domingo, 20 de março de 2016

À descoberta dos segredos da Rota do Atum


No ano em que se assinalam os 50 anos da última armação de pesca de atum no arraial do Barril, em Tavira, a Lais de Guia - Associação Cultural do Património Marítimo prepara-se para desenterrar os segredos e a história de um dos locais mais emblemáticos de onde partiam as armações para a pesca desta espécie e onde ainda hoje repousa um cemitério de âncoras.
 
Para dar a conhecer este património, a Lais de Guia, criada para desenvolver um trabalho de salvaguarda e divulgação do espólio histórico, oral, social e cultural, vai realizar passeios pela antiga armação do Barril, situada na Praia que lhe deve o nome. "Começamos no tanque das lavadeiras e falamos na história da armação, o seu enquadramento histórico", começa por revelar Brígida Baptista, uma das fundadoras da associação e pós-graduada em Arqueologia Náutica e Subaquática e mestre em Arqueologia.
 
"Depois seguimos para a parte da frente das casas, que era a casa dos patrões e onde está agora o Restaurante Museu, que tem algumas peças cedidas pela comunidade", continua Brígida, adiantando que ali se pode descobrir o funcionamento de uma armação: "Vemos a maquete da armação e há uma explicação de como funcionava, como era montada, quantas âncoras, quantos metros de cabo e quantas redes levava e alguns tipos de malhagem".
 
Uma parte do arraial era composto pelas casas, conhecidas como as 'casas dos camaradas' onde habitavam as famílias dos pescadores durante as campanhas, que decorriam entre abril e setembro de cada ano. "Eram casas muito pequenas onde viviam sempre uma ou duas famílias", conta a mestre em Arqueologia.
 
O ponto que mais curiosidade desperta a quem visita a Praia do Barril é o cemitério de âncoras, que a maioria julga pertencer a embarcações. Mas não é bem assim, como nos explica Brígida: "Não são âncoras de embarcações, são âncoras para segurar as redes. Eram colocadas no mar para fazer uma grande cortina de rede para travar os cardumes de atum". Nesta região, as armações de atum apanhavam dois tipos de atum, "o atum de direito, que ia gordo para o Mar Mediterrâneo desovar", e o "atum de revés, que vinha magro para subir para o Mar do Norte", conta Brígida, cujo passado pessoal está também ligado a esta armação.
 

O ano de 1966 marcou o fim da armação no Barril. A sobrepesca da espécie é a explicação mais usual para o fim da pesca do atum, mas Brígida Baptista considera que há outras explicações como o facto de "muitas pessoas deixarem de ir [às armações]" e "com os ciclos" da espécie, uma vez que nesse último ano de pesca, houve armações que só capturaram "dois atuns, um atum".

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