segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Balsa, a cidade perdida ainda pode ser salva


A Balsa ocupava cerca de 45 hectares, não incluindo os subúrbios, dos terrenos que nos dias de hoje são conhecidos como Torre de Aires, Antas e Arroios, na freguesia da Luz de Tavira e, no seu apogeu, seria maior que Olissipo ( Lisboa), ou Ossonoba (Faro). A sua existência é citada por Pompónio Mela, Plínio-o-Velho e Ptolomeu, nos séculos I e II D.C. Nessa época já cunhava a sua própria moeda e tinha sido elevada ao que hoje podemos comparar com município.
 
O nome terá origens fenícias, o primeiro povo a instituir ali um povoado até à conquista romana. A partir daí, a cidade ganhou importância, sofreu um grande desenvolvimento urbano e conheceu um crescimento demográfico. Balsa era então um importante centro económico a sul da Lusitânia, onde circulava a elite mercantil e eram transacionados metais, carne e tecidos.
 
Do apogeu urbanístico ainda é possível saber que a cidade estava ligada por várias vias ao resto da da Lusitânia, tinha um porto interior, um teatro, dois fóruns, circo, termas e duas fábricas de produção e conservas de peixe, uma atividade tradicional na região. Nos arredores, existiriam também uma barragem, aqueduto, necrópoles, fornos industriais e villas, edificações tipicamente romanas geradas pela alta burguesia. 
 
Depois, começou o declínio, que ainda teve períodos de recuperação económica. As razões para a queda da Balsa não são completamente conhecidas, mas há indícios que tenham sido financeiras, políticas, económicas, sociais, fiscais e demográficas, a que se juntaram epidemias e sismos, numa altura em que os alicerces do próprio Império Romano começavam a ruir.
 
A Balsa permaneceu esquecida durante séculos até ser descoberta já no século XIX por Sebastião Estácio da Veiga e Augusto Teixeira de Aragão, numa época que o crescimento da atividade agrícola no Algarve contribuiu para a destruição dos vestígios. A partir daí, a cidade tem sido alvo de pilhagens e outras ações de destruição, sem que o seu património fosse devidamente estudado e salvaguardado. 
 
Os vestígios arqueológicos mantiveram-se enterrados até à decada de 70, quando a zona passou a ter interesse urbanístico e foi permitida a construção de urbanizações. Ainda assim, em 1977, foi feita uma prospeção, que permitiu dar consistência ao conhecimento arqueológico da Balsa. Em 1989, foi feita nova prospeção que permitiu chegar a importantes descobertas, apesar da destruição já causada pelas construções.
 
Persistem alguns objetos romanos valiosos em coleções arqueológicas privadas e públicas. No Museu Nacional de Arqueologia, em Lisboa, estão conservados alguns vestígios da coleção que Sebastião Estácio da Veiga recolheu quando fez as primeiras descobertas.
 
Os vestígios e a história não têm sido suficientes para que as entidades e organizações competentes tenham consertado uma ação para explorar e investigar aquela que pode ter sido a cidade mais importante do seu tempo no Sul da Lusitânia. Em contrapartida, as entidades competentes aprovaram em 2014 a ocupação dos solos com explorações agrícolas privadas, apesar de integrarem atualmente a Reserva Ecológica Nacional do Parque Natural da Ria Formosa. 
 
A Associação Campo Arqueológico de Tavira desenvolveu, até 2011, atividades para recuperar a memória da Balsa e promover explorações para alargar o conhecimento sobre a cidade. Atualmente, existe a circular uma petição pública  - em Petição Pública -, com o objetivo de salvar a Balsa e que já conta com mais de 400 assinaturas. 


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