No
ano em que se assinalam os 50 anos da última armação de pesca de
atum no arraial do Barril, em Tavira, a Lais de Guia - Associação
Cultural do Património Marítimo prepara-se para desenterrar os
segredos e a história de um dos locais mais emblemáticos de onde
partiam as armações para a pesca desta espécie e onde ainda hoje
repousa um cemitério de âncoras.
Para
dar a conhecer este património, a Lais de Guia, criada para
desenvolver um trabalho de salvaguarda e divulgação do espólio
histórico, oral, social e cultural, vai realizar passeios pela
antiga armação do Barril, situada na Praia que lhe deve o nome.
"Começamos no tanque das lavadeiras e falamos na história da
armação, o seu enquadramento histórico", começa por revelar
Brígida Baptista, uma das fundadoras da associação e pós-graduada
em Arqueologia Náutica e Subaquática e mestre em Arqueologia.
"Depois
seguimos para a parte da frente das casas, que era a casa dos patrões
e onde está agora o Restaurante Museu, que tem algumas peças
cedidas pela comunidade", continua Brígida, adiantando que ali
se pode descobrir o funcionamento de uma armação: "Vemos a
maquete da armação e há uma explicação de como funcionava, como
era montada, quantas âncoras, quantos metros de cabo e quantas redes
levava e alguns tipos de malhagem".
Uma
parte do arraial era composto pelas casas, conhecidas como as 'casas
dos camaradas' onde habitavam as famílias dos pescadores durante as
campanhas, que decorriam entre abril e setembro de cada ano. "Eram
casas muito pequenas onde viviam sempre uma ou duas famílias",
conta a mestre em Arqueologia.
O
ponto que mais curiosidade desperta a quem visita a Praia do Barril é
o cemitério de âncoras, que a maioria julga pertencer a
embarcações. Mas não é bem assim, como nos explica Brígida: "Não
são âncoras de embarcações, são âncoras para segurar as redes.
Eram colocadas no mar para fazer uma grande cortina de rede para
travar os cardumes de atum". Nesta região, as armações de
atum apanhavam dois tipos de atum, "o atum de direito, que ia
gordo para o Mar Mediterrâneo desovar", e o "atum de
revés, que vinha magro para subir para o Mar do Norte", conta
Brígida, cujo passado pessoal está também ligado a esta armação.
O
ano de 1966 marcou o fim da armação no Barril. A sobrepesca da
espécie é a explicação mais usual para o fim da pesca do atum,
mas Brígida Baptista considera que há outras explicações como o
facto de "muitas pessoas deixarem de ir [às armações]" e
"com os ciclos" da espécie, uma vez que nesse último ano
de pesca, houve armações que só capturaram "dois atuns, um
atum".
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