terça-feira, 31 de maio de 2016

Algarve, terra de pescadores


Com cerca de 200 quilómetros de costa, a ligação do Algarve ao mar é visceral. Por ele vieram povos que habitaram a região ao longo de séculos, por ele se descobriu o mundo e para ele se deslocam muitos pescadores todos os dias para trazer até terra sabores fantásticos que valorizam a gastronomia regional e contribuem para a atividade enonómica da região.  
Os vestígios piscatórios no Algarve remontam a outros milénios. Não se sabe bem quando teve início a atividade, mas chegam até aos dias de hoje os tanques de salga de peixe a vestígios de preparação de pastas de peixe do período romano ou cerâmicas de cozinha islâmica associadas a cascas de conquilhas, ostras ou amêijoas. Porque nem só no mar se encontram os produtos que todos os se podem encontrar frescos nos inúmeros mercados da região. As rias Formosa e de Alvor são também fantásticos viveiros naturais de espécies e às rochas da Costa Vicentina agarram-se os percebes, uma das 50 experiências gastronómicas obrigatórias da Europa.  
Para as águas vão traineiras, barcas, lanchas, saveiros e saveirinhos, botes, chatas, barcaças, calões, e muitos outros consoante a função piscatória que cumprem. Dizia o mestre Vitorino, do atelier Construção Naval em Miniatura, que os barcos algarvios são "espertos, rápidos e fáceis de navegar" e apresentam "um bonito contraste de cores". 
A terra chegam todo o tipo de peixes que enchem as bancas dos mercados tradicionais, onde diariamente se podem encontrar espécies para compor pratos tradicionais, que fazem as delícias de quem os prova: caldeiradas de vários nomes, cataplanas de diversas origens e muitas outras receitas de peixe grelhado, frito ou cozido, que se podem encontrar em qualquer restaurante.  
Entre os muitos portos algarvios, há que se destaca pela sua exclusividade: Santa Luzia. O porto piscatório da aldeia situada junto à Ria Formosa é o único a nível nacional a dedicar-se unicamente à pesca do polvo. Por lá, já não restam alcatruzes, mas permanecem os covos para atrair aquele molusco. Ali perto, permanecem os edifícios dos antigos arraiais da pesca de atum. Esta arte, que era praticada ao longo de vários meses entre a primavera e o final do verão e obrigava a uma enorme logística, deixou de existir na década de 70 devido à escassez do atum.  
Os pescadores constituíram pequenas vilas, que continuam a povoar a paisagem urbana do Algarve. Outras cresceram com o desenrolar dos tempos, mas mantêm a sua ligação ao mar e as tradições tão acarinhadas por quem conhece a difícil arte de ir ao mar buscar peixe. Não é por isso de estranhar, a quantidade de devoções e festas religiosas associadas às atividades marítimas, como a festa da Nossa Senhora da Conceição, em Quarteira, a festa da Nossa Senhora da Orada, em Albufeira, a festa da Nossa Senhora dos Navegantes, em Armação de Pêra e Olhão, a festa da Nossa Senhora dos aflitos ou a festa da Nossa Senhora da Boa Viagem, entre muitas outras. 

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