Com
cerca de 200 quilómetros de costa, a ligação do Algarve ao mar é
visceral. Por ele vieram povos que habitaram a região ao longo de
séculos, por ele se descobriu o mundo e para ele se deslocam
muitos pescadores todos os dias para trazer até terra sabores
fantásticos que valorizam a gastronomia regional e contribuem para a
atividade enonómica da região.
Os
vestígios piscatórios no Algarve remontam a outros milénios. Não
se sabe bem quando teve início a atividade, mas chegam até aos dias
de hoje os tanques de salga de peixe a vestígios de preparação de
pastas de peixe do período romano ou cerâmicas de cozinha islâmica
associadas a cascas de conquilhas, ostras ou amêijoas. Porque nem só
no mar se encontram os produtos que todos os se podem encontrar
frescos nos inúmeros mercados da região. As rias Formosa e de Alvor
são também fantásticos viveiros naturais de espécies e às rochas
da Costa Vicentina agarram-se os percebes,
uma das 50 experiências gastronómicas obrigatórias da Europa.
Para
as águas vão traineiras, barcas, lanchas, saveiros e
saveirinhos, botes, chatas, barcaças, calões, e muitos outros
consoante a função piscatória que cumprem. Dizia o mestre
Vitorino, do atelier Construção Naval em Miniatura, que os barcos
algarvios são "espertos, rápidos e fáceis de navegar" e
apresentam "um bonito contraste de cores".
A terra
chegam todo o tipo de peixes que enchem as bancas dos mercados
tradicionais, onde diariamente se podem encontrar espécies para
compor pratos tradicionais, que fazem as delícias de quem os prova:
caldeiradas de vários nomes, cataplanas de diversas origens e muitas
outras receitas de peixe grelhado, frito ou cozido, que se
podem encontrar em qualquer restaurante.
Entre
os muitos portos algarvios, há que se destaca pela sua
exclusividade: Santa
Luzia.
O porto piscatório da aldeia situada junto à Ria Formosa é o único
a nível nacional a dedicar-se unicamente à pesca do polvo. Por
lá, já não restam alcatruzes, mas permanecem os covos para atrair
aquele molusco. Ali perto, permanecem os edifícios dos
antigos arraiais
da pesca de atum.
Esta arte, que era praticada ao longo de vários meses entre a
primavera e o final do verão e obrigava a uma enorme logística,
deixou de existir na década de 70 devido à escassez do atum.
Os
pescadores constituíram pequenas vilas, que continuam a
povoar a paisagem urbana do Algarve. Outras cresceram com o
desenrolar dos tempos, mas mantêm a sua ligação ao mar e as
tradições tão acarinhadas por quem conhece a difícil arte de ir
ao mar buscar peixe. Não é por isso de estranhar, a quantidade de
devoções e festas religiosas associadas às atividades marítimas,
como a festa da Nossa Senhora da Conceição, em Quarteira, a festa
da Nossa Senhora da Orada, em Albufeira, a festa da Nossa Senhora dos
Navegantes, em Armação de Pêra e Olhão, a festa da
Nossa Senhora dos aflitos ou a festa da Nossa Senhora da Boa Viagem,
entre muitas outras.
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