No
início de cada ano, há uma tradição que se repete. Pelas ruas, de
casa em casa ou em recintos fechados, grupos organizam-se para cantar
as Charolas, os cânticos tradicionais tocados e cantados para louvar
o nascimento de Jesus.
Pelo
País acima chamam-lhe 'Janeiras', mas a identidade algarvia quis que
tivessem o nome de 'Charolas', pela pequena caixa que transporta a
imagem de Jesus e que serve também para arrecadar as esmolas
pedidas. Diz a tradição que são cantadas na noite de 5 de janeiro,
véspera do Dia de Reis, mas os tempos modernos adaptaram-na para os
primeiros dias do Ano Novo.
A
tradição das Charolas remonta aos tempos medievais, quando se
cantavam as 'loas' para celebrar o nascimento de Jesus. No final de
cada atuação, atiravam-se 'chacotas' aos anfitriões e pedia-se
esmola. O momento de festa não escapa ao grupo, que se apresenta com
fitas coloridas a decorar os instrumentos musicais, os estandartes e
a própria 'charola'.
As
Charolas resistem aos tempos como uma das tradições mais enraizadas
e celebradas da quadra natalícia no Algarve, assumindo maior
expressão no Sotavento. O reportório muda em cada grupo, mas a
essência destes cânticos é a mesma: a celebração do nascimento
de Jesus e a anunciação da boa nova. Ainda assim, todos os grupos
têm elementos comuns: os estandartes, a charola e o apito, entregue
ao 'começador' do grupo para dar início e terminar as canções.
E
apesar de serem uma manifestação meramente popular, as Charolas
chegaram a estar proibidas no início do séc. XX, após a
implantação da República, que pretendeu proibir todas as
manifestações religiosas fora da igreja. Mas em 1918, voltaram à
rua para não mais se perderem.
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