A
Associação do Comércio e Serviços da Região do Algarve
(ACRAL) está a lançar o projeto Marca 'Produto Algarve', que
pretende acrescentar valor aos recursos endógenos.
O InAlgarve esteve
à conversa com Victor Guerreiro, presidente da Associação, que
explica como está a ser desenvolvido o projeto, que pretende criar
uma nova dinâmica na economia da região. Em discurso direto e
sem tabus, Victor Guerreiro identifica os problemas do Algarve e
aponta as soluções.
InAlgarve
- O que é a marca 'Produto Algarve'?
Victor
Guerreiro - Esta marca 'Produto Algarve' vem na sequência
daquilo que a associação entende que passa pela valorização dos
produtos da região. Nós temos excelentes produtos, mas não
conseguimos acrescentar valor a esses mesmos produtos, por exemplo,
no caso dos citrinos. Temos uma laranja, provavelmente das
melhores do mundo, há quem diga que é a melhor do mundo, mas de
qualquer forma quando ela entra em competição ou em termos de
análise com outras laranjas, é tudo laranjas. Eu não consigo
depois dizer esta laranja é do Algarve e
tem estas características. Este selo, chamado 'Produto
Algarve', terá exatamente a diferenciação do que é a
laranja do Algarve com a laranja do resto do país ou do resto do
mundo. Desse ponto de vista, faz todo o sentido, sendo uma
associação empresarial, criar dinâmica e mais valia aos produtos
da região no sentido de criar valor.
IA
- O que é preciso para os produtos terem o selo 'Produto Algarve'?
VG - O
projeto é feito três fases. Esta foi a primeira fase de
identificação e um estudo feito em termos dos produtos e da
região, com empresas, produções e produtos, com
lojas tradição onde os produtos se vendem. Depois
vai ter uma segunda fase, que é de facto as valências e as
condições para que o produto justifique ter um selo dessa natureza.
Estamos a desenvolver um projeto com a Universidade do Algarve, que
será a entidade, do nosso ponto de vista, independente, externa e
com know-now, de modo a que ela diga "da análise do
produto que fizemos, este justifica o selo, aquele não". O
selo 'Produto Algarve' não é só um selo, para os produtos será um
selo e para toda a economia. Uma empresa que tenha algum tipo de
mais valias, valências identificadas com a região pode
ter o selo. A segunda fase é esta.
A terceira
fase, chamar-se-á Algarve Exportador. Saímos de uma fase em que
fizemos um estudo. Normalmente há estudos para todos os gostos,
mas depois esses estudos não têm aplicabilidade em termos
de economia. Nós entendemos que tínhamos que passar
à fase seguinte. Depois de estar encontrada a forma de atribuir o
selo, põem-se o problema "como vamos vender os
produtos?". Nós temos na região pequenas quantidades de
produtos, temos que criar condições para que eles interajam
entre si e, quando se apresentem no mercado para vender fora, se
apresentem num conjunto e não isoladamente. O que nós entendemos é
que o Algarve Exportador terá de ter um stand com dimensão
porque vai representar uma região, cuja imagem desse stand
será a imagem turística e dentro do stand estão os
produtos da região.
O
que nós pretendemos é um pouco mais além, criando tecnologia
adequada ao sistema, no sentido de alguém que
produz dez dúzias de ovos não vai fazer nada, mas se
outro tiver, 5, 10, 20 e tal, há possibilidade e capacidade de
juntar tudo isso para acrescentar quantidade, no sentido
até de se ter possibilidade de poder exportar. No fundo, quando
vamos para uma feira internacional, o que se pretende é dizer "na
minha região Algarve, o que lá temos é isto, o produto que é
5 toneladas, uma tonelada, meia tonelada, o que for, mas é isto".
Não
se pretende massificar produto, não temos quantidade para isso. O
que pretendemos é acrescentar valor, isto é, hoje, eu com
dez toneladas faturo 100 euros, e o que eu pretendo é com as mesmas
dez toneladas faturar 150. Isso é acrescentar valor. Isto tem como
consequência que, uma associação empresarial tem uma missão
fundamental, prioritária, que é criar condições para que as
empresas façam negócio, ganhem dinheiro e criem emprego. Desse
ponto de vista, entendemos que é nesta conjuntura de união
e de promover uma região, acrescentando valor ao que já
existe, e que de certa forma, penso que toda a região,
nomeadamente o turismo será um turismo diferenciador,
introduzindo outras valências. Digamos que é tentar pôr a economia
da região funcionar para um bem comum, que é um bem
de todos, um bem da região, que é de facto o emprego. Na
minha opinião, não há razão nenhuma objetiva para o Algarve ter
emprego.
IA
- O Algarve já não é só praia e sol?
VG - É
muito ainda sol e praia, infelizmente, do meu ponto de vista. O
Algarve tem de deixar de ser só sol e praia. Dir-lhe-ia que, na
minha idade, assisti ao desenvolvimento do turismo, há umas
décadas, e isso implicou a desertificação do barrocal e
da serra algarvia. Na altura não havia gente especializada no
turismo, qualquer senhora que trabalhava de enxada assumiu
um emprego num hotel, recebia um ordenado fixo ao final do
mês e outras condições. Hoje, entendo que se não fizermos o
movimento ao contrário, não temos sustentabilidade nem no turismo
nem na região. O turismo é o que é, mais hotel, menos hotel, mais
percentagem, mais dormida, menos dormida, mas andamos por aqui.
Se conseguirmos criar condições para que o Algarve venda todas as
suas mais valências, o seu sol para a captação de emprego, de
empresas. Nós temos condições para isso, estamos a duas
horas/duas horas e meia de todas as capitais europeias e
com este clima.
Hoje
no Algarve, se alguém quiser fazer algum desporto, primeiro
aluga um quarto de hotel e depois vai à procura do desporto, nós
entendemos que tem de ser ao contrário. Primeiro tenho que
oferecer um pacote das várias atividades que tenho aqui e eu porque
quero fazer a atividade num clima fantástico, com um regime de
segurança, acabo por ter que alugar a casa, comer aqui e tenho que
fazer despesa. Temos de ter alternativas diferenciadoras.
Sem comentários:
Enviar um comentário