quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Camaleão escolheu o Algarve para viver


O aspeto não é o mais bonito. Há até quem tenha medo deste ser com ar pré-histórico. E na realidade, é um réptil com ares dos primos que existiram há milhões de anos. Mas o camaleão-comum é inofensivo e até pode ser amistoso. Porque estamos a falar dele? Porque as únicas populações portuguesas desta espécie moram no Algarve.

De Armação de Pêra a Vila Real de Santo António, o camaleão-comum anda por lá, quer nos pinhais costeiros ou nas dunas com vegetação. Quando o sol obriga a abrir o chapéu e convida a estender a toalha na areia é comum ele esconder-se ou usar a sua camuflagem para passar despercebido. Mas há sempre quem com ele se cruze.

A primeira referência à existência do camaleão-comum data de 1766, mas há estudos que apontam para a possibilidade de cá já viver há centenas de anos. Um estudo da genética desta espécie indica que é originário da região marroquina da Essaouria, um importante porto desde o século VII A. C. Por isso, é provável que o camaleão tenha viajado a bordo de um qualquer barco que integrava a intensa rota comercial do Mediterrâneo, como mascote, amuleto ou controlo de pragas.

Muito longe de ser procurado para animal de estimação, o camaleão é um importante aliado no controlo de insetos, muito por conta da dieta alimentar que segue. Moscas, borboletas, gafanhotos e pequenos invertebrados são as refeições mais requeridas pela sua língua comprida, veloz e viscosa.

Com o corpo achatado e cauda preênsil, o camaleão tem uns grandes olhos que rodam 180º graus e de forma independente, podendo estar a ver para a frente e para trás em simultâneo. Mas a caraterística mais conhecida é a possibilidade de mudar de cor, um fenómeno relacionado com o local onde se encontra, a temperatura, o estado anímico e a necessidade de comunicação. Ainda assim, o camaleão não assume todas as cores do arco-íris, tendo uma paleta mais restrita.

Pelo seu aspeto ou por ninguém querer nada com ele, o camaleão tem vindo a sofrer a ameaça humana, principalmente com a destruição dos seus habitats naturais, substituídos pelo cimento e outras intervenções urbanísticas. Ainda assim, foi pela defesa do habitat do camaleão que foram travadas as demolições das habitações na Ilha do Farol, em Olhão. Uma providência cautelar invocou que a destruição do parque urbano daquela zona poria em causa o habitat do camaleão, que por ali já se habituou a vaguear entre o cimento e os ilhéus.

Por isso, se se cruzar com ele, contemple-o, registe o momento, mas respeite o seu espaço e deixe-o ir à sua vida. É que das 150 espécies de camaleão que existem em todo o mundo, em Portugal só há uma e mora no Algarve.

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