Já
foi um fiel companheiro e trabalhador, esteve à beira da extinção
e agora ganha novo espaço nos holofotes mundiais. A longa vida do
Cão de Água do Algarve tem tido altos e baixos, mas a raça
conseguiu ultrapassar os obstáculos e manter-se sempre à tona.
Desconhece-se
em concreto a origem do Cão d'Água Algarvio, mas pensa-se que fosse
utilizado por pescadores da bacia do Mediterrâneo e que tenha
chegado ao Algarve através de viagens marítimas. No Império
Romano, já era conhecido como o 'cão leão', devido ao seu pêlo.
Em Portugal, aparece pela primeira vez no registo de um monge, em
1297. Séculos mais tarde, em 1828, a sua existência ficou patente
na gravura que regista a chegada de D. Miguel a Belém, Lisboa.
O
escritor Raúl Brandão dedica-lhe algumas linhas na obra 'Os
Pescadores', em 1932, referindo a atividade piscatória em Olhão:
"Tripulavam-no vinte e cinco homens e dois cães, que ganhavam
tanto como os homens. Era uma raça de bichos peludos, atentos um a
cada bordo e ao lado dos pescadores. Fugia o peixe ao alar da linha,
saltava o cão ao mar e ia agarrá-lo ao meio da água, trazendo-o na
boca para bordo".
O
Cão de Água do Algarve era uma mais valia para os pescadores, ora
levando e trazendo mensagens entre barcos, ora puxando redes rasgadas
do mar ou cordas que seguravam os barcos em terra. A sua importância
era tal que havia a tradição de não vender esta raça, mas antes
ser dada num sinal claro que o seu valor era inestimável e não
tinha preço.
O
cão é conhecido pela sua inteligência excecional, lealdade e
amizade ao dono, coragem e determinação exemplares e pela sua
personalidade singular. É um exímio nadador e muito resistente à
fadiga, usa uma linguagem diferente da habitual entre os cães, e
costuma aprender com grande rapidez. Mas as suas reconhecidas
qualidades nem sempre foram devidamente respeitadas.
Com
o surgimento da maquinaria no início do século XX que também
chegou ao setor das pescas, a histórica utilidade ao Cão de Água
do Algarve foi diminuindo, o que contribuiu para a redução drástica
da sua população. Vasco Bensaúde, empresário açoriano,
interessou-se pelo animal e durante várias décadas manteve uma
criação da raça, mas a sua morte, na década de 60, quase levou
este cão à extinção. Foi Conchita Citrón, uma empresária
peruana ligada à tauromaquia, que ficou com os exemplares. Em 1974
havia apenas 14 cães, o que levou o Guiness a atribuir o prémio de
raça mais rara do mundo ao Cão de Água do Algarve. Pode ter sido
um exagero, mas contribui para o reconhecimento desta raça.
E
afinal pode ter sido o seu valor monetário a livrar este cão da
extinção. Conchita iniciou o negócio de venda de animais para os
Estados Unidos, estabelecendo-se aí uma colónia do Cão de Água do
Algarve. Outros produtores resgataram a espécie e chegou mesmo a ser
constituída a Associação para a Proteção do Cão de Água
Português, como é conhecido fora de Portugal.
A
espécie estava a caminho da ribalta. A família Obama foi
presenteado um Cão de Água do Algarve, que nomeou com o título
honorário de 'primeiro-cão' dos Estados Unidos da América (EUA),
após a chegada à Casa Branca. E como, 'Bo', assim se chama o
animal, precisa de companhia, ganhou uma nova amiga da mesma espécie,
de nome Sunny.
Atualmente,
a Quinta do Marim, no Parque Natural da Ria Formosa, tem aberto
um canil para manter e reproduzir o Cão de Água do Algarve.
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