, um fenómeno
relacionado com o local onde se encontra, a temperatura, o estado
anímico e a necessidade de comunicação. Ainda assim, o camaleão
não assume todas as cores do arco-íris, tendo uma paleta mais
restrita.
Pelo
seu aspeto ou por ninguém querer nada com ele, o camaleão tem vindo
a sofrer a ameaça humana, principalmente com a destruição dos seus
habitats naturais, substituídos pelo cimento e outras intervenções
urbanísticas. Ainda assim, foi pela defesa do habitat do camaleão
que foram travadas as demolições das habitações na Ilha do Farol,
em Olhão. Uma providência cautelar invocou que a destruição do
parque urbano daquela zona poria em causa o habitat do camaleão, que
por ali já se habituou a vaguear entre o cimento e os ilhéus.
Por
isso, se se cruzar com ele, contemple-o, registe o momento, mas
respeite o seu espaço e deixe-o ir à sua vida. É que das 150
espécies de camaleão que existem em todo o mundo, em Portugal só
há uma e mora no Algarve.
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