sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O Cão que leva o nome Algarve pelo mundo


Já foi um fiel companheiro e trabalhador, esteve à beira da extinção e agora ganha novo espaço nos holofotes mundiais. A longa vida do Cão de Água do Algarve tem tido altos e baixos, mas a raça conseguiu ultrapassar os obstáculos e manter-se sempre à tona.

Desconhece-se em concreto a origem do Cão d'Água Algarvio, mas pensa-se que fosse utilizado por pescadores da bacia do Mediterrâneo e que tenha chegado ao Algarve através de viagens marítimas. No Império Romano, já era conhecido como o 'cão leão', devido ao seu pêlo.  Em Portugal, aparece pela primeira vez no registo de um monge, em 1297. Séculos mais tarde, em 1828, a sua existência ficou patente na gravura que regista a chegada de D. Miguel a Belém, Lisboa.

O escritor Raúl Brandão dedica-lhe algumas linhas na obra 'Os Pescadores', em 1932, referindo a atividade piscatória em Olhão: "Tripulavam-no vinte e cinco homens e dois cães, que ganhavam tanto como os homens. Era uma raça de bichos peludos, atentos um a cada bordo e ao lado dos pescadores. Fugia o peixe ao alar da linha, saltava o cão ao mar e ia agarrá-lo ao meio da água, trazendo-o na boca para bordo".

O Cão de Água do Algarve era uma mais valia para os pescadores, ora levando e trazendo mensagens entre barcos, ora puxando redes rasgadas do mar ou cordas que seguravam os barcos em terra. A sua importância era tal que havia a tradição de não vender esta raça, mas antes ser dada num sinal claro que o seu valor era inestimável e não tinha preço.

O cão é conhecido pela sua inteligência excecional, lealdade e amizade ao dono, coragem e determinação exemplares e pela sua personalidade singular. É um exímio nadador e muito resistente à fadiga, usa uma linguagem diferente da habitual entre os cães, e costuma aprender com grande rapidez. Mas as suas reconhecidas qualidades nem sempre foram devidamente respeitadas.

Com o surgimento da maquinaria no início do século XX que também chegou ao setor das pescas, a histórica utilidade ao Cão de Água do Algarve foi diminuindo, o que contribuiu para a redução drástica da sua população. Vasco Bensaúde, empresário açoriano, interessou-se pelo animal e durante várias décadas manteve uma criação da raça, mas a sua morte, na década de 60, quase levou este cão à extinção. Foi Conchita Citrón, uma empresária peruana ligada à tauromaquia, que ficou com os exemplares. Em 1974 havia apenas 14 cães, o que levou o Guiness a atribuir o prémio de raça mais rara do mundo ao Cão de Água do Algarve. Pode ter sido um exagero, mas contribui para o reconhecimento desta raça.

E afinal pode ter sido o seu valor monetário a livrar este cão da extinção. Conchita iniciou o negócio de venda de animais para os Estados Unidos, estabelecendo-se aí uma colónia do Cão de Água do Algarve. Outros produtores resgataram a espécie e chegou mesmo a ser constituída a Associação para a Proteção do Cão de Água Português, como é conhecido fora de Portugal.

A espécie estava a caminho da ribalta. A família Obama foi presenteado um Cão de Água do Algarve, que nomeou com o título honorário de 'primeiro-cão' dos Estados Unidos da América (EUA), após a chegada à Casa Branca. E como, 'Bo', assim se chama o animal, precisa de companhia, ganhou uma nova amiga da mesma espécie, de nome Sunny.

Atualmente, a Quinta do Marim, no Parque Natural da Ria Formosa, tem aberto um canil para manter e reproduzir o Cão de Água do Algarve.

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